Saúde Suplementar em 2025: desafios, oportunidades e perspectivas para o setor
O setor de saúde suplementar no Brasil chega a 2025 diante de desafios importantes. O envelhecimento da população, o aumento dos custos assistenciais e a pressão regulatória colocam operadoras de planos de saúde em um cenário de grande transformação. Ao mesmo tempo, a inovação tecnológica e novos modelos de gestão surgem como alternativas viáveis para garantir a sustentabilidade do setor nos próximos anos.
O que aconteceu em 2024?
Antes de mergulharmos nas expectativas para 2025, é interessante dar uma olhada no que aconteceu em 2024, ano que, sem dúvida, preparou o terreno para os próximos passos. O cenário econômico foi desafiador. O déficit fiscal elevado, a alta do dólar, a elevação no valor dos insumos, impactaram de forma importante o setor de saúde. Isso porque, vale lembrar, o Brasil depende de 90% de insumos importados para a produção de medicamentos, como já divulgado pelo relatório da organização internacional Oxfam. Além disso, grande parte dos equipamentos e tecnologias aplicadas nas instituições de saúde vem de fora.
A respeito, me veio à memória o discurso da ministra da Saúde, Nísia Trindade, na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Na fala, Nísia reforçou que essa dependência representa um dos pontos de vulnerabilidade de todo o setor de saúde do Brasil.
Outros fatores, como o aumento da demanda pela assistência em saúde, da sinistralidade, os custos crescentes e debates em esferas legislativas, também marcaram o ano de 2024. Em meio a esses desafios, a saúde suplementar manteve seu crescimento de forma contínua. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o setor registrou 51,5 milhões de beneficiários em planos de assistência médica. Esse aumento corresponde a cerca de 850 mil beneficiários a mais que em outubro de 2023. Além disso, as operadoras e administradoras de benefícios conseguiram recuperar-se dos reflexos da pandemia, registrando um lucro líquido de R$ 8,7 bilhões nos três primeiros trimestres de 2024, um aumento de 178% em comparação com 2023. Por minha vivência no setor e pelos dados oficiais, digo que 2024 nos preparou para um movimento de retomada positiva, que será impulsionado em 2025.
O que esperar de 2025?
Em 2025, o envelhecimento da população e a sinistralidade seguem como pontos de atenção para a saúde suplementar. Dados do IBGE já demonstram que mais de 15% da população brasileira está acima dos 60 anos. Uma população que, de forma geral, necessita de cuidados mais prolongados, manejo de doenças crônicas, tratamentos de alta complexidade. O que, inevitavelmente, aumenta os custos assistenciais. Nessa equação, temos ainda o fator sinistralidade (o índice de custos com serviços médicos em relação à receita do plano de saúde), que pode impactar diretamente na sustentabilidade das operadoras de planos de saúde em 2025.
Desde já as operadoras precisam se concentrar em estratégias para reduzir a sinistralidade. Investir em serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) e estimular os beneficiários a adotarem hábitos mais saudáveis são medidas essenciais. Além disso, aprimorar o uso da rede credenciada do plano também pode contribuir para reduzir custos e melhorar a experiência do paciente.
Ainda falando em desafios, para garantir a sustentabilidade do setor de saúde suplementar, será muito importante desenvolver novos modelos de trocas econômicas intrasetoriais. O foco deve ser em remunerar médicos e serviços com base no valor entregue ao paciente ou em modelos fundamentados no desempenho assistencial e na qualidade do cuidado. Sem essa evolução, corremos o risco de não atender plenamente às necessidades do setor, deixando de entregar valor tanto aos cooperados quanto aos beneficiários. Para viabilizar essa transformação, é crucial aprimorar a agenda regulatória, fortalecer os processos de acreditação e revisar os modelos de remuneração. O modelo tradicional de fee-for-service, que prioriza o volume de serviços realizados sem considerar a necessidade clínica ou os resultados de saúde, precisa ser repensado. A remuneração deve se basear no desempenho e nos resultados alcançados, garantindo que estejam diretamente vinculadas à qualidade do cuidado oferecido.
Outro ponto a ser observado é que o crescimento da saúde suplementar está diretamente vinculado ao emprego com carteira assinada em nosso país. E, estamos em um momento com a menor taxa de desemprego da história, o que pode não se repetir ao longo de 2025. Isso porque, observamos pela frente um cenário internacional complexo, além dos desafios nacionais como o aumento da inflação e dos juros, fatores que podem esfriar a economia e reduzir o emprego formal. Nesse contexto, investir em ações e iniciativas que proporcionem o desenvolvimento e crescimento do setor de saúde suplementar é de extrema importância para gerar mais postos de emprego e, consequentemente, renda para a população do país.
