Análise: saúde digital como aliada no combate à dengue
Por Carlos Lima
A dengue continua a representar uma ameaça significativa à saúde pública, especialmente em regiões tropicais e subtropicais. No Brasil, a doença tem se mostrado um desafio persistente, com milhões de casos registrados anualmente. Em 2024, o país enfrentou um aumento expressivo nos casos, com um pico notável nos meses de março e abril, quando mais de 1,7 milhão de casos prováveis foram registrados. Esse crescimento foi impulsionado por condições climáticas favoráveis à proliferação do mosquito Aedes aegypti, como altas temperaturas e chuvas intensas.
Neste contexto, a saúde digital surge como uma aliada poderosa, oferecendo soluções tecnológicas que fortalecem desde a busca ativa de casos até o fortalecimento de campanhas de vacinação. A busca ativa é um dos primeiros passos críticos na prevenção de surtos, e a saúde digital pode desempenhar um papel vital através do uso de aplicativos móveis e plataformas online que permitem o rastreamento em tempo real de novos casos. Esses sistemas não apenas facilitam o registro e a localização de casos suspeitos, mas também permitem que as autoridades de saúde identifiquem rapidamente áreas de risco e implementem medidas preventivas adequadas.
A distribuição dos casos de dengue em 2024 variou significativamente entre as regiões, com o Distrito Federal e Minas Gerais apresentando os maiores coeficientes de incidência. O estado de São Paulo liderou em números absolutos, com mais de 2 milhões de casos prováveis ao longo do ano. Esse cenário sobrecarregou os sistemas de saúde locais, exigindo esforços contínuos de controle e prevenção. Aqui, a saúde digital pode revolucionar a educação e a conscientização da população sobre a dengue. Campanhas direcionadas através de redes sociais e aplicativos educativos são ferramentas eficazes para disseminar informações sobre prevenção e cuidados.
Outro aspecto promissor da saúde digital é o uso de tecnologias de inteligência artificial e big data para prever surtos de dengue. Ao analisar padrões climáticos, dados ambientais e informações epidemiológicas, algoritmos avançados podem prever com precisão onde e quando novos surtos podem ocorrer. Isso permite que as autoridades tomem medidas proativas, como campanhas de pulverização e mobilização comunitária, antes que a situação se agrave. A previsão de surtos representa uma mudança de paradigma no combate à dengue, passando de reativa para preventiva.
A telessaúde também oferece benefícios significativos no contexto da dengue. Com a capacidade de realizar consultas médicas à distância, pacientes podem receber diagnósticos e orientações sem precisar se deslocar, reduzindo o risco de transmissão em ambientes de saúde lotados. Além disso, o monitoramento remoto de pacientes diagnosticados garante que eles recebam o tratamento necessário enquanto permanecem em segurança em suas casas. Essa abordagem não só alivia a carga sobre os sistemas de saúde, mas também melhora o acesso aos cuidados, especialmente em áreas remotas.
Em 2025, houve uma redução significativa no número de casos prováveis de dengue nos primeiros meses do ano, com uma queda de 57,9% em relação ao mesmo período de 2024. No entanto, o país ainda registrou 170.376 casos prováveis e 38 mortes apenas em janeiro. São Paulo continuou a ser o estado mais afetado, seguido por Minas Gerais, Paraná e Goiás. Esses dados evidenciam a necessidade de estratégias eficazes de controle e prevenção, incluindo campanhas de conscientização, eliminação de criadouros e monitoramento contínuo das arboviroses.
Por último, mas não menos importante, a saúde digital pode desempenhar um papel crucial no fortalecimento das campanhas de vacinação contra a dengue. O desenvolvimento e a distribuição de vacinas são passos fundamentais na erradicação da doença, e as tecnologias digitais podem otimizar esse processo. Sistemas de gestão de dados podem monitorar a cobertura vacinal, identificar lacunas e garantir que as doses cheguem a quem mais precisa. Além disso, aplicativos podem lembrar os usuários sobre datas de vacinação, ajudar a agendar consultas e fornecer informações sobre a importância da imunização.
A integração de soluções digitais no combate à dengue não é apenas uma opção, mas uma necessidade urgente. À medida que navegamos por um mundo cada vez mais interconectado, é imperativo que aproveitemos o poder da tecnologia para enfrentar desafios de saúde pública. Essa abordagem integrada e inovadora não apenas melhora a resposta a surtos, mas também fortalece a resiliência das comunidades, preparando-as melhor para lidar com futuras ameaças.
A saúde digital representa um salto qualitativo no combate à dengue, oferecendo ferramentas que vão desde a prevenção até o tratamento e a vacinação. Ao adotarmos essas tecnologias, não apenas melhoramos a eficácia das estratégias de combate à doença, mas também promovemos um modelo de saúde mais sustentável e acessível para todos. A luta contra a dengue é complexa e desafiadora, mas com a saúde digital ao nosso lado, estamos mais bem equipados do que nunca para vencê-la.
*Carlos Lima é Head de Inovação e Transformação Digital e especialista em Saúde Digital, Administração Hospitalar e Serviços de Saúde com 20 anos de atuação em tecnologia em saúde.