Integrando Engenharia e Alta Direção na Gestão Hospitalar

Por André Covello e Rubens Covello

Em um contexto marcado por crescente complexidade tecnológica, aumento das demandas assistenciais e exigências regulatórias, a confiabilidade tornou-se um elemento estratégico indispensável nas organizações hospitalares. A habilidade de manter operações consistentes, seguras e previsíveis não apenas fortalece os processos clínicos, mas também impacta diretamente a segurança do paciente, a reputação institucional e a eficiência da alocação de recursos. Muitos hospitais ainda tratam falhas como eventos isolados, em vez de indicadores de vulnerabilidades sistêmicas.

Da Confiabilidade à Relevância Estratégica

A engenharia de confiabilidade é o campo responsável por analisar como os sistemas e equipamentos desempenham suas funções ao longo do tempo, em condições específicas. No ambiente hospitalar, sua aplicação transcende os ativos físicos, englobando também sistemas de apoio à decisão, fluxos logísticos e suporte à vida. Por exemplo tempo médio entre falhas, tempo médio para reparo importante para continuidade operacional e relação entre tempo funcional e total, indicando a efetividade do equipamento ou sistema.

Essas métricas são fundamentais para orientar investimentos e ações corretivas, principalmente quando aplicadas de forma estratégica por meio da análise de dados históricos.

Classificação de Criticidade: Prioridade Baseada em Risco e Impacto

Para que as ações de manutenção, substituição ou investimento sejam eficazes, é essencial reconhecer que nem todos os ativos e sistemas possuem o mesmo grau de importância. A classificação de criticidade permite avaliar o impacto potencial de uma falha com base em:

  • risco clínico (ameaça à vida ou à segurança do paciente);
  • impacto operacional (interrupção de processos essenciais);
  • consequências econômicas (custo da falha ou inatividade);
  • existência de redundância (alternativas funcionais disponíveis).

A partir dessa classificação, é possível alocar recursos de forma proporcional ao risco, garantindo que ativos críticos recebam maior atenção preventiva, enquanto ativos menos impactantes possam seguir por meio de estratégias baseadas em manutenção corretiva.

Métricas Técnicas Integradas aos KPIs Institucionais

Para que a confiabilidade ultrapasse o setor técnico e seja gerenciada pela alta direção, os indicadores técnicos devem ser incorporados aos KPIs da instituição de saúde.

Esses dados podem ser integrados a dashboards de gestão, possibilitando a visualização em tempo real da situação dos ativos e sua correlação com os indicadores clínicos e financeiros. Ferramentas de Business Intelligence (BI) favorecem essa comunicação transversal entre setores técnicos e administrativos.

Otimização da Manutenção com Base na Criticidade

A criticidade dos equipamentos e sistemas também deve ser considerada um dos principais critérios para definição de estratégias de manutenção. Pensando nisso, é possível analisar:

  • Alta criticidade: manutenção preventiva intensiva, com base em protocolos rigorosos, monitoramento contínuo (quando aplicável) ou manutenção baseada em condição e planos de contingência.
  • Média criticidade: manutenção baseada em condição e histórico de falhas, com análises preditivas.
  • Baixa criticidade: manutenção corretiva ou preventiva de baixa frequência, com foco em otimização de recursos.

A partir dessa ótica, evitamos desperdícios com manutenções desnecessárias e asseguramos o foco em ativos que realmente sustentam a segurança e a operação institucional.

Estratégias de Investimento com Base na Análise RAMS

A análise RAMS (confiabilidade, disponibilidade, manutenção e segurança) oferece uma estrutura sólida para avaliação técnica e estratégica de ativos hospitalares ao longo do seu ciclo de vida. Cada uma de suas dimensões permite:

  • Confiabilidade: estimar a frequência esperada de falhas.
  • Disponibilidade: avaliar a proporção do tempo útil.
  • Manutenção: dimensionar o esforço e recursos necessários para reparos.
  • Segurança: verificar o nível de risco imposto aos pacientes e funcionários.

Os hospitais, que adotam RAMS em suas análises de aquisição, conseguem planejar com maior precisão os custos totais de propriedade, garantindo segurança operacional desde o projeto até a fase de utilização.

A Confiabilidade como Pilar de Acreditação

A confiabilidade técnica está diretamente relacionada aos critérios exigidos em processos de Acreditação. Assegurar a continuidade da assistência, prevenir falhas críticas, reduzir riscos operacionais, rastrear eventos adversos técnicos, assegurar uma resposta ágil diante dos riscos e incentivar à cultura justa são alguns dos critérios mais valorizados durante esse processo.

Hospitais, Instituições de Saúde e Sistema de Saúde, que demonstram processos maduros de manutenção baseada em criticidade, uso de análise RAMS e gestão de riscos técnico-operacionais, apresentam maior aderência aos requisitos de excelência e segurança assistencial.

Integrar a engenharia de confiabilidade ao planejamento estratégico hospitalar representa uma evolução significativa na gestão organizacional. A classificação de criticidade, combinada ao uso de indicadores técnicos e ferramentas como a análise RAMS, permite transformar os dados operacionais em inteligência gerencial.

Com isso, os hospitais ganham em:

  • segurança do paciente;
  • sustentabilidade financeira;
  • eficiência dos processos;
  • qualificação para acreditações internacionais.

A confiabilidade deixa de ser apenas uma função técnica e passa a ser uma alavanca estratégica para instituições que buscam excelência, previsibilidade e resiliência organizacional.


*André Covello é MBA, CMRP e Consultor em Engenharia de Confiabilidade e Rubens Covello é sócio-fundador e CEO da Quality Global Alliance (QGA), cofundador da HSO – Health Standards Organization e co-fundador e vice-presidente do CBEXs – Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde.

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