Saúde Digital 4.0: O caminho para um cuidado personalizado
Por Teresa Sacchetta
A transformação digital em saúde deixou de ser uma visão defendida por poucos entusiastas para se tornar uma força estruturante em todo o sistema. A convergência de Internet das Coisas (IoT), Big Data e inteligência artificial, em particular dos Grandes Modelos de Linguagem (LLMs, sigla em inglês), não é apenas uma evolução tecnológica: é um convite para repensar a prática clínica, a gestão hospitalar e a experiência do paciente, criando impacto em escala e otimizando recursos de forma sistêmica.
A chamada Saúde Digital 4.0 vai além da automação de processos e da mera coleta de dados. Ela permite entregar valor real, medido por desfechos clínicos significativos para o paciente em relação aos recursos utilizados, promovendo equidade e garantindo que o cuidado de qualidade alcance todos, de forma contínua e personalizada.
A hiperconectividade, às vezes vista com cautela, revela-se uma aliada poderosa. Sensores vestíveis, dispositivos conectados e aplicativos inteligentes permitem monitorar sinais vitais – como a adesão a tratamentos e hábitos de vida em tempo real –, criando um ecossistema em que a informação flui continuamente. Esse fluxo possibilita identificar precocemente mudanças de padrões e intervir de forma rápida e proativa, atuando na prevenção de complicações e em ajustes dinâmicos de planos terapêuticos. Assim, transforma-se o cuidado de reativo em preditivo, de uniforme em personalizado, com alcance em larga escala e impacto significativo na população.
No entanto, o maior desafio da Saúde Digital 4.0 é cultural. Empresas, profissionais e pacientes precisam desenvolver letramento digital, implementando, compreendendo e utilizando sistemas novos que, em um primeiro momento, causam insegurança e resistência. Entre médicos, as barreiras muitas vezes são a falta de confiança e a adaptação a novas rotinas. A falta de integração entre sistemas prejudica a experiência e gera frustração. Para pacientes, desigualdades de acesso e receio quanto ao uso dos seus dados de saúde podem limitar o engajamento. Superar essas lacunas exige educação contínua, interfaces intuitivas, programas de capacitação e uma governança de dados que assegure ética, transparência e segurança.
As LLMs e outras inovações recentes oferecem suporte transformador à tomada de decisão. Ao sintetizar prontuários extensos, analisar padrões populacionais, predizer riscos e integrar evidências científicas, essas ferramentas ampliam a capacidade humana, tornando as decisões mais rápidas, seguras e fundamentadas. Na gestão hospitalar, contribuem para otimizar recursos, prever demanda de serviços e reduzir desperdícios, gerando impacto direto na sustentabilidade do sistema e na experiência do paciente.
A aceleração dessa transformação depende de liderança estratégica, engajamento genuíno e participação ativa de pacientes como parceiros. Profissionais de saúde precisam ser protagonistas na cocriação dos novos fluxos digitais. E cada decisão, cada algoritmo, cada sensor deve convergir para melhorar a vida daqueles que buscam cuidado.
A Saúde Digital 4.0 só será sustentável se for capaz de equilibrar governança, eficiência tecnológica e humanidade. Não se trata de substituir o profissional ou desumanizar o cuidado; trata-se de potencializar decisões, otimizar recursos e ampliar o alcance da atenção à saúde. Além de LLMs, tecnologias como IA e IoT permitem que dados complexos sejam convertidos em insights acionáveis, que processos hospitalares sejam mais eficientes e que o acompanhamento do paciente seja contínuo e personalizado.
O futuro da saúde dependerá de nossa capacidade de integrar inteligência tecnológica à prática clínica e à gestão, promovendo impacto real, equitativo e sustentável na qualidade do cuidado e na experiência de cada paciente.
*Teresa Sacchetta é diretora de Saúde da InterSystems.