Como as parcerias público-privadas estão ampliando o acesso aos cuidados na AL
Por Felipe Basso
Acho que tenho um dos melhores empregos do mundo. Isso pode soar como uma afirmação ousada, mas como alguém que trabalha na interseção de inovação e propósito, ajudando os sistemas de saúde em toda a América Latina a melhorar e expandir seu alcance, sinto isso todos os dias. No entanto, nossa região enfrenta uma realidade preocupante: cerca de 30% da população ainda enfrenta barreiras para acessar serviços essenciais de saúde. São mais de 200 milhões de pessoas que não conseguem entrar em contato facilmente com um médico quando precisam de um. E isso não é algo que qualquer organização possa consertar.
A saúde é um dos maiores dilemas para a sociedade resolver. Quer estejamos falando de infraestrutura desatualizada ou escassez de pessoal nas áreas rurais, a necessidade de ação coletiva nunca foi tão clara. A colaboração não é apenas útil, é fundamental. Na verdade, eu diria que é a chave para uma mudança duradoura.
Por que as parcerias público-privadas são importantes
Para causar um impacto real na área da saúde, não podemos olhar para iniciativas de curta duração ou melhorias isoladas. O que precisamos são soluções escaláveis criadas por diversas partes interessadas que se unem em torno de um objetivo comum. E é aqui que entram em jogo as parcerias público-privadas (PPPs).
Ao reunir representantes de todo o ecossistema de saúde – governos, empresas de tecnologia, hospitais e muito mais – as PPPs oferecem uma estrutura para o desenvolvimento em conjunto de serviços eficientes, eficazes e acessíveis. Eles não apenas fornecem ferramentas; eles entregam transformação. Quando implantadas com cuidado, essas parcerias melhoram a saúde da comunidade, coordenam o atendimento de forma mais eficaz e disponibilizam serviços para mais pessoas em mais lugares.
Os líderes de saúde estão a bordo
Esse compromisso com a colaboração se reflete em nosso relatório Future Health Index Brazil 2024. Os líderes de saúde no Brasil estão cada vez mais olhando além de suas organizações para aumentar a qualidade e a acessibilidade do atendimento em suas comunidades. Eles veem um papel claro para parcerias estratégicas para apoiar a saúde da comunidade e preencher lacunas na prestação de cuidados.
Então, com quem eles estão fazendo parceria? Muitos estão de olho em empresas de tecnologia de saúde (42%) e instituições educacionais (33%), com entidades governamentais e seguradoras/pagadoras vistas como igualmente vitais (ambas com 44%), especialmente para melhorar a pontualidade e a qualidade do atendimento. Essas parcerias ajudaram a modernizar os hospitais públicos, simplificando o gerenciamento e integrando tecnologias avançadas, aumentando a sustentabilidade financeira e elevando o atendimento.
Um exemplo disso é o surgimento de redes de tele radiologia, que permitem diagnóstico por imagem e revisão especializada a partir de locais centralizados. Em vez de depender de um único técnico ou médico em um hospital público sobrecarregado, as imagens médicas podem ser processadas remotamente por profissionais treinados. Isso é um divisor de águas para regiões remotas do Brasil, onde o acesso aos cuidados tem sido um desafio. Por meio de análise virtual e suporte de telessaúde, pacientes em áreas carentes recebem diagnósticos mais rápidos e precisos.
Destaque: a transformação diagnóstica da Bahia
Veja a Bahia, um dos maiores estados do Brasil. Com desafios de infraestrutura e escassez contínua de pessoal, o governo enfrentou lutas reais para manter os serviços hospitalares. Em resposta, eles formaram uma parceria público-privada com a Philips e um consórcio de diagnósticos. Juntos, entregamos um novo centro de radiologia centralizado e 44 equipamentos, incluindo 12 unidades de imagem em 12 hospitais. Essa iniciativa não se tratava apenas de colocar máquinas no prédio, mas de conectar equipes de especialistas com médicos da linha de frente em comunidades carentes. Com R$ 120 milhões investidos em infraestrutura e equipamentos, essa colaboração possibilitou mais de 500 mil exames diagnósticos em apenas um ano.
Na década seguinte, mais de 3.5 milhões de pessoas se beneficiaram de exames realizados por meio dessa parceria. Adoro o fato de que esse impacto começou com uma visão compartilhada de construir algo maior do que qualquer organização poderia alcançar sozinha.
Pequenas parcerias, grandes inovações
Embora as colaborações em larga escala muitas vezes ganhem as manchetes, há outro lado da inovação por meio de PPPs: as parcerias menores e ágeis que testam novos modelos e melhoram a eficiência. Esses projetos, muitas vezes combinando necessidades públicas com precisão do setor privado, são um terreno fértil para a implantação de tecnologia de ponta.
Ao emprestar estratégias de produtividade de fluxos de trabalho do setor privado e integrar os melhores sistemas da categoria em ambientes públicos, essas parcerias ajudam a ampliar ainda mais os recursos existentes. Não se trata apenas de aumentar o número de pacientes atendidos, mas também a eficácia. É aí que a mágica acontece: quando a implantação inteligente encontra o compromisso público.
Redefinindo o que o acesso realmente significa
Em última análise, as parcerias público-privadas não têm a ver com a entrega de novas tecnologias brilhantes. Trata-se de redefinir o acesso aos cuidados e colaborar para possibilitar que mais pessoas, independentemente de quem sejam ou de onde morem, obtenham os cuidados de que precisam. Como diz o ditado: se você quer ir rápido, vá sozinho. Mas se você quer ir longe, vá acompanhado.
*Felipe Basso é Diretor Geral da Philips América Latina.