Por que repensar jornadas, linhas de cuidado e protocolos é a chave
Por Gabriela Tannus
Em um cenário cada vez mais pressionado por aumento de custos, margens apertadas e exigência por transparência, repensar a forma de organizar o cuidado deixou de ser uma escolha técnica e passou a ser uma estratégia essencial de sustentabilidade.
Dados do Observatório ANAHP mostram que, em média, os custos assistenciais representam 69% das despesas totais dos hospitais privados, enquanto a receita cresce em ritmo inferior à inflação médica. Nesse contexto, buscar eficiência não significa cortar custos: exige alinhar processos e desfechos que importam para o paciente e para o sistema.
Nesse cenário, jornada do paciente, linha de cuidado e protocolos não são somente “mapas” ou obrigações formais. São conceitos presentes no dia a dia das instituições, mas que precisam ser revisitados e colocados em prática efetivamente — como ferramentas capazes de reduzir desperdícios, melhorar desfechos clínicos e fortalecer a sustentabilidade financeira.
A jornada do paciente, quando bem mapeada, permite identificar barreiras de acesso, tempos de espera desnecessários e lacunas que geram custos invisíveis, além de impactar diretamente a experiência e os resultados clínicos.
As linhas de cuidado, quando orientadas por dados de vida real (Real-World Data — RWD), se transformam em aliadas poderosas para reduzir variações indesejadas, melhorar a adesão ao tratamento e apoiar modelos de remuneração baseados em valor.
Guidelines, diretrizes e protocolos também precisam ser vistos como instrumentos vivos, em constante evolução. Incorporar evidências do mundo real, adaptar-se ao perfil dos pacientes e revisá-los continuamente são passos fundamentais para assegurar eficiência operacional e cuidado de qualidade.
Esse movimento ganha ainda mais força com a expansão da Saúde Baseada em Valor (VBHC). As organizações que não revisitarem esses instrumentos estratégicos arriscam perder relevância, competitividade e, em última instância, sua própria sustentabilidade.
Instituições que já avançaram nessa agenda colhem benefícios concretos: redução de reinternações, maior previsibilidade financeira, fortalecimento da confiança entre pacientes e parceiros e diferenciação no mercado.
O futuro da saúde será guiado por resultados reais e valor percebido — para o paciente, para o sistema e para o negócio. Quem liderar esse movimento, ocupará uma posição estratégica na transformação do setor.
Gabriela Tannus é Diretora de Relações Institucionais do IBRAVS (Instituto Brasileiro de Valor em Saúde).