Discorri sobre alguns obstáculos, mas é importante ressaltar que 2025 também se inicia com novas oportunidades. Não posso deixar de citar a forte presença da tecnologia no setor de saúde. Será possível observar, por exemplo, um impacto crescente das soluções de Inteligência Artificial (IA) no auxílio às operadoras em análises preditivas de custos e otimização de recursos. A IA não só promete melhorar a eficiência operacional das operadoras, mas também aprimorar a experiência dos pacientes, tornando os serviços mais rápidos e personalizados.
Um recorte sobre o Sistema Unimed
No contexto desafiador da saúde suplementar, as operadoras Unimed têm se destacado com estratégias de inovação e eficiência. A verticalização de serviços, o investimento em governança clínica e o uso de tecnologia têm permitido que muitas Unimeds mantenham equilíbrio financeiro e entreguem serviços de qualidade.
A estrutura cooperativista também se mostra um diferencial importante. Enquanto muitas operadoras de planos de saúde enfrentam dificuldades de sustentabilidade, o modelo Unimed fortalece a sinergia entre operadoras e prestadores, garantindo um ecossistema mais resiliente. E os números demonstram isso. A Unimed foi destaque na principal avaliação setorial realizada anualmente pela ANS, falo aqui do Índice de Desempenho da Saúde Suplementar (IDSS 2024, ano-base 2023). Entre as 18 operadoras médico-hospitalares que obtiveram nota máxima na avaliação, 16 são cooperativas Unimed, totalizando 89% de participação. Vale reforçar que das 269 operadoras do Sistema Unimed avaliadas pela ANS, 223 estão classificadas nas duas melhores faixas de desempenho, são 83% em comparação aos 71% do segmento.
Os bons resultados também se refletem no aumento de beneficiários, o Sistema Unimed entra em 2025 com mais de 20 milhões de beneficiários. Na equipe de profissionais, conta com mais de 117 mil médicos cooperados, que equivalem a 21% dos médicos do Brasil. Além disso, o Sistema Unimed possui 38% de participação no mercado nacional de planos de saúde e já gerou mais de 143 mil empregos diretos. Para 2025, digo ainda que as expectativas no desenvolvimento contínuo e expansão do Sistema se mantém.
Gestão profissionalizada como caminho para a sustentabilidade
Ao longo desse ano, observaremos uma movimentação direcionada a profissionalização das gestões das cooperativas Unimeds. Cada dia mais, as singulares compreendem a necessidade de fomentar uma capacitação contínua dos seus gestores. E, nesse âmbito, a Faculdade Unimed, em seu papel de Casa do Conhecimento do Sistema Unimed, realiza um trabalho fundamental. A instituição promove uma jornada de iniciativas educacionais, de capacitação e assessorias, para preparar dirigentes e cooperativas para enfrentarem os desafios. A aposta na formação e na qualificação dessas lideranças, a partir de uma instituição de ensino que compreende o DNA e as especificidades do Sistema, reforça o compromisso com a sustentabilidade do negócio.
No momento, podemos concluir que…
O setor de saúde suplementar está em plena transformação, e 2025 será um ano crucial para moldar o futuro. Os desafios seguem se apresentando, mas observamos também novas oportunidades emergirem por meio da inovação, de uma maior abertura para mudanças e da adoção de modelos mais sustentáveis. Movimentos que buscam aproximar a relação das operadoras de planos de saúde com os beneficiários e, proporcionar ao paciente uma assistência com foco ainda maior em qualidade e eficiência, sempre priorizando a segurança e melhor experiência.
O Sistema Unimed, com sua estrutura cooperativista e capacidade de adaptação, segue como referência no mercado, apontando caminhos para uma gestão mais equilibrada e conectada às mudanças da sociedade. Em 2025, o sucesso das operadoras Unimeds estará também vinculado a capacidade de fazer com que os desafios se tornem oportunidades e liderar a transformação do setor. Assim como apostar na capacitação contínua das pessoas que movimentam esse Sistema, principalmente nos dirigentes. Afinal, uma gestão mais profissionalizada, atenta à inovação e aberta ao diálogo, possibilita o alcance de melhores resultados para a singular, o que contribui para o desenvolvimento e fortalecimento de todo o Sistema Unimed.
*Fábio Leite Gastal é Diretor acadêmico da Faculdade Unimed, Presidente do Conselho e Diretor-geral da Organização Nacional de Acreditação (ONA) e Superintendente de Novos Negócios da Seguros Unimed.