O cuidado com profissionais de saúde que atuam em tragédias

Por Ticiana Paiva

Três meses do desastre climático pelo qual passou o Rio Grande do Sul. Apesar do tempo, que não para, e da necessidade constante de auxílio para as vítimas, uma outra pergunta também continua a ecoar pelas nossas mentes: como anda a saúde mental dos profissionais de saúde que atuaram e ainda atuam nesta tragédia? Eles não apenas enfrentam a desestruturação física, o caos e o impacto emocional de suas experiências, mas também lidam com a vida e a realidade de seus assistidos. Por isso, a necessidade de apoio emocional é igualmente crucial para estas pessoas. Sabemos de toda a urgência no cuidado das vítimas, mas uma estratégia de cuidado para os profissionais urge.

Diante desse cenário, o que – é e como – fazer? A saída pode estar na própria tecnologia, que tem se mostrado uma aliada vital no suporte emocional em situações extremas. Nos últimos anos, o atendimento remoto tem se tornado uma solução eficaz para muitos. Por conta de seu potencial para acessibilidade, a consulta remota pode ser uma ótima ferramenta para um ambiente desestruturado como o que ainda vemos, em alguns casos, no RS. Com isso, podemos garantir cuidados emocionais não somente para as vítimas, mas também para os profissionais. Inclusive, até mesmo quando o acesso presencial é limitado, o remoto pode continuar e ser a saída para que um tratamento iniciado não seja interrompido.

Desde o início, no final de abril, sabíamos que precisaríamos considerar e prever um longo período de reconstrução, que geralmente decorre de um desastre. Por isso, deve-se incluir cuidados específicos ao emocional dos profissionais que atuam nestes casos. Sabemos que a vida de muitos nunca mais será a mesma, já que podem enfrentar vivências traumáticas e dificuldades em retomar a rotina. É fundamental que tanto vítimas quanto profissionais recebam suporte contínuo para lidar com as mudanças e desafios que continuam mesmo quando o caos extremo começar a criar um rumo.

Sabemos que estes profissionais e até mesmo aqueles que atuam como voluntários presenciam situações extremas e, muitas vezes, são expostos a situações inimagináveis. Com o tempo, o desgaste emocional se torna evidente. É, de fato, muito importante que as equipes de resgate tenham unidades dedicadas ao cuidado da saúde mental dos próprios socorristas. Garantir que essas equipes recebam o suporte necessário é essencial para manter sua eficácia e bem-estar.

Por isso, dizemos que a atenção destinada aos profissionais de saúde envolvidos em desastres é tão importante quanto o cuidado com as vítimas. A desestruturação emocional que ambos enfrentam deve ser tratada com a mesma seriedade que a resposta imediata ao desastre. Este é um outro ponto importante: a perenidade das ações e estratégias precisa ser levada a sério. E as tecnologias estão disponíveis para serem nosso suporte.


*Ticiana Paiva é psicóloga e doutora em psicologia pela PUC-Campinas, com pesquisas em intervenção pós-desastre, atenção e cuidado psicológico em crises, desastres, conflitos humanitários e suicídios. Além de autora de livros e artigos, atua como professora universitária e palestrante. Atualmente, é head de saúde mental da healthtech Starbem.

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