Tecnologia e políticas públicas revolucionando a saúde mental

Por Sávio Arruda

Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado uma crise relacionada à saúde mental, destacando a urgência de um tema frequentemente ignorado nas esferas públicas e privadas: a necessidade de políticas públicas robustas e permanentes. Em um país como o Brasil, onde a escassez de recursos e o estigma ainda são barreiras, é crucial que o debate sobre saúde mental vá além de campanhas temporárias e se materialize em ações governamentais contínuas e abrangentes.

A realidade é cruel: 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, com a depressão liderando essa estatística. Mas o que muitos não percebem é que essas tragédias muitas vezes têm raízes na infância. Transtornos como autismo e TDAH, quando não diagnosticados ou tratados adequadamente, podem evoluir para problemas mais graves na adolescência e na vida adulta. A prevenção se mostra mais eficiente e econômica do que remediar. Focar no diagnóstico precoce e no suporte desde a infância pode não apenas salvar vidas, mas também reduzir significativamente os custos com saúde e previdência ao longo do tempo.

Mas como transformar essa necessidade em realidade prática? A resposta está na tecnologia, especialmente na Inteligência Artificial (IA). Imagine um cenário onde algoritmos inteligentes auxiliam no diagnóstico precoce de transtornos mentais, analisando padrões de comportamento que o olho humano poderia perder. Isso já é realidade em alguns lugares do mundo. A IA não é apenas um auxílio no diagnóstico. Ela pode ser a chave para ajudar a democratizar o acesso à saúde mental em um país continental como o Brasil. Com uma média de apenas 0,18 psicólogos por mil habitantes no SUS, está claro que precisamos de soluções inovadoras. Chatbots e plataformas de monitoramento emocional podem oferecer suporte 24/7, identificando sinais precoces de crise e direcionando para ajuda profissional quando necessário.

A telemedicina, potencializada pela IA, pode levar atendimento especializado a regiões remotas, onde o acesso a profissionais de saúde mental é praticamente inexistente. Imagine o impacto de uma criança no interior da Amazônia tendo acesso a um diagnóstico precoce de autismo, algo que poderia mudar completamente o curso de sua vida.

Mas não nos enganemos: a implementação dessas tecnologias no sistema de saúde brasileiro enfrenta grandes desafios. A falta de infraestrutura digital em áreas remotas, a escassez de profissionais treinados para usar essas ferramentas e a ausência de uma regulamentação clara sobre o uso de IA em saúde mental são barreiras reais que precisamos superar.

O impacto econômico de uma política pública bem estruturada nessa área seria imenso. Além de reduzir os custos diretos com tratamentos de emergência e internações, poderíamos ver uma redução nos afastamentos do trabalho por questões de saúde mental. Em 2023, foram registrados 288 mil afastamentos – imagine o ganho em produtividade se conseguíssemos reduzir esse número pela metade.

O que podemos aprender com outros países? Reino Unido e Austrália já incorporaram a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) digital em suas diretrizes nacionais de saúde mental. Essa abordagem permite que pacientes acessem tratamento online, seja de forma autoguiada ou com acompanhamento profissional, ampliando drasticamente o alcance e a acessibilidade dos serviços de saúde mental. Investir em saúde mental não é apenas uma questão de bem-estar social, é uma decisão economicamente inteligente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cada dólar investido em tratamento para depressão e ansiedade gera um retorno de quatro dólares em melhoria da saúde e capacidade de trabalho.

O caminho à frente é claro, mas desafiador. Precisamos de um compromisso sério do governo para investir em infraestrutura digital, especialmente em áreas rurais e de baixa renda. Tecnologias como a internet via satélite podem ser game-changers, levando conectividade – e consequentemente acesso à saúde mental digital – a comunidades isoladas.

Paralelamente, é crucial investir na formação e atualização contínua dos profissionais de saúde. A tecnologia só é eficaz quando está nas mãos de pessoas preparadas para usá-la. O futuro da saúde mental no Brasil pode ser promissor, se agirmos agora. A combinação de políticas públicas bem estruturadas com o poder da tecnologia pode criar um sistema de saúde mental mais acessível, eficiente e humano. Não é exagero dizer que estamos à beira de uma revolução na forma como cuidamos da mente. A questão é: estamos prontos para abraçá-la?


*Sávio Arruda é cofundador e CEO da startup Serena.

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