A saúde sustentável começa na formação de gestores
Por Mara Machado
A sustentabilidade da saúde não pode ser um discurso vazio e conveniente para gestores ineficientes. É uma necessidade urgente e inegociável. Sem um planejamento realista e líderes preparados para enfrentar os desafios do setor, seguiremos apagando incêndios para preservar um sistema de saúde cada vez mais fragilizado.
Os gestores de saúde precisam parar de pensar apenas em eficiência operacional e balanços financeiros. A saúde sustentável exige coragem para tomar as decisões certas e romper com modelos ultrapassados, que perpetuam a desigualdade e o desperdício.
As mudanças climáticas já estão afetando gravemente a saúde de bilhões de pessoas no mundo, e os gestores que insistem em ignorar esse fato são parte do problema. O aumento da temperatura, a poluição desenfreada, o avanço de doenças infecciosas e a insegurança alimentar sobrecarregam hospitais e esgotam recursos, aumentando gradualmente a pressão sobre os sistemas naturais, econômicos e sociais que sustentam a saúde.
Precisamos estar preparados para antecipar e mitigar esses impactos, fortalecendo sistemas de vigilância epidemiológica, políticas de adaptação e infraestruturas de saúde resilientes a eventos climáticos extremos.
É necessário um olhar abrangente, que inclua prevenção e promoção da saúde, redução de desigualdades no acesso à assistência e inovação tecnológica responsável. A crescente digitalização da saúde, por exemplo, pode otimizar recursos e ampliar o acesso aos serviços, mas também impõe desafios relacionados à segurança de dados e inclusão digital.
Para que os gestores possam enfrentar esses desafios, é fundamental que a formação acadêmica e profissional seja revista e atualizada. Modelos educacionais do século XX não são suficientes para resolver problemas complexos do século XXI. É necessária uma abordagem interdisciplinar que integre conhecimentos das ciências sociais, humanas e naturais, preenchendo as lacunas dessas áreas para que os líderes sejam verdadeiramente capacitados para atuar com responsabilidade ética e compromisso com a saúde coletiva.
A cooperação entre governos, indústria, hospitais, operadoras de saúde e a sociedade também é essencial para a construção de soluções sustentáveis. Decisões isoladas e de curto prazo podem comprometer a viabilidade do sistema como um todo. Dessa forma, investir na qualificação de gestores com uma visão integrada e baseada em evidências é necessidade urgente.
Não podemos ser complacentes com estratégias educacionais ultrapassadas ou com gestão ineficaz. A saúde sustentável começa na formação dos gestores, na capacidade de tomar decisões informadas e no compromisso com um futuro mais justo e saudável para todos.
*Mara Machado é CEO e fundadora do Instituto Qualisa de Gestão (IQG).