A transformação digital para além dos grandes hospitais
Já era uma tendência, mas a transformação digital na Saúde andava a passos lentos no Brasil quando o novo coronavírus chegou. Em meio ao sobrecarregamento das unidades hospitalares e as regras de distanciamento social, a pandemia exigiu que essa corrida fosse acelerada. Na busca de novos sistemas, como o de telemedicina, não houve tempo para testes e muito planejamento.
Grandes hospitais e operadoras de saúde com poder de investimento conseguiram disponibilizar serviços que ainda sofrem ajustes durante a operação. Assim como eles, mas com condições financeiras limitadas, pequenas e médias empresas do setor de saúde em todo o país trabalham para acompanhar o ritmo do mercado. Esse cenário foi tema do webinar “Transformação Digital em Organizações Familiares de Saúde”, durante a HIHUB.TREK 2021 que ocorreu na última semana.
Desafios
“Transformação é uma coisa dolorosa. Você está acostumado a fazer de uma determinada forma e, do dia para a noite, tem que mudar”, disse Jihan Zoghbi, CEO da plataforma de telemedicina Dr. TIS . Ela se referia às empresas familiares, que, normalmente, contam com pessoas de várias gerações em cargos de decisão.
Para Isabela Abreu, CEO da RedFox Digital Solutions, a harmonia entre as gerações é indispensável: “Quando a gente fala de conflito de gerações, a gente fala de múltiplas gerações trabalhando em conjunto com os mesmos objetivos, só que com mindset, comportamentos e backgrounds completamente distintos”, explicou. Isabela acredita que os sucessores acabam impulsionando a jornada digital dentro das organizações familiares, convencendo os mais velhos de que é preciso acompanhar as expectativas dos clientes digitais para se posicionar em relação aos concorrentes.
A disponibilidade para investimento também é uma questão importante quando se fala das pequenas e médias organizações em saúde. “Escolha uma batalha e vamos gerar resultado com essa batalha”, aconselha Isabela, que também criticou o desperdício de investimento por parte das grandes instituições por falta de foco. “Muitas vezes, a gente tem uma série de prioridades e a gente quer abraçar todas as guerras. A chance de dar errado, de você falhar é muito grande. Mesmo que tenha orçamento. Inclusive, as grandes empresas erram muito e jogam muito dinheiro pelo ralo justamente por isso”, concluiu.
O diretor executivo do Grupo Meddi, Gileno Portugal, explicou o planejamento da empresa baiana, que atua no interior do Estado e busca um caminho de transformação além do digital: “A gente está focando em ser uma clínica boutique. Então, nossa transformação digital vem em cuidar do cliente de forma diferenciada. Não uma produção em série. Eu não tenho como competir com as grandes redes aqui em Salvador. Então, se não tenho como competir com os grandes, eu tenho que cuidar melhor do meu maior ativo que é meu cliente”.
Ao final do painel, Jihan Zoghbi, que é doutora em Ciências da Computação, fez questão de lembrar que a modernização serve para todo processo — não apenas para garantir o relacionamento e a boa experiência da jornada do paciente. A transformação tecnológica também organiza o percurso para garantir os resultados. “Na parte de dados, é preciso mensurar tudo o que acontece nas empresas. Desde a parte cooperativa, médica, de enfermagem, de compras. E se você tem tudo analógico, você não consegue fazer a transformação. Os empresários estão indo para o básico para conseguir reestruturar a empresa internamente e conseguir crescer”, concluiu.