Sociedade de Profissionais em Pesquisa Clínica aponta que o setor deve movimentar R$ 5 bilhões na economia
O Brasil está entre os 20 países líderes no ranking mundial de pesquisa clínica, à frente entre os latino-americanos, segundo dados da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). De acordo com a Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC), o setor enfrenta dois grandes desafios. “Primeiro, a população não conhece a importância de participar de projetos de pesquisa, ainda há muito preconceito com relação a isso, ela se sente cobaia. O segundo, é o processo regulatório, que é ótimo por ser muito rigoroso e assegurar os participantes, mas, eventualmente, nós temos uma demora na aprovação dos projetos por conta disso”, afirma Greyce Lousana, presidente executiva da SBPPC.
Os estudos científicos são a base de tudo na saúde e, nos últimos anos, vêm expandido no país. Entre 2019 e 2024, a pesquisa clínica no Brasil passou de uma marca de 300 para os atuais 500 estudos clínicos produzidos anualmente, de acordo com a Associação Brasileira de Organizações Representativas de Pesquisa Clínica (ABRACO).
Greyce da SBPPC ressalta que o Brasil tem um número expressivo de pesquisadores: “temos instituições de ensino e pesquisa que são de excelência; temos a ANVISA, órgão de maior relevância da América Latina, e a população brasileira que é diversa. Do ponto de vista étnico e genético, posiciona nosso país em destaque”, explica a especialista.
Segunda ela, há uma estimativa de mais de 174 bilhões de dólares envolvidos na questão de pesquisa. “A gente precisa estimular nossas empresas nacionais, temos grandes indústrias que fazem pesquisa. Necessitamos de incentivos para que os estudos cheguem até o final, sejam concluídos com êxito e não travem com mudanças de administrações públicas”, enfatiza Greyce.
De acordo com relatório publicado pela Interfarma -Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa-, caso haja uma ampliação de pesquisa clínica em território nacional, o Brasil pode ocupar a décima posição no ranking global nos próximos anos, sendo responsável por 4,5% dos estudos realizados. Dessa forma, espera-se que mais de 55 mil pacientes se beneficiem, estimulando o mercado para cerca de 48 mil profissionais científicos. Nessa perspectiva, a projeção é de que R$ 5 bilhões sejam movimentados apenas com essa atividade econômica no país.
Greyce relembra que na época da pandemia da Covid 19, o mundo inteiro se voltou para isso, os investimentos e a comunidade científica se uniram para combater a doença. “Mas, não podemos esquecer que temos outras doenças, que outras pandemias podem aparecer. Tudo está interligado. A ciência trabalha em todos os campos. Eu não posso começar uma pesquisa hoje e amanhã o governo me falar que não teremos verba para continuar. Cada vez que paralisamos um estudo, temos todo investimento perdido. Valor de política pública de Estado, que é extremamente importante”.
O papel da SBPPC e as políticas de longo prazo
Como presidente executiva da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica, Greyce destaca que o papel da instituição é “pressionar os governos no sentido de que isso é real e precisamos ampliar esse diálogo, criar políticas de Estado, não uma política de governo, porque o governo muda e mudam as políticas muito rapidamente”, reforça.
A SBPPC trabalha diretamente com profissionais, não com empresas, buscando lembrá-los do compromisso assumido em sua formação. “Fizemos um juramento no dia da formatura, que iríamos defender a saúde das pessoas, dos animais, do meio ambiente, e buscaríamos o tempo todo o equilíbrio de todos esses ecossistemas”, lembra a especialista.
Greyce Lousana finaliza com um alerta sobre a responsabilidade de cada cidadão: “Desde a hora que levantamos, com a escova de dente que usamos, a pasta, o hidratante, o shampoo, a comida que comemos, com o remédio que ingerimos, temos que nos perguntar: isso é seguro? Tem pesquisa para isso? A união entre conhecimento científico, conscientização popular e novas gerações mais sensíveis a essas questões tornam o cenário mais seguro”, declara.