Novas soluções para velhos problemas na Saúde

Por Renan F. Oliveira

Com o crescente investimento em digitalização na área da saúde, surgem diversas possibilidades de negócios e ferramentas para resolver dores que assolam o setor há muitos anos. A tecnologia pode ser aliada em diversas frentes, e essa transformação já está em andamento. As chamadas healthtechs, startups focadas em desenvolver soluções para o segmento, desempenham papéis fundamentais com soluções capazes de ampliar o alcance dos serviços de assistência médica e garantir mais conscientização da população e entrega de cuidados remotamente e a baixo custo.

O ecossistema de saúde no Brasil passa por alguns problemas conhecidos. A escassez de recursos, a longa espera nos postos, a falta de profissionais capacitados em regiões afastadas de centros urbanos e a demora entre os agendamentos e a realização de exames e as consultas médicas, além de outras questões, são fatores que criam áreas de vazios assistenciais, em que o acesso da população aos serviços necessários é comprometido. Com a saúde visual não é diferente. Os olhos são estruturas muito delicadas do corpo humano e exigem cuidados e supervisão de especialistas, mas boa parte das pessoas não consegue arcar com os custos, sequer sabem da importância da prevenção.

Cerca de 80% das informações que o cérebro recebe são por meio do olhar. Por mais que a visão desempenhe uma função central em nossas vidas, pois afeta diretamente a aprendizagem, o trabalho e a própria forma de se relacionar, pouco se fala sobre as desigualdades no que se refere ao acesso a serviços de saúde ocular no país e no mundo. Quando falamos sobre educação, sabe-se que 60% das dificuldades de aprendizado em sala de aula acontecem por causa de problemas de visão que não são diagnosticados e tratados.

Segundo relatório publicado na revista The Lancet, estima-se que em 2020 cerca de 596 milhões de pessoas em todo o mundo sofriam de problemas de visão à distância, dos quais 43 milhões eram cegos. Outras 510 milhões de pessoas tinham problemas de visão de perto não corrigidos, simplesmente por não terem óculos de leitura. Grande parte dos afetados (90%) vive em países de baixa e média renda. No Brasil, dados de 2019 apontavam que cerca de 1,5 milhão de pessoas são cegas.

O lado positivo é que boa parte das pessoas com problemas de visão tem uma causa prevenível ou tratável com intervenções altamente eficazes e de baixo custo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 80% dos casos de cegueira são evitáveis, bem como boa parte das doenças oculares, quando diagnosticada e tratada corretamente. As condições oculares afetam todas as fases da vida, de crianças pequenas a idosos.

Nesse pano de fundo, há a realidade do Brasil. Segundo pesquisa do Ibope, com apoio do Conselho Brasileiro de Oftalmologia [CBO], 34% da população nunca se consultou com um médico oftalmologista. Os exames preventivos são fundamentais. Quando se fala em saúde dos olhos, é preciso atuar antes de começar os sintomas, porque muitos deles caracterizam perdas irreversíveis. É necessário desenvolver o hábito de ir ao oftalmologista para fazer checkup. Muitas doenças se desenvolvem lentamente, como o glaucoma, a retinopatia diabética e a própria catarata.

O estudo da The Lancet ainda aponta que a melhora da visão pode contribuir para o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) listados na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) ao se relacionar diretamente com 8 dos 17 objetivos e indiretamente com todos, incluindo a redução da pobreza e o aumento da produtividade no trabalho, a melhoria da saúde geral e mental, a educação e a equidade.

Portanto, a saúde ocular precisa ser reformulada como uma questão transversal habilitadora para o desenvolvimento sustentável, o que serve como alerta para as empresas com olhar ESG. Aquelas que não estão pensando nessa questão não conseguirão alcançar seus propósitos de forma plena.

Por isso, precisamos da tecnologia. Com o desenvolvimento de ferramentas inovadoras, as pessoas poderão fazer testes básicos de visão remota, autônoma e gratuitamente, contribuindo para a conscientização em escala sobre problemas que afetam a visão. O ramo das healthtechs tem a oportunidade de criar soluções disruptivas na área da saúde, disseminando mais informações e assistência para todos.


*Renan F. Oliveira é cofundador e diretor médico da Verai.

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