Avanços da radioterapia na infância possibilitam maior taxa de cura

O câncer infantil abrange um grupo heterogêneo de neoplasias malignas para as quais a sobrevivência global aumentou acentuadamente nas últimas décadas, atingindo a taxa de 80% a 85% na maioria dos países desenvolvidos. Os números se explicam pelo maior entendimento do comportamento biológico dos tumores, novos métodos diagnósticos e avanços no tratamento, com destaque para as modalidades de radioterapia, que permitem tratar o paciente com menor toxidade, por conta da dose ideal, direcionada para o tecido doente e preservando as células saudáveis. Quanto menor é a idade do paciente tratado com radioterapia, maior é a chance de sequelas. Porém, ressalta a SBRT, com as técnicas de radioterapia de intensidade modulada (IMRT) e terapia de prótons, há menos sequelas e menor risco de eventos adversos no futuro. No entanto, as técnicas não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e, na Saúde Suplementar, IMRT é coberto para câncer de pulmão, mediastino, esôfago, cabeça e pescoço e próstata, todos em adultos.

Em estudo de revisão publicado na revista científica Pediatric Clinics of North America, os autores destacam que, embora o comprometimento do crescimento e da maturação induzido pela radiação seja específico de crianças mais novas, os danos a órgãos são possíveis tanto em crianças, quanto em adolescentes, destacando que ao menos 50% dos sobreviventes de câncer pediátrico sofrem pelo menos um acidente de saúde grave ou fatal. Por conta disso, reforçam, é fundamental que os cuidadores e os radio-oncologistas que tratam crianças com câncer se atentem para o risco para os órgãos específicos em risco. “Isso inclui, o acesso às melhores técnicas de radioterapia para cada caso”, afirma o radio-oncologista Fábio de Lima Costa Faustino, membro da SBRT e titular da Radioterapia do Hospital DF Star- Rede D’Or.

Faustino observa que, com profissionais preparados para fazer uma avaliação completa e adequada nas crianças, sobretudo os médicos pediatras, há a chance de se detectar o tumor precocemente, quando há suspeita de situações oncológicas. “Infelizmente, os pacientes passam por avaliações com diversos especialistas, sem que haja suspeita da possibilidade do câncer. Com isso, atrasa o diagnóstico e impacta no resultado do tratamento”.

A precariedade de acesso ao tratamento adequado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com Faustino, é um fator impactante na realidade das crianças brasileiras, que não têm a possibilidade de atendimento na saúde suplementar. “Faz total diferença proporcionar o acesso às crianças que precisam fazer radioterapia como parte do seu tratamento. Precisamos lembrar que a criança não é um adulto pequeno. Elas podem ter alterações de crescimento e hormonais após a radioterapia. Por isso, a mais alta tecnologia é essencial para oferecer esses recursos”, lamenta.

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Principais tipos de radiografia em pacientes pediátricos  

As crianças que recebem a indicação de radioterapia podem se beneficiar, desde que estão acessíveis, de diferentes abordagens.

Radioterapia IMRT – A radioterapia de intensidade modulada (IMRT) usa programas de computador para moldar e fornecer diferentes doses de radiação diretamente a um tumor, de vários ângulos. Com a IMRT, é possível administrar doses de radiação mais altas e mais eficazes, ao mesmo tempo que se minimiza a exposição a tecidos e órgãos saudáveis próximos.

Radioterapia IGRT – A radioterapia guiada por imagem (IGRT) usa imagens de alta tecnologia para direcionar com precisão a radiação para um tumor.

Radiocirurgia – A radiocirurgia estereotáxica (SRS) fornece feixes extremamente finos de doses de radiação muito altas diretamente aos tumores. Geralmente requer menos tratamentos do que a radioterapia padrão.

Protonterapia – A terapia de prótons fornece radiação a uma profundidade específica do corpo e depois para. Esta precisão significa que a radiação não se espalha mais profundamente no corpo do que o necessário, o que pode acontecer com a radioterapia convencional. Nos países que dispõem desta técnica, as principais indicações são para pacientes com tumores cerebrais, sarcomas, neuroblastoma e linfoma de Hodgkin.

Braquiterapia e Radioterapia intraoperatória – Algumas crianças se beneficiam da radiação aplicada diretamente no local do tumor ou próximo a ele, dentro do corpo. Uma das maneiras de conseguir isso é por meio da braquiterapia, que envolve a colocação de uma pequena semente de aço contendo radiação dentro do corpo, perto de um tumor. Com esta técnica, é possível usar uma dose total de radiação mais alta para tratar uma área menor, em menos tempo. Outra forma de realizar isso é pela radioterapia intraoperatória (IORT), que fornece radiação diretamente ao tumor durante a cirurgia. O cirurgião retira os tecidos saudáveis do caminho antes de aplicar a radioterapia. Isto pode ser útil quando órgãos importantes estão localizados muito próximos de um tumor.

