Relatório inédito avalia o cenário da DPOC no sistema de saúde

Apesar de considerada a terceira principal causa de morte no mundo, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ainda é uma doença subfinanciada e não priorizada nas estratégias governamentais e nos sistemas de saúde em diversos países, segundo o relatório inédito da coalização Speak Up for COPD, uma união entre instituições sem fins lucrativos e indústria. No cenário brasileiro, os desafios estão relacionados à falta de conhecimento sobre a doença entre profissionais da atenção primária e população, acesso limitado à exame para diagnóstico e baixa implementação de tratamento de acordo com diretrizes. Tendo em vista esse cenário, o relatório faz recomendações em quatro frentes de atuação para decisores públicos, com o objetivo de minimizar os impactos da doença no sistema de saúde.

A DPOC é altamente debilitante e, muitas vezes, fatal. A cada hora, 425 pessoas morrem em decorrência da doença no mundo. A condição está ligada à desigualdade na saúde, visto que pessoas de nível socioeconômico mais baixo, correm maior risco de desenvolver a doença, devido à maior exposição a fatores como poluentes atmosféricos domésticos e externos, má nutrição, infecções e tabagismo, responsável por 80% dos casos da doença. No Brasil, estima-se que 14 milhões de pessoas convivam com a DPOC mas apenas 34% têm o diagnóstico.

“O diagnóstico da DPOC é um dos principais desafios da doença e o motivo é multifatorial. Por meio do relatório foi possível constatar que ainda existe uma falta de conhecimento sobre a DPOC entre médicos da atenção primária, além do desconhecimento e minimização de sintomas por parte dos pacientes. Devido às limitações de acesso, pessoas vivenciam uma espera de até dois anos para realização do teste de espirometria, exame recomendado por diretrizes globais para diagnóstico da doença, o que faz com que apesar da alta estimativa, o diagnóstico ainda ser tão aquém do projetado”, contextualiza Angela Honda, pneumologista, coautora do relatório The State of COPD, diretora executiva e líder de programas educacionais da Fundação ProAR, médica voluntária na Reabilitação Pulmonar da UNIFESP e consultora proprietária da Angela Honda Medical Consulting.

Iniciativa financiada pelo Ministério da Saúde, o Sistema de Tele-espirometria do Brasil visa apoiar e expandir a realização de testes de espirometria na atenção primária, a fim de reduzir o tempo de espera para realização do exame, além de promover o encaminhamento para atenção secundária.

“A iniciativa de tele-espirometria é um case de sucesso. O resultado do teste é enviado a um especialista respiratório para interpretação, liberando capacidade da atenção primária e garantindo melhores práticas no diagnóstico da doença. Mas, visto que a demanda por diagnóstico da doença no Brasil é grande, uma importante recomendação apontada no relatório aos decisores públicos é de expandir o uso da tele-espirometria para todas as clínicas de atenção primária e fornecer aos enfermeiros e outros profissionais de saúde treinamento para dar suporte à capacidade de diagnósticos no local. Sabemos que, somente assim, o cenário de descoberta da doença será transformado e mais pacientes poderão ser tratados de acordo com diretrizes”, comenta Honda.

As recomendações destinadas a decisores públicos brasileiros pelo relatório foram baseadas em quatro frentes:

  • Desenvolver uma estratégia nacional de saúde respiratória para melhor identificar, entender e reduzir a carga da DPOC e outras doenças respiratórias crônicas;
  • Melhorar a conscientização clínica sobre as diretrizes de diagnósticos e cuidados e promover conhecimento público sobre os fatores de risco e sinais da DPOC;
  • Apoiar os farmacêuticos comunitários no suporte às pessoas que vivem com doenças respiratórias crônicas, incluindo prevenção, triagem, educação, gerenciamento e otimização do tratamento da DPOC;
  • Expandir o uso da tele-espirometria para todas as clínicas de atenção primária e fornecer aos enfermeiros e outros profissionais de saúde treinamento para dar suporte à capacidade de diagnósticos no local.

A DPOC gera um custo ao sistema público de saúde brasileiro maior que R$ 100 milhões por ano, de acordo com dados de 2018, relacionados principalmente com a alta taxa de internações, intervenções e subtratamento. Alinhar estratégias de diagnóstico precoce e de tratamento recomendado por diretrizes, pode reduzir os custos com a doença, além de proporcionar maior sobrevida, com qualidade aos pacientes.

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