Pesquisa avaliará impacto da pandemia na vida dos médicos
Para conhecer o impacto da pandemia de Covid-19 na vida dos médicos brasileiros, a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) se uniram para realizar a pesquisa PSYQUALY-COVID. O estudo vai avaliar o psicotrauma, a resiliência e a qualidade de vida dos médicos brasileiros. Os resultados irão nortear as ações das entidades médicas.
“O estudo está sendo enviado para os médicos de todas as especialidades e de todo o Brasil. Contamos com a participação de todos, independente se estejam envolvidos diretamente ou não no atendimento dos pacientes com COVID-19”, explica Lincoln Ferreira, presidente da AMB.
Segundo Marcelo Queiroga, presidente da SBC, “embora já existam algumas pesquisas sendo realizadas sobre o tema, a PSYQUALY-COVID foi estruturada com todo o rigor científico, utilizando questionários estruturados e validados para fazer o mais amplo diagnóstico do impacto psicossocial da pandemia sobre os médicos do país.”
O Sindicato dos Médicos de São Paulo contabilizou 244 médicos mortos em todo o Brasil em decorrência da COVID-19, no período de 22 de março a 02 de setembro. “Como toda a população, um grande número de médicos brasileiros vem contraindo a COVID-19. Felizmente, a maior parte tem se recuperado, mas ocorreram óbitos e há os que desenvolveram sequelas, além de muitos que vivenciaram a perda de entes queridos e pacientes, cujos reflexos físicos e psíquicos precisam ser avaliados”, destaca o cardiologista Antônio Carlos Chagas, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor Científico da AMB.
Marcus Bolívar Malachias, coordenador da pesquisa e professor da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais pontua que são muitas as condições que podem afetar a qualidade de vida e o equilíbrio emocional desses profissionais. “Como a possibilidade de dano moral, a preocupação com a responsabilidade legal, o temor de exposição de membros da família vulneráveis à infecção, e até as transferências de locais de trabalho para atuar em ambientes não habituais. Todos esses pontos são avaliados no estudo”, aponta o cardiologista.
Já o professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA) de Minas Gerais, e diretor de Pesquisas da SBC, David Brasil, avalia que também tem sido fatores agravantes para os profissionais da saúde na pandemia “a instabilidade econômica das instituições médicas, devido a períodos prolongados de suspensão de atividades eletivas, o estresse gerado por demissões, licenças e cortes e a redução da remuneração em muitas especialidades”, complementa.
A pesquisadora e cardiologista Glaucia Moraes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que há diferentes perfis de atuação médica no atual contexto. “Desde aqueles que estão na linha de frente, outros que trabalham em setores diagnósticos, ou em diferentes especialidades, mas que também estão expostos ao contágio e ao estresse, até aqueles que por pertencerem a grupos de risco encontram-se afastados do trabalho”, observa.
A psiquiatra, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretora da AMB, Carmita Abdo, que também faz parte da pesquisa, afirma que “situações traumáticas podem promover diferentes respostas em cada indivíduo, havendo a necessidade de se estimar o nível de estresse pós-traumático neste grande universo de médicos do país. Por isso vamos utilizar a PSYQUALY-COVID para conhecer os reflexos desse contexto na saúde desses profissionais e assim desenvolvermos ações assertivas”, pontua Carmita Abdo.
Os resultados da pesquisa deverão ser publicados no fim desse ano. O estudo deve ser respondido exclusivamente pela classe médica. O link está disponível no site da AMB e da SBC.