Covid-19 mostra a necessidade de reformas em sistemas de saúde para redução de vítimas
Levantamento desenvolvido pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) em conjunto com pesquisadores dos EUA, Bangladesh e México, indicou que o impacto da pandemia foi maior sobre os idosos, que sofreram com mais hospitalizações e mortes; as faixas etárias de 65 a 74 anos e 85 anos ou mais tiveram taxas de hospitalização 5 e 10 vezes maiores, respectivamente, em comparação com a faixa etária de 18 a 29 anos. A taxa de letalidade entre o grupo mais velho, de 85 anos ou mais, foi 340 vezes maior do que a dos adultos jovens.
A pesquisa cruzou informações sobre a taxa de envelhecimento da população e a pandemia de Covid-19. A partir dessa análise, os pesquisadores mapearam os aspectos da população e dos serviços de saúde relacionados ao risco maior entre a população idosa.
“Adultos mais velhos tornaram-se o grupo populacional mais vulnerável, apresentando as piores estimativas de desfecho da doença em comparação com qualquer outra faixa etária, mesmo com as taxas de infecção permanecendo semelhantes entre todas as faixas etárias adultas em todo o mundo”, diz Cristina Baena, pesquisadora e coordenadora da Pós-Graduação em Ciências da Saúde da PUCPR, umas das autoras do estudo.
Impacto
O estudo mostra que à medida que o vírus se espalhava pelo mundo, populações idosas já vulneráveis enfrentaram uma carga muito maior de mortes e doenças graves, isolamento e dificuldades no acesso a cuidados básicos de saúde.
Esses fatores trouxeram significativos efeitos prejudiciais ao bem-estar físico e mental dos idosos. Com o isolamento social e a impossibilidade de visitas dos familiares, a população idosa sofreu com alienação, colapso psicológico entre outros danos à saúde.
Com maior impacto sobre a população idosa, a pandemia também aumentou as disparidades globais de saúde e as vulnerabilidades sociais e econômicas entre os idosos. Em Bangladesh, famílias abandonaram seus membros idosos na selva. Na América do Sul, a violência doméstica contra idosos aumentou em determinadas regiões.
A recomendação é que os sistemas de saúde e as estratégias globais incorporem serviços de saúde voltados para idosos, especialmente em países de baixa e média renda, onde esses atendimentos ainda são insuficientes.
“O cuidado com idosos precisa ser interdisciplinar e integral. Os dados gerados, quando compartilhados, uma fase importantíssima do SUS, nos ajudam a antever situações que podem ser mais bem gerenciadas no futuro”, diz.
Para Cristina, essas mudanças precisam ocorrer nos próximos anos, com a tendência de envelhecimento da população global. Em 2020, a população mundial contou com mais de 727,6 milhões de pessoas com mais de 65 anos e quase 146 milhões com mais de 80 anos em 2020. A expectativa é que esses números dobrem até 2050 e cheguem gradualmente a 2,5 bilhões até 2100.
“O envelhecimento da população, junto com o crescimento acelerado, deverá aumentar a carga de doenças no mundo e impactar os sistemas de saúde. A reforma é fundamental para enfrentar futuras pandemias de maneira eficiente”, conclui Cristina.