Sarampo nas Américas: a urgência de um pacto pela vacinação

Por Leonardo Vedolin

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) acaba de emitir um apelo urgente aos países das Américas para intensificarem as atividades de vacinação, melhorarem a vigilância e agilizarem as intervenções de resposta rápida. O motivo é, de fato, preocupante: de janeiro até 8 de agosto de 2025, foram confirmados 10.139 casos de sarampo e 18 mortes relacionadas em 10 países da região, um aumento de 34 vezes em comparação ao mesmo período de 2024.

Os países com maior número de casos na região são Canadá (4.548 casos), México (3.911 casos) e Estados Unidos (1.356 casos), com mortes registradas no México (14), Estados Unidos (3) e Canadá (1). No Brasil, o município Campos Lindos (TO), registra o maior número de casos com origem importada, com 18 confirmações – a última foi em 6 de agosto.

O sarampo é uma doença altamente contagiosa, mas completamente evitável por vacinação desde 1963, o que torna a situação atual duplamente preocupante. O atual ressurgimento de surtos da doença revela uma fragilidade crítica nos sistemas de saúde pública, sobretudo na cobertura vacinal. Os dados mostram: 71% dos casos ocorreram em pessoas não imunizadas contra a doença, e outros 18% em indivíduos com status vacinal desconhecido.

Embora a cobertura da primeira dose da vacina tríplice viral (MMR) nas Américas tenha atingido 89% em 2024 (dois pontos percentuais a mais que em 2023) e a segunda dose tenha aumentado de 76% para 79%, esses níveis ainda estão abaixo dos 95% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para prevenir surtos e alcançar a imunidade de rebanho.

Para termos uma ideia, nos Estados Unidos, por exemplo, a cobertura vacinal entre crianças em idade pré-escolar diminuiu para 92,7% para a vacina MMR no ano letivo de 2023-24, com um aumento das isenções de vacinação para 3,3%. Em Gaines County, Texas, epicentro de um surto, a cobertura chegou a ser de apenas 82% entre crianças em idade pré-escolar.

O ressurgimento do sarampo nas Américas, após a região ter sido declarada livre da doença endêmica em 2016 – um feito global único – é um sinal claro de que não podemos baixar a guarda. A interrupção dos programas de imunização durante a pandemia de Covid-19 e, mais significativamente, a hesitação e o ceticismo vacinal, impulsionados pela disseminação desenfreada de desinformação em mídias sociais e notícias não verificadas, têm contribuído para o declínio da cobertura vacinal. Crenças infundadas, como a ligação entre a vacina MMR e o autismo – repetidamente desmentidas e refutadas, mas ainda persistentes – continuam a minar a confiança pública.

Em resposta à crise sanitária, pesquisadores estão revivendo a busca por tratamentos para o sarampo, algo que havia sido considerado redundante após o sucesso da vacina. Anticorpos monoclonais e antivirais orais estão em estágios iniciais de desenvolvimento. Estes poderiam beneficiar pessoas imunocomprometidas, recém-nascidos e aqueles que não respondem à vacina.

No entanto, do ponto de vista médico, a vacinação continua sendo a única prevenção conhecida para o sarampo, e não há tratamento específico disponível até o momento. A introdução de tratamentos, embora potencialmente úteis para populações vulneráveis, levanta a preocupação de que as taxas de vacinação possam diminuir ainda mais. Além disso, como médico e pesquisador de epidemias, acho necessário distinguir entre tratamentos comprovados e remédios não-científicos: enquanto alguns estudos mostram que a deficiência de vitamina A pode agravar a doença, não há evidências de que pacientes não deficientes se beneficiem de doses extras, e o excesso pode ser prejudicial.

O aumento nos casos é desanimador e exige reação imediata, com uma repactuação global de nações com a vacinação pública. Escrevo para incentivar a população a se basear em evidências científicas factuais e fontes verificadas, disseminando informações sobre a segurança da vacina contra o sarampo para combater a desinformação.

Campanhas direcionadas, realizadas em colaboração global com agências como OMS e UNICEF, são necessárias para garantir que todas as crianças sejam vacinadas, em todos os níveis de renda. Deixar um mundo melhor para as próximas gerações significa, antes de tudo, garantir que elas sejam saudáveis o suficiente para desfrutá-lo. A vacinação é, e continua sendo, a pedra angular para a erradicação do sarampo e a proteção de nossas comunidades.


*Leonardo Vedolin é Vice-presidente Médico da Dasa.

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