Planos de saúde têm lucro líquido acumulado de R$ 3,1 bilhões
O setor de saúde suplementar tem melhores perspectivas para 2024 depois de reorganização econômico financeira promovida pelas operadoras ao longo deste ano. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) acaba de divulgar que o setor registrou lucro líquido acumulado de R$ 3,1 bilhões, o melhor resultado do período nos últimos 2 anos. Já a sinistralidade – que havia batido recorde no último ano – chegou a 88,2%. Ainda que alta, está 2,1 pontos percentuais abaixo do que em 2022.
“Os números indicam que a reorganização de planos para o setor, o firme compromisso de combate às fraudes, e as discussões envolvendo os mais diversos players do mercado na busca de um caminho para a sustentabilidade do modelo, bem como o contexto de aumento de beneficiários e queda de juros tem surtido efeito no reequilíbrio econômico dos planos de saúde”, analisa Alessandro Acayaba de Toledo, presidente da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (ANAB), advogado especialista em Direito e Saúde.
O aumento de beneficiários constante e consistente é outro fator que chama a atenção. O último balanço mensal da ANS indicou que quase 51 milhões de brasileiros possuem algum plano de saúde. O número representa um novo pico, após uma sequência de recordes na margem de crescimento que vem se repetindo nos últimos meses. No período, foram identificados 50,9 milhões de beneficiários nos planos de assistência médica. O incremento atingiu um ápice de 889 mil novas contratações no comparativo com o mesmo período do ano anterior. Entre agosto e setembro, mais de 200 mil novos beneficiários foram agregados às operadoras.
Olhando de forma mais ampla, o setor de seguros também tem boas perspectivas para 2024. A previsão da agência de rating Fitch indicou que os prêmios de seguros devem crescer cerca de 7% no próximo ano, enquanto a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), fala em quase 11%.
Brasileiros consideram plano de saúde essencial
O aumento do número de beneficiários tem relação direta com a percepção dos brasileiros sobre a essencialidade dos planos de saúde nas suas vidas. Uma pesquisa divulgada pela Associação Brasileira dos Planos de Saúde (Abramge), encomendada ao Instituto Datafolha, indicou que 94% da população que, hoje, não tem esse tipo de serviço, gostaria de ter. Já entre os beneficiários, a maioria diz se sentir mais seguro tendo acesso à saúde suplementar.
O resultado é semelhante ao levantado pelas duas edições da Pesquisa ANAB de Planos de Saúde. O último levantamento, de abril de 2022, mostrou que 83% das pessoas tinham medo de perder o plano, e que 47% dos entrevistados ajustaram o orçamento, cortando outros gastos, para manter o benefício.
Para Alessandro Acayaba de Toledo, presidente da ANAB, o novo recorde de beneficiários reflete a recente movimentação da economia e o esforço do brasileiro em garantir a segurança do benefício.
“Acesso, agilidade e eficiência são prioridades para as famílias no que se refere à saúde, considerando todas as faixas etárias. E quanto menor a renda familiar, maior é o grau de preocupação em relação ao acesso à saúde – o que não é de se espantar, afinal, só quem já precisou de um bom médico e não teve, sabe o valor desse privilégio. Arrisco dizer que em um país com tantas desigualdades, os planos de saúde significam a possibilidade de uma vida mais longa e saudável. É poder ter a tranquilidade de saber que não vai demorar para marcar uma consulta, uma cirurgia ou ser atendido em um pronto-socorro. É claro que, em um país ideal, esses serviços deveriam ser universalizados para todos os cidadãos, sem distinção, mas a realidade é que o Sistema Único de Saúde encontra muitas dificuldades para atender toda a população. A consequência disso é o aumento da demanda por alternativas que, mais uma vez, é confirmada pelos números”, destaca Alessandro Acayaba de Toledo, presidente da ANAB.
Recorde de reclamações e fraudes potencializam instabilidade no setor
Apesar da positividade dos indicadores econômicos e da essencialidade do sistema, a relação dos brasileiros com o setor segue difícil. Um dos destaques é a quantidade de reclamações apresentadas contra os convênios, que aumentaram 120% comparando 2019 e os dez primeiros meses de 2023, segundo a ANS. As regras e discussões envolvendo reembolso configuram o segundo tipo de reclamação mais frequente, segundo o levantamento da Agência. O assunto está no cerne das transformações do setor, conforme detalha Alexandre Acayaba de Toledo, diretor-presidente da ANAB.
“Este é um momento de transformações profundas no setor, marcado pela discussão envolvendo as fraudes nos planos de saúde, novas regras de inclusão de hospitais nas redes credenciadas, e o amplo aumento do pagamento de reembolsos que vem crescendo desde 2019. Todas essas mudanças oneraram o setor em 2022 em cerca de R$1,6 bilhão em procedimentos (consultas, exames, terapias, cirurgias e internações), segundo o Panorama de Saúde Suplementar da ANS”.
As operadoras de planos de saúde também tiveram um prejuízo de cerca de R$10,7 bilhões em 2022, de acordo com relatório da ANS. O maior prejuízo da saúde suplementar em 20 anos. Entre 2021 e 2022, as receitas dos planos de saúde cresceram 5,6%, enquanto as despesas aumentaram 11,1%.
“Uma conta que não fecha e sinaliza para um cenário de altos índices de reajustes. Há um claro indicativo de instabilidade do setor gerado, além do resultado financeiro das operadoras e da nova legislação sobre o rol exemplificativo, a proximidade com a votação do projeto de lei 7.419/2006, que traz mudanças importantes na legislação dos planos de saúde, criando novas obrigações às operadoras e retrocessos do ponto de vista regulatório”, avalia Alessandro Acayaba de Toledo, Diretor Presidente da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (ANAB) e advogado especialista em Direito e Saúde.
A ANAB reforça que os reajustes anuais dos planos coletivos são extremamente necessários para a manutenção equilibrada do sistema de Saúde Suplementar. Os índices praticados pelas operadoras de saúde em 2023 refletem o cenário do setor, que enfrenta uma série de instabilidades por diversos fatores: adoção do rol exemplificativo, que incrementa coberturas inesperadas e acarreta o desequilíbrio econômico-financeiro dos contratos vigentes; aumento das fraudes no uso de planos; maior sinistralidade dos últimos anos (chegando a 100% em alguns contratos); entre outros. Como consequência direta, as operadoras de planos de saúde tiveram um prejuízo operacional de cerca de R$10,7 bilhões em 2022 e isso reflete nos índices de reajuste dos planos de saúde coletivos, que estão sendo anunciados em cada contrato ao longo deste ano. A previsão da ANS é que as operadoras fechem 2023 ainda com um déficit em torno de 8 bilhões de reais.