A transformação da saúde no Brasil e o papel das redes de colaboração
Por Luiz Ary Messina
É nítido o avanço do setor da saúde nos últimos anos. Isso só foi possível graças aos investimentos em ciência, tecnologia e inovação, que incluem ferramentas de inteligência artificial, machine learning, entre outras. Segundo o Estudo International Data Corporation (IDC– 11-2020), o investimento em soluções tecnológicas no segmento, somente na América Latina, deve atingir US$ 1.931 milhões até 2022, o que equivale a algo em torno de 10 bilhões de reais.
Mas não é de hoje que existem diversas iniciativas em prol do desenvolvimento do setor. Um exemplo disso é a Rede Universitária de Telemedicina (RUTE), uma rede de colaboração em saúde coordenada pela RNP Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, e que completou 15 anos este ano. Inclusive, tivemos um importante marco na história da RUTE recentemente, quando fomos citados pela Organização Mundial da Saúde no estudo “Digital Health Platform: Building a Digital Information Infrastructure (Infostructure) for Health”, onde abordam iniciativas e aplicações de telemedicina que auxiliam a prestação de serviços de saúde e aumentam a capacidade de recursos humanos.
Atualmente, a RUTE conta com 140 hospitais, universitários, de ensino e faculdades de saúde e 55 Grupos de Interesse Especial (Special Interest Groups SIGs), um mecanismo de ampliar a colaboração de várias profissões e especialidades de saúde que se encontram em salas virtuais pelo menos uma vez por mês, com agenda definida por pelo menos um semestre, em diversas áreas e especialidades na saúde, e buscando a disseminação de conhecimento técnico-científico e a cooperação. Neste artigo, gostaria de me aprofundar na importância dos SIGs, que acabam criando uma rede de colaboração ativa e permanente, para a transformação digital..
Dos oito SIGs criados no início em 2007 e 2008, temos ainda, em 2021, seis SIGs operacionais, alguns com mais de 130 sessões científicas virtuais. São estes: Toxicologia Clínica, Saúde de Crianças e Adolescentes, Tele-enfermagem, Padrões para Telemedicina e Informática em Saúde, Oftalmologia, Sentinela (qualidade e segurança em hospitais). Atualmente, existem 55 SIGs em várias especialidades e subespecialidades da saúde.
Esta metodologia de Comunicação-Coordenação-Cooperação em torno de SIGs, como uma rede de colaboração, permite a integração de profissionais em torno dos temas fundamentais, coordenados por especialistas. Entre os benefícios, estão a troca de conhecimento entre profissionais de diversos lugares do mundo, o desenvolvimento de estudos para a melhora de doenças, entre outros. Um exemplo que podemos destacar foi a criação do SIG Covid, criado de forma emergencial para o enfrentamento da pandemia do novo vírus Covid-19, com o objetivo de congregar os hospitais terciários, universitários, públicos e privados, que participam ativamente do tratamento dos casos de maior gravidade, trocando experiências não somente entre profissionais do Brasil, como também do exterior, como China, Itália, EUA, Rússia, México, Argentina e outros países. No início, contávamos com a participação média de 130 profissionais da saúde. Atualmente, mais de 3500 participantes distintos e palestrantes nacionais e internacionais de mais de 14 países já participaram.
O sucesso desta iniciativa está nos levando a expandir os SIGs para a área de Tecnologia Assistiva, além de iniciar os SIGs de Autismo, Mobilidade, Terapia Ocupacional, Libras, Genética Médica e Doenças Raras, por conta da procura e da demanda pela discussão desses assuntos. Além disso, estamos expandindo o modelo também para a América Latina. Foi assinado um acordo entre a RedCLara Cooperação Latino-americana de Redes Avançadas e as redes acadêmicas do Brasil RNP, México CUDI, Colômbia RENATA, Chile REUNA e Equador CEDIA – e hoje já temos a RUTE-AL. Sendo que em 16/03 tivemos o lançamento da Rute Chile e em 10/06 a Rute Colômbia, como uma consequência do acordo.
Sabemos que o compartilhamento de ideias e experiências é essencial para todas as áreas de conhecimento e, com a saúde, não seria diferente. Por isso, acredito que o desenvolvimento de SIGs em rede de colaboração têm sido de grande importância para a evolução deste mercado, não só no Brasil, como em todo o mundo. Estamos interligados e buscando beneficiar o segmento como um todo. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas, sem dúvidas, iniciativas como essa ajudam a tornar esse caminho mais dinâmico e colaborativo.
*Luiz Ary Messina é coordenador nacional da Rede Universitária de Telemedicina (RUTE).