Evolução da saúde no Brasil sob a perspectiva da distribuição
Por Leonardo Moraes
O segmento de saúde no Brasil se deparou com desafios relevantes e estruturais que se acentuaram nos últimos anos, principalmente no período pós-pandemia de covid-19, quando a necessidade de disponibilização de medicamentos e suprimentos se tornou ainda mais evidente. E já que o segmento de distribuição de medicamentos é parte essencial dessa cadeia, é fundamental observar de perto as dificuldades do ponto de vista humano, logístico e macroeconômico.
Um dos principais desafios passa pela extensão territorial de um país continental como o Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira de Logística (Abralog), cerca de 30% dos custos logísticos nacionais estão associados ao transporte rodoviário, o que impacta a distribuição de medicamentos e insumos devido às grandes distâncias.
A Abralog também indica que cerca de 60% dos custos operacionais de empresas de transporte são oriundos da frota, incluindo combustível, manutenção e mão de obra. Os complexos viários, mesmo que tenham buscado ajustes nos últimos anos, ainda são deficientes e os entraves em infraestrutura não favorecem em entregas rápidas, sobretudo em regiões remotas.
Outro importante desafio enfrentado pelo setor é a organização atual da cadeia de suprimentos. Segundo informações da Interfarma, o Brasil conta com mais de 80 mil instituições de saúde e cerca de 7 mil fornecedores de medicamentos, o que gera uma complexidade logística e que pode aumentar os custos e diminuir a eficiência.
Essa gama diversa pode levar a desperdícios que são avaliados em R$ 3,8 bilhões por ano em medicamentos, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Isso mostra o quão relevante é a escolha de um parceiro logístico que compreenda essa complexidade e atue visando eficiência e confiabilidade.
O uso de tecnologias como rastreamento em tempo real, inteligência artificial e automação de armazéns tem potencial para reduzir perdas, aumentar a eficiência e garantir maior segurança na distribuição. De acordo com estudo da consultoria McKinsey, empresas que investem em digitalização logística podem reduzir seus custos operacionais em até 20%.
A aproximação entre setores público e privado também é uma estratégia no aperfeiçoamento de processos do setor. Ela pode impulsionar investimentos em infraestrutura e inovação. Projetos que envolvem esse tipo de parceria, voltados à saúde, têm mostrado resultados positivos, como a ampliação de hospitais e centros de distribuição em regiões carentes.
Um exemplo é o investimento em centros de distribuição regionais, que ajudam a reduzir significativamente os tempos de entrega e os custos de transporte.
Investir na formação e atualização dos profissionais que compõem a cadeia de distribuição, desde motoristas até farmacêuticos, é fundamental para assegurar a qualidade e a segurança dos processos.
O setor de saúde brasileiro demanda soluções integradas e inovadoras para vencer seus desafios históricos. A transformação digital, investimentos em produção local de insumos, a gestão inteligente de estoques e a simplificação regulatória e tributária também representam boas ações para a construção de um sistema de saúde mais eficiente e acessível. É hora de transformar os desafios em oportunidades, construindo um futuro no qual a saúde de qualidade chegue a cada cidadão brasileiro, independentemente de onde ele esteja.
*Leonardo Moraes é Diretor Executivo de Estratégia e Farma do Grupo Elfa.