Modernizar o gerenciamento do sangue do paciente é urgente no Brasil

O manejo do sangue do paciente no preparo para cirurgias e procedimentos hospitalares é um grande desafio na medicina moderna. A cada ano, mais de 60 mil americanos morrem devido a choque hemorrágico, e, em todo o mundo, esse número chega a quase 2 milhões, segundo artigo publicado no The New England Journal of Medicine. Há 20 anos, surgiu o Patient Blood Management (PBM), um conjunto de estratégias para preservar o sangue do paciente que compõe uma alternativa mais segura à transfusão sanguínea. A Organização Mundial da Saúde (OMS) endossou o PBM em 2010 e, em 2021, oficializou uma política que exige que todos os Estados-membros atuem para adotá-lo.

A aplicação do método prevê a manutenção da concentração de hemoglobina do paciente, a otimização da hemostasia — resposta fisiológica do corpo para a prevenção ou interrupção de sangramento, a fim de bloquear lesões vasculares — e a minimização da perda sanguínea. Pensando nesses benefícios, Guilherme Rabello, graduado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica (Poli) da USP e atual diretor de Inovação do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), publicou um artigo que traz uma visão inovadora e disruptiva dentro do tema, prevendo a urgência de modernizar o gerenciamento de sangue no Brasil.

“Aplicar técnicas de inovação é necessário para revisitarmos certos processos assistenciais e de envolvimento com pacientes”, afirma Rabello. O pesquisador realça que, durante a pandemia de covid-19, ocorreu uma acentuação na indisponibilidade de doação sanguínea, mas o número de doadores reduz progressivamente desde a crise do HIV.

“A quantidade de sangue disponível hoje é menor e custa mais caro; ao mesmo tempo, a população envelhece, pois a expectativa de vida cresce. Tem pessoas vivendo mais que vão desenvolver mais doenças crônicas e vão precisar de mais intervenção médica, então o que acontece é um descasamento entre oferta e demanda” diz Guilherme Rabello

Há evidências crescentes do risco de incompatibilidade e de outros efeitos colaterais que podem ser enfrentados durante a transfusão. Além disso, a escassez dos bancos de sangue muitas vezes inviabiliza o fornecimento necessário no momento em que o paciente precisa, podendo levá-lo à anemia e ao óbito. A proposta do PBM é instaurar formas de resolução menos reativas e mais preventivas, promovendo a ação conjunta de técnicas e métodos clínicos e cirúrgicos, o que exige uma mudança estrutural no perfil assistencial médico. “As formas convencionais de tratamento tendem a aumentar o risco do paciente necessitar a transfusão, o que se torna um ciclo vicioso”, aponta Rabello.

“Conservando o sangue do próprio paciente, o risco de uma reação imunológica e de infecção também diminui”, complementa. Já existem estratégias consolidadas em conservação e manipulação farmacológica, mas vários campos de pesquisa estão em desenvolvimento. Na área de bioengenharia tecidual, a produção in vitro ou modificação artificial de componentes sanguíneos pode eliminar incompatibilidades e auxiliar no tratamento de doenças hematológicas. Outra novidade são os fatores de crescimento recombinantes, proteínas artificiais que atraem células para uma ferida e estimulam o processo de cicatrização.

Além dos benefícios para a saúde do paciente e para a melhor gestão da rede de saúde, o PBM beneficia a economia, pois reduz diversos gastos. “Quando você cuida do paciente de uma maneira preventiva, evita-se a necessidade de um atendimento médico de maior complexidade”, ressalta. O diretor destaca a importância de promover a sustentabilidade da saúde: ao reduzir os riscos de reações adversas da transfusão, agiliza-se o atendimento do paciente, e, consequentemente, reduz-se o tempo de internação. Quanto menos tempo um paciente fica internado, menor o custo financeiro para o SUS, e maior a disponibilidade de leitos para o restante da população.

Uma simples gaze

Para o pesquisador, uma ferramenta essencial na busca por essa revolução médica é a Escala VIBe, uma escala validada para gravidade de sangramento que auxilia a estabelecer, rapidamente, a eficácia de diferentes estratégias hemostáticas em um cenário clínico. Utilizando apenas uma gaze como objeto de medição, ela permite que o profissional dimensione a perda de sangue do paciente e avalie a necessidade de intervenção imediata.

O benefício do procedimento está, exatamente, em sua simplicidade: qualquer pessoa treinada pode utilizar essa régua para saber como controlar um sangramento, mesmo sem ter uma especialidade, materiais ou exames complexos. “Isto é uma inovação por si só, pois facilita na resolução de um problema que põe em risco a vida do paciente, se não for identificado precocemente”, comenta o diretor.

A demora na mudança de protocolos clínicos, mesmo após a publicação de novas diretrizes, é um desafio comprovado. Segundo dados de pesquisas anteriores, leva em média 17 anos para que novas recomendações se tornem parte da prática diária. Rabello aponta que o PBM conflita com hábitos e métodos arraigados no ambiente hospitalar, e essa atualização cultural demanda estratégias de adaptação. “Vemos um grande potencial de ensino: [a escala VIBe] deveria ser incorporada como método de educação, especialmente para os profissionais de cirurgia.” (Com informações do Jornal da USP / Por Gabriela Nangino)

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