Impacto do acesso (e da falta dele) às novas tecnologias

O amplo acesso às novas tecnologias propiciaria, além das altas taxas de cura em câncer pediátrico, também uma melhor qualidade de vida dos sobreviventes, o que inclui a reunião de possíveis efeitos tardios, que seriam decorrentes do tratamento recebido na infância.

Como exemplo, a radiação recebida no cérebro, coluna ou região de cabeça e pescoço é um fator relacionados com desafios pensamento e aprendizagem (efeitos cognitivos tardio), além de mudanças no crescimento e na puberdade envolvendo o sistema endócrino; problema auditivos; problemas dentários; problemas na coluna; maior propensão ao excesso de peso e obesidade e mudanças visuais.

Além, dependendo dos outros locais irradiados, há risco de o sobrevivente vir a desenvolver outros efeitos tardios, como problemas cardíacos, pulmonares e respiratórios; problemas no sistema digestivo ou efeitos também no rim. “As pacientes pediátricas que foram irradiadas na altura do peito devem também são mais propensas a desenvolver câncer de mama e demandam maior atenção”, reforça Faustino.

Outro desafio que impacta no acesso às melhores tecnologias em radioterapia é o modelo engessado de repasse no SUS. Diferentemente de outros processos de incorporação tecnológica na rede pública, a radioterapia é paga por pacote. O governo tem uma tabela que não considera a técnica usada, o que significa que o serviço que oferece a técnica mais antiga recebe o mesmo valor daquele que investiu em tecnologia mais recente. Na prática, paga-se pelo tipo de tumor, sem levar em consideração se o paciente recebeu a forma mais rudimentar ou moderna de radioterapia.

Quando o paciente do SUS recebe a indicação de radioterapia, mas não é tratado ou recebe a terapia inadequada, há a necessidade de buscar outras formas de tratamento, muitas vezes menos eficazes para o seu quadro clínico e, potencialmente, mais custosas para a sua saúde e para a sustentabilidade econômica do País. No caso dos pacientes pediátricos, perde-se a janela de oportunidade de reduzir o risco de um segundo câncer ou de efeitos tardios severos.

Câncer pediátrico no Brasil em números

O câncer infantil é a primeira causa de morte por doença em crianças e a segunda causa de óbito em geral, atrás apenas de acidentes, por conta da alta taxa de diagnóstico tardio, quando comparado com o registrado nos países desenvolvidos. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que no triênio 2023/2025 ocorrerão, a cada ano, 7.930 novos casos de câncer em crianças e jovens de 0 a 19 anos.

Os tumores mais comuns em crianças e adolescentes são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os tumores que atingem o sistema nervoso central, os linfomas (sistema linfático), o neuroblastoma (tumor de células do sistema nervoso periférico, frequentemente de localização abdominal), o tumor de Wilms (tipo de tumor renal), retinoblastoma (que afeta a retina, fundo do olho), o tumor germinativo (das células que originam os ovários e os testículos), os osteossarcoma (tumor ósseo) e os sarcomas (tumores de partes moles).

Prevenção

O membro da SBRT explica que não existe uma prevenção para o câncer infantil, como se tem para câncer de mama e o câncer de próstata no adulto, por exemplo. Na maior parte dos casos, os tumores em crianças e adolescentes não estão relacionados a estilo de vida e fatores ambientais, como ocorre em pessoas adultas. “A principal questão do câncer infantil é mesmo a detecção precoce. Isso é diferente de prevenção, embora os hábitos saudáveis sejam sempre recomendados. Evitar exposição solar, ter uma alimentação equilibrada, prática esportiva, desde pequeno incentivar o não uso do tabaco. Tudo isso faz parte de uma questão educativa que pode formar um adulto com menos risco de doença lá na frente”, orienta Faustino.

Quando se trata de câncer infantil, segundo o médico, não há um sistema de prevenção porque as doenças são raras e muitas vezes não preveníveis, sendo fundamental fazer um diagnóstico precoce em uma criança que apresentar alguma alteração importante. O médico lista alguns pontos de suspeita importantes como crianças que apresentam febre sem uma causa aparente, sem melhora; dor nos ossos, que vai piorando com o passar do tempo ou uma dor de cabeça constante que pode vir acompanhada de vômito; alterações na pele, como manchas, vermelhidão em forma de pontinhos, nódulos inchados pelo corpo; visão comprometida, com percepção de reflexos esbranquiçados no olho da criança, sobretudo na pupila (que fica dentro do olho); além de perda de peso repentina e sem explicação, seriam sinais de alerta preocupantes para os pais procurarem uma investigação mais adequada.

Campanha Setembro Dourado

O mês de setembro é destinado à conscientização do câncer infantojuvenil. Para isso foi criado o “Setembro Dourado”, um movimento com o intuito de alertar pais, profissionais da saúde, educadores e sociedade em geral sobre a importância de se atentar aos sinais e sintomas sugestivos do câncer em crianças e adolescentes. O câncer infantil é aquele que se manifesta do nascimento até os 14 anos de idade. Já a faixa etária do juvenil é considerada a partir dos 15 anos, com variações do limite superior entre estudos e instituições de tratamento, geralmente oscilando entre 19 e 21 anos.

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