60% dos serviços de radioterapia tiveram queda durante a pandemia

Um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBR) revela que, durante a pandemia do novo coronavírus, 60% dos serviços de radioterapia do país tiveram queda no atendimento. Nas cinco regiões do país, as informações coletadas apontam que 61% dos serviços tiveram mais de 20% de redução do movimento, sendo que 15% viram o número cair em mais da metade. Dos 256 serviços de radioterapia existentes no país, apenas 126 responderam ao questionário. Não houve respostas de serviços do estado de Rondônia.

As causas apontadas pelos serviços de radioterapia para a redução do volume de pacientes atendidos foram multifatoriais e, em alguns casos, mais de uma foi relatada. As três principais foram o não encaminhamento dos pacientes, por seus médicos, para a radioterapia; medo do paciente e familiares em realizar a radioterapia e a redução do diagnóstico de novos casos de câncer. “A demanda reprimida pode gerar filas para tratamento e aumento dos casos mais avançados de câncer”, avaliou a SBR.

Distância

A distância que o paciente precisaria percorrer para receber o tratamento, ao longo de semana, foi um dos motivos que levaram à redução dos encaminhamentos dos médicos para radioterapia, com a recomendação de isolamento social, a situação se agravou.

Ainda segundo o mapeamento, no Brasil, a média de deslocamento até o local mais próximo para um procedimento de radioterapia é de 76 quilômetros (km). Enquanto no estado de São Paulo a distância média é 33 km, um paciente que mora em Roraima e no Acre, estados que não contam com esse serviço, a distância média é de 1.605,5 km e de 1.487,3 km, respectivamente.

Hipofracionamento

Para reduzir a necessidade de vezes que o paciente precisa se descolar uma medida adotada é o hipofracionamento. A técnica permite utilizar, de forma segura eficiente, menos aplicações com frações mais altas de radiação por sessão comparada ao método convencional. “O tratamento é mais rápido e ainda preserva os resultados terapêuticos. Na prática, significa que ao invés das 40 sessões de tratamento, o paciente poderá ser submetido a 20 (hipofracionamento moderado) ou até a cinco sessões (hipofracionamento extremo), o que resulta em uma redução de oito vezes. Medida, portanto, essencial nesse momento de pandemia”, explica o radio-oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, Arthur Accioly Rosa, que é também diretor de Radioterapia do Grupo Oncoclínicas.

Entre serviços mapeados, 98 (77,8%) adotaram medidas de hipofracionamento. O modelo de tratamento foi mais frequente no Centro-Oeste, com oito dos nove serviços (88,9) realizando este procedimento. Na sequência estão as regiões Nordeste (16 de 20 serviços – 80%), Norte (quatro de cinco – 80%), Sudeste (52 de 66 – 52%) e Sul (18 de 26 – 69,2%). As principais indicações/localizações para hipofracionamento foram para pacientes com diagnóstico de câncer de mama, metástase óssea, metástase cerebral, assim como pele, próstata, sistema nervoso retal e reto.

Covid-19

A pandemia de Covid-19 também impactou equipes dos serviços de radioterapia. Mais da metade dos serviços tiveram pacientes (52%) e colaboradores (54%) com casos diagnosticados do novo coronavírus.

A frequência média à radioterapia com pacientes e funcionários diagnosticados com covid-19 foi de 52,4%: Centro-Oeste (44,4%), Nordeste (75%), Norte (60%), Sudeste (53%) e Sul (34,6%). A).  As principais condutas frente ao diagnóstico de covid-19 foram interrupção da radioterapia e isolamento do paciente (34,5) e realização da radioterapia no final do expediente (26,5%).

O impacto causado pela pandemia também demandou a adoção de sistemas de teleatendimento. Dentre os serviços, 80 adotaram serviço telefônico, 41 atuaram nas mídias sociais, 23 efetuaram atendimento por telemedicina e 17 trabalharam com videoconferência. “A SBR propôs diversas recomendações para o enfrentamento do novo coronavírus. Agora pretendemos analisar a adesão e o impacto destas ações, no intuito de planejar medidas para não haver atraso no tratamento dos pacientes com câncer”, relata o coordenador do comitê de enfrentamento e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, Harley Francisco de Oliveira. (Com informações da Agência Brasil)

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