Novo perfil oncológico desafia o país

Por Ramon Andrade de Mello

A população brasileira passa por uma significativa mudança na expectativa de vida. Nas próximas décadas, a pirâmide etária do país terá um incremento do número de idosos, o que trará impactos diretos para a saúde. As doenças também seguem novas tendências. Deixaremos de ser um país com predominância de enfermidades infecto-parasitárias, típicas das localidades em desenvolvimento, para uma nação com aumento das chamadas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como diabetes, hipertensão, bem como o câncer. A melhoria da infraestrutura, principalmente do setor de saneamento, vem reduzindo significativamente as doenças transmitidas por alimentos ou água. Por outro lado, o envelhecimento acumula os riscos para o diagnóstico do câncer diante da redução da eficácia dos mecanismos de reparação celular.

Hoje, 10% dos municípios brasileiros já têm as doenças oncológicas como a principal causa de morte. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil deve registrar 704 mil novos casos de câncer a cada ano do triênio 2023-2025. As regiões Sul e Sudeste concentrarão aproximadamente 70% da incidência das doenças oncológicas no país. A boa notícia é a queda de mortes prematuras causadas por câncer de 12% em homens de 30 a 69 anos e de 4,6% em mulheres na mesma faixa etária.

Por outro lado, os casos de morte prematura por câncer de intestino devem registrar aumento de aproximadamente 10% até 2030. A doença é típica de países desenvolvidos e está relacionada ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, uma alimentação pobre em frutas e vegetais, além de excesso de peso corporal e ausência de atividades físicas regulares.

Os dados mostram que o Brasil segue tendência mundial, que tem o câncer como a segunda causa de morte. Os gestores de políticas públicas precisam ficar atentos às estimativas que mostram a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado como ferramentas capazes de reduzirem em 30% e 50% os casos da doença. Outro levantamento importante da Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que um terço das mortes por tumores oncológicos está relacionado a cinco fatores de riscos comportamentais e alimentares: alto índice de massa corporal, baixo consumo de frutas e vegetais, ausência de atividade física e consumo de álcool e de tabaco, bem como infecções como hepatite e papilomavírus humano (HPV).

O futuro pode trazer grandes impactos nos sistemas de saúde do país. Os dados mostram a necessidade de planejamento de ações para o controle da doença por meio de políticas de atenção integral ao paciente. Dessa maneira, também caminharemos para atender os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) lançados em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estabelecem a meta de redução de um terço da mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis.

Iniciativas simples no dia a dia podem trazer importantes ganhos para a saúde como a prática de exercícios físicos pelo menos três vezes por semana, com 60 minutos por dia. O cuidado com a obesidade é outro fator de risco a ser enfrentado. O excesso de peso eleva o risco da doença porque o tecido gorduroso aumenta a produção do hormônio estrogênio e pode estar relacionado a um estado inflamatório sistêmico. Nesse quesito, temos que redobrar a atenção. A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostrou que a obesidade passou de 11,8% da população brasileira, em 2006, para 20,3% em 2019, uma alta de 72%. Já o excesso de peso é registrado em 55,4% dos brasileiros.

Sem sombra de dúvida, investimentos com prevenção vão reduzir os gastos com tratamento. Isso contribui para focarmos no atendimento nas doenças oncológicas que ainda persistem, mesmo diante de todos os cuidados. A ciência poderá oferecer grande contribuição com as inovações que começam a surgir no horizonte por meio da oncologia de precisão, que permite substituir os métodos tradicionais — quimioterapia, radioterapia ou cirurgia — pelas terapias genéticas, que atuam nas mutações dos genes das células defeituosas para eliminá-las.

Esses tratamentos já começam a chegar ao país e permitirão uma abordagem do câncer como uma doença crônica, assim como hoje tratamos o diabetes ou a hipertensão. Afinal, a longevidade deve ser aproveitada com qualidade de vida.


*Ramon Andrade de Mello é médico oncologista, professor da disciplina de oncologia clínica do doutorado em medicina da Universidade Nove de Julho (Uninove), em São Paulo, e médico pesquisador honorário do Departamento de Oncologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

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