Por que 40% dos projetos com agentes de IA vão fracassar?
Não é exagero dizer que estamos no auge da era do hype da inteligência artificial. A cada conversa, evento ou post, os agentes de IA surgem como a grande revolução: sistemas autônomos, que prometem tomar decisões sozinhos, iniciar processos e aprender com o tempo. Parece o futuro. Mas, como toda tendência que cresce rápido demais, o tombo vem na mesma velocidade.
A Gartner acaba de cravar que 40% dos projetos com agentes de IA serão cancelados até 2027. E, sinceramente? Não me surpreende. Trabalho há tempo suficiente com tecnologia para saber que quando o hype fala mais alto que a estratégia, a frustração é só uma questão de quando.
Já vi isso acontecer de perto. Empresas bem-intencionadas, com times incríveis e ideias que, no papel, pareciam brilhantes, mas que quebraram na execução, seja pelo custo que não fecha, pela ausência de estrutura ou pela falta de clareza sobre o que estavam tentando resolver com IA.
O problema nunca é a tecnologia. É o uso que se faz dela. Os agentes de IA não fracassam porque são ruins, mas porque são mal posicionados desde o começo. Muita gente está aplicando IA onde não tem maturidade nem para uma planilha bem feita. Outros tentam resolver problemas culturais ou estruturais com algoritmos. E tem, claro, quem só quer parecer inovador, renomeando bot velho como se fosse agente autônomo. Spoiler: não é.
Eu repito muito isso internamente: tecnologia não resolve o que a estratégia não definiu. Se você não sabe que problema quer resolver, o que quer automatizar, qual decisão será tomada pelo agente e como medir o sucesso… deixa eu te contar: a IA não vai te salvar! já começou errado. E vai custar caro. Adotar agentes é mexer na estrutura, e pouca gente está pronta pra isso. Hoje é melhor negar um cliente que não tem maturidade mínima do que tentar resolver a vida de quem não tem nem processo, nem tecnologia e quer salvar a vida com uma IA milagrosa..
Integrar um agente de IA não é plugar uma API bonita e fazer um post no LinkedIn. É reconstruir processo, treinar pessoas, muitas vezes refazer sistemas legados e, o mais difícil, aceitar que parte das decisões vão sair da mão humana. Isso assusta. E, por isso mesmo, é ignorado.
A previsão de que só 130 fornecedores no mundo entregam, de fato, agentes de IA reais mostra que o mercado ainda está nas primeiras marchas. E tudo bem. Nenhuma revolução vem pronta. Mas o que me preocupa é o número crescente de projetos lançados só para “estar na conversa”, sem propósito, sem impacto, sem retorno. Implementar IA sem um problema real para resolver é como abrir um restaurante sem cardápio: você pode até atrair gente pela fachada, mas ninguém volta pela experiência.
A taxa de fracasso de 40% que a Gartner aponta não é uma sentença, é um sinal de alerta. E os 60% que conseguirem passar dessa fase farão isso porque focaram no problema certo, com estrutura, disciplina, maturidade e menos vaidade.
No fim do dia, o futuro não é para quem grita mais alto, mas para quem constrói com mais calma. Todos os casos de sucesso que eu vejo no mercado foram de soluções co-construídas entre cliente e fornecedores a quatro mãos. A a inovação de verdade é feita no detalhe, não no hype.
*Maurício Honorato é CEO do Doutor-AI.