Precisamos de um novo Programa Ampliado de Imunização?

Por Marcos Tendler

Acredito sempre ser possível aprender com os fatos do passado e, principalmente, trazer este aprendizado para o presente e planejar o futuro. Isso inclui a saúde. Embora, existam muitas inovações. Há sempre algo do que foi feito, que pode nos inspirar.

Apesar dos alertas recorrentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), do reforço de programas de comunicação sobre a importância das Vacinas, as taxas de pessoas que se imunizam vêm caindo, ano a ano, principalmente entre 2015 e 2020. No Brasil, existe um problema sério e não é de hoje com relação à aderência à vacinação, inclusive bem anterior a resistência que temos experimentado por conta da Covid-19. É notável a dificuldade de convencer, em especial, o público adulto dessa necessidade.

A pandemia e a vacinação contra a Covid-19 – cuja importância e indiscutível – vem de certa forma mascarando esses números e tirando o peso e atenção devida com relação às demais doenças. Mas, não podemos nos enganar: a ameaça é real.

Dados da OMS, mostram que, após a pandemia, 80 milhões de crianças abaixo de um ano estarão com o calendário vacinal desatualizado, e isso significa a porta de entrada para o retorno de doenças como sarampo e poliomielite. Falando do Brasil, segundo a ABCVAC – Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas, durante a pandemia, a procura por vacinas teve queda de 60% no setor privado, comparado aos anos anteriores.

Mas, o que é mais curioso é que situações como esta que estamos vivenciando hoje, já aconteceram em outros tempos. É o caso, por exemplo, da Varíola, umas das doenças mais temidas da história e que dizimou milhares de pessoas por quase dois séculos. Enquanto, em 1970, o foco era a campanha de vacinação para combatê-la, outros imunizantes acabaram sendo subutilizados. Em 1980, por exemplo, apenas 5% da população global era totalmente vacinada contra doenças como Tuberculose, Difteria, Tétano, Pólio e Sarampo, que causavam mortes de mais de três milhões de crianças por ano no mundo.

Foi então, inspirada pela erradicação da varíola, que a OMS decidiu ampliar a cobertura vacinal para essas doenças e criou o Expanded Programme on Immunization (EPI em inglês ou PAI – Programa Ampliado de Imunização em português), com isso foram incluídas as vacinas contra Tuberculose, Difteria, Tétano, Pólio e Sarampo. Em 10 anos essas doenças foram controladas e iniciou-se a Revolução Biotecnológica com o desenvolvimento de novas vacinas, novas técnicas de produção e o fortalecimento da cultura preventiva.

Porém, tempos depois voltamos a retroceder. Na década de 2010, com as principais doenças controladas e toda uma geração que nunca conviveu com o terror das doenças infecciosas transmissíveis, as pessoas passaram a acreditar, falsamente, que não era mais preciso vacinar-se. Fake News, falsos especialistas, a força da indústria farmacêutica, mas principalmente a baixa circulação dos agentes infecciosos no meio ambiente contribuíram para quedas nas taxas de cobertura vacinal.

Este fato preocupa cada vez mais, pois as quedas na taxa de cobertura vacinal são o prenúncio de um desastre. Principalmente, para quando a vacinação contra o Coronavírus avançar; as restrições de circulação forem suspensas; e a vida voltar ao ritmo pré-pandêmico. Ou seja, teremos a população vacinada para uma doença e descoberta para outras para quais existem vacinas e que, na última década, já voltaram a ameaçar a saúde pública. A história se repete, está vendo?

E o que sabemos é que é possível, sim, evitar novas epidemias e a volta em massa de doenças já controladas. Isso deve começar levando informação de qualidade, combatendo a indústria da desinformação e os movimentos antivacinas e iniciando um pacto pela vida.

Todos precisam estar unidos no propósito e no sentimento de mudança e o discurso deve ser universal. O mercado privado tem que parar de usar a expressão público versus privado, pois isso só contribui para desinformação. A ideia é facilitar o acesso e não criar mais mitos. A cultura a ser disseminada é a de que todos devem tomar as vacinas, disponíveis para sua faixa etária. Seja no posto ou em uma clínica particular. Os profissionais de saúde, no que lhe concerne, têm a missão de esclarecer e incentiva. Já o governo tem o importante papel de criar campanhas de conscientização.

Por isso, precisamos de um novo PAI, ou seja, precisamos repactuar com urgência o Programa Ampliado de Vacinação, repercutir e informar sobre todas as Vacinas existentes contra Doenças Infecciosas Transmissíveis. Só assim, juntos, é que conseguiremos que a ciência vença o medo e ilumine o obscurantismo do desconhecimento.


*Marcos Tendler é fundador da Vacinas.net e diretor da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinação.

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