Pronto Atendimento Digital no cuidado da população no RS

Por Diana Jardim

O país inteiro tem acompanhado uma das maiores catástrofes climáticas que o estado do Rio Grande do Sul enfrenta desde o final de abril e início de maio de 2024, sem previsão de término. As chuvas intensas resultaram em inundações severas, deslizamentos de terra e danos extensos em várias cidades, afetando principais estradas, pontes e viadutos de acesso. Cerca de 397 dos 497 municípios do estado foram impactados, deixando milhares de pessoas desabrigadas.

A capital gaúcha e áreas próximas sofreram um impacto devastador, com inundações massivas que submergiram bairros e cidades inteiras, forçando a evacuação de residentes e comprometendo o abastecimento de água potável, quando cerca de 85% da população da cidade ficou sem acesso a água tratada por diversos dias.

A resposta à tragédia envolveu um esforço conjunto de militares e civis, com uma das maiores mobilizações sociais já vistas. Voluntários de todas as regiões do país vieram apoiar as operações de resgate com helicópteros e embarcações, além da construção de mais de 140 abrigos temporários, a oferta de alimentação, roupas, colchões, itens de higiene, remédios, atendimento médico. Com a diminuição do nível das águas, os moradores começaram a retornar aos seus lares destruídos para iniciar a limpeza e reconstrução.

Esse contexto crítico expôs voluntários e desabrigados a riscos significativos, incluindo doenças transmitidas pela água contaminada, como leptospirose, gastroenterites e Hepatite A, além de dengue, doenças respiratórias, picadas de animais peçonhentos, ferimentos e traumas. A saúde mental também foi severamente afetada, pela perda de lares, pertences e entes queridos, junto com o estresse e a incerteza sobre o futuro.

A mobilização de empresas, ONGs e governo, bem como de startups da área de saúde e ESG, destacou a importância da união para construção de soluções inovadoras na contenção dos efeitos desse desastre. Um destaque especial vai para a articulação de inúmeras entidades através do Pacto Alegre, que rapidamente construiu uma Estratégia de Resiliência e Inovação Social Emergencial Climática para cidade de Porto Alegre. O Pacto é um movimento que une o poder público e privado para transformar a cidade em um polo de inovação e empreendedorismo por meio de parcerias e compartilhamento de recursos.

A saúde digital para a população afetada

Dentre as iniciativas de saúde, destacam-se os diversos serviços de telemedicina oferecidos gratuitamente à população desabrigada, muitos divulgados pela secretaria de saúde do município e defesa civil. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre reuniu algumas iniciativas em seu site (Saúde divulga plataformas de teleconsultas para pessoas prejudicadas pela enchente | Prefeitura de Porto Alegre) para facilitar o acesso aos atendimentos. Empresas e startups como GrupoDoc, Startup VisionnIT, Webmed, Hospital Moinhos de Vento, Doctoralia, Grupo Tutti Saúde, Grupo Caburé, além de consultorias exclusivas para profissionais realizada pelo TelessaúdeRS/UFRGS e o Grupo de Otorrinolaringologia, fizeram parte dessas iniciativas.

No entanto, a inovação em saúde vai além da tecnologia. Essas soluções dependem de médicos e psicólogos voluntários, que, apesar de seus próprios compromissos, enfrentam a complexidade de definir protocolos assistenciais e lidar com longas filas de espera.

Mesmo a população não diretamente afetada pelas enchentes sofreu com a impossibilidade de se deslocar para atendimentos eletivos, com muitas consultas e procedimentos adiados ou cancelados devido à infraestrutura de saúde afetada, a dificuldade com suprimento de insumos hospitalares e o difícil acesso dos profissionais de saúde.

O protagonismo do Pronto Atendimento Digital (PAD)

Operadoras de planos de saúde, como a Unimed Porto Alegre, agiram rapidamente oferecendo serviços de saúde online, como o Pronto Atendimento Digital (PAD). Esta tecnologia, desenvolvida pela Laçador Digital, empresa da holding de investimentos da Unimed Porto Alegre, disponível aos clientes desde 2022, teve seu número de médicos ampliado para oferecer maior excelência, com isenção temporária de coparticipação. A triagem inicial é baseada no Sistema de Manchester (o mesmo das unidades presenciais), e a partir do sintoma relatado pelo paciente, uma árvore de decisão médica, baseada em algoritmos de inteligência artificial, orienta se o caso é grave e precisa de emergência ou se pode entrar em uma fila de atendimento online, com tempo de espera geralmente inferior a 5 minutos e um nível de satisfação de 5 estrelas em 90% dos casos.

No dia 05/05, um dos piores momentos das enchentes, houve menor acesso à plataforma devido à falha nos sinais das operadoras de telefonia e falta de energia elétrica. Nos dias subsequentes, os números de acessos aumentaram significativamente, atingindo picos recordes de toda história da solução.

Houve uma mudança no ranking das principais queixas nas buscas de atendimento. Antes das enchentes, havia muitas queixas relacionadas a sintomas gripais, como febre, dor de garganta, sinusite e congestão nasal. Após as enchentes, estes itens ainda têm procura, mas chama a atenção para o aumento de quase 10 pontos percentuais do sintoma de dor de cabeça e casos relacionados à saúde mental, como ansiedade e depressão. Também aumentaram problemas urinários, diarreia e dor lombar.

O PAD, utilizando apenas um celular ou computador conectado à internet, