Instituto busca desenvolver novo tratamento para Alzheimer
A luta contra a doença de Alzheimer, uma das condições neurodegenerativas mais complexas, ganhou um importante aliado com a aprovação de um projeto inovador no campo da neurociência. O Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe obteve a aprovação de um financiamento de R$ 10,3 milhões pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para desenvolver uma nova abordagem terapêutica para essa doença.
O projeto intitulado “Desenvolvimento de nanomedicamento de microRNAs (miRNAs) oriundos de precursoras neuronais para a doença de Alzheimer” foi um dos selecionados na recente chamada pública da Finep e ficou em quinto lugar entre os 204 inscritos. O estudo é conduzido pela pesquisadora, neurologista e pediatra Katherine Athayde Teixeira de Carvalho.
Esse projeto é uma promessa significativa para avançar no tratamento da doença de Alzheimer. E é parte das iniciativas do Grupo de Pesquisa Terapias Avançadas e Biotecnologia Celular na Medicina Regenerativa, do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, em colaboração com a Faculdades Pequeno Príncipe.
A pesquisadora Katherine menciona que o objetivo principal é ir além do tratamento paliativo dos sintomas. É oferecer uma abordagem que possa atuar na gênese da doença para regenerar ou restaurar as funções cerebrais perdidas e combater efetivamente a progressão da doença.
Um projeto que traz esperança
A essência do projeto está no desenvolvimento de um nanomedicamento que utiliza miRNAs derivados de células precursoras neuronais humanas e que será veiculado com o auxílio de nanoestruturas. Esses miRNAs desempenham um papel crucial na regulação da expressão gênica e têm o potencial de influenciar diretamente os processos patológicos envolvidos no Alzheimer. Entre eles, a deposição de placas beta-amiloides, a formação de emaranhados neurofibrilares e a inflamação neuronal.
A despeito do potencial terapêutico dos miRNAs, a aplicação clínica enfrenta vários desafios. Um dos principais obstáculos é a entrega específica e eficiente desses miRNAs ao cérebro, em razão da presença da barreira hematoencefálica (BHE), que protege o sistema nervoso central e restringe a passagem de muitas moléculas. Para superar essa barreira, o projeto aposta na nanotecnologia, desenvolvendo vetores de entrega que possam transportar os miRNAs diretamente para as células afetadas pela doença.
A pesquisadora destaca a importância de uma abordagem inovadora que utiliza a nanotecnologia não apenas para garantir a entrega precisa dos miRNAs ao cérebro. Mas também para maximizar a eficácia e minimizar os efeitos colaterais do tratamento. “A terapêutica com miRNAs das precursoras neuronais humanas permite que atuemos diretamente na causa subjacente da doença. E tem como auxílio as nanoestruturas que podem atravessar a barreira hematoencefálica e entregar o tratamento exatamente onde ele é necessário”, salienta Katherine.
A associação de miRNAs e nanotecnologia representa um avanço significativo em relação aos tratamentos atuais. A terapia avançada a partir de biológicos, pois os medicamentos atuais são limitados a retardar a progressão dos sintomas. “Com uma abordagem focada na regeneração neuronal e na prevenção dos processos patológicos que levam à neurodegeneração. Isso impede a formação das placas e dos emaranhados neurofibrilares. Por isso, o projeto oferece uma nova esperança para milhões de pacientes em todo o mundo”, enfatiza a cientista.
Impactos futuros
Com financiamento de R$ 10,3 milhões da Finep, o projeto será desenvolvido ao longo de 36 meses. Os recursos serão utilizados para cobrir os custos de pesquisa, desenvolvimento e produção. Além disso, garantir a infraestrutura necessária para os ensaios pré-clínicos e a preparação para futuros ensaios clínicos.
A visão em longo prazo do projeto é ambiciosa. Além de criar um tratamento inovador para o Alzheimer, a expectativa é abrir portas para novas abordagens terapêuticas em outras doenças neurodegenerativas. “Estamos desenvolvendo uma plataforma que pode ser adaptada para outras condições, onde a perda neuronal é a gênese, como para doença de Parkinson. Nosso objetivo é oferecer terapias avançadas e inovadoras para todos, garantindo que estas estejam disponíveis pelo SUS”, diz Katherine.
A colaboração entre o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), representada pela professora Elenara Teixeira Lemos-Senna, é fundamental para o sucesso do projeto. Afinal, combina expertises em neurociências e nanotecnologia.
Doença de Alzheimer
A doença de Alzheimer, que afeta predominantemente pessoas acima de 65 anos, é o tipo mais comum de demência no mundo e representa cerca de 70% dos casos. Estima-se que aproximadamente 50 milhões de pessoas vivam com a doença, um número que deve crescer nos próximos anos devido ao envelhecimento populacional. No Brasil, a enfermidade atinge 1,2 milhão de pessoas, com cem mil novos casos diagnosticados anualmente.
A condição é caracterizada pela perda progressiva de memória e outras funções cognitivas. Isso impacta drasticamente a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares. Até o momento, as terapias disponíveis focam principalmente no alívio dos sintomas, sem deter o avanço da neurodegeneração. Nesse contexto, a pesquisa surge como uma esperança para mudar esse panorama, utilizando uma abordagem baseada na epigenética por meio dos miRNAs.