Autocoleta e rastreamento do HPV são barreiras a serem superadas
Por Adriana Bittencourt Campaner
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer do colo do útero é o terceiro tumor mais incidente entre as mulheres no Brasil. O principal fator para o desenvolvimento dessa doença são as infecções causadas pelo Papilomavírus Humano, o HPV, que pode ocasionar lesões precursoras do câncer do colo uterino e o próprio câncer. Para combatê-lo é essencial que a comunidade tenha consciência sobre a importância da vacinação dos adolescentes contra este vírus e que mulheres tenham acesso aos exames ginecológicos de alta precisão para rastreamento e diagnóstico precoce do HPV.
Em março desde ano, o Ministério da Saúde criou um grupo de trabalho com o objetivo de eliminar esse tipo de tumor, seguindo as diretrizes da estratégia lançada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que prevê reduzir em 40% o surgimento de novos casos da doença, salvando cinco milhões de vidas até 2050. Ainda, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) aprovou a incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS) o teste molecular (PCR HPV DNA) para o diagnóstico e genotipagem do HPV.
Alcançar essa meta depende do sucesso da execução da estratégia que prevê a imunização de 90% de meninas e meninos de 9 a 14 anos contra o HPV, além de garantir que 70% de pacientes, com útero, realizem ao menos dois testes de alta precisão ao longo da vida, na faixa etária de 35 a 45 anos, e que 90% das pacientes diagnosticadas com lesões pré-cancerígenas ou com câncer do colo do útero recebam tratamento.
Para o diagnóstico precoce de lesões precursoras do câncer é necessário manter os exames de rotina em dia e realizar o rastreamento e genotipagem do vírus para confirmar se o tipo identificado tem maior chance para evoluir para um tumor. O teste molecular do HPV é determinante para a paciente, pois será esse exame que irá fornecer o diagnóstico para definir a melhor conduta a ser seguida. São ao menos 14 tipos do vírus HPV considerados oncogênicos3, sendo os tipos 16 e 18 responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero, e observa-se um aumento do risco para o desenvolvimento de doença após a infecção pelo HPV 31.
Para fortalecer o programa de prevenção, a autocoleta vaginal com a genotipagem estendida é uma solução inovadora para detecção do DNA do vírus e da infecção persistente pelo HPV. Esta solução pode detectar a infecção por HPV mesmo antes do vírus transformar as células em pré-câncer ou câncer, sendo possível diagnosticar de maneira precoce se a paciente está em risco ou não de desenvolver o câncer. A autocoleta é um dispositivo prático e seguro que pode ser manuseado em casa pelas mulheres e homens transgêneros, não sendo necessário o auxílio de um profissional de saúde para realizar a coleta.
Com esse dispositivo, também será possível democratizar o acesso de mulheres e homens transgêneros que enfrentam desafios para realizarem os exames ginecológicos anuais, como a distância aos centros de especialidade. Pacientes podem entregar as amostras no laboratório em até 30 dias, o tempo máximo de estabilidade do material.
Além disso, essa nova metodologia para coleta também pode ser uma estratégia para atrair mulheres que sentem medo de fazerem o exame de citologia convencional realizado por profissionais da saúde, ou do constrangimento que muitas sentem devido sua orientação sexual e identidade de gênero.
*Adriana Bittencourt Campaner é Mestre e Doutora em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa São Paulo; Médica chefe do setor de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia da Santa Casa SP e professora adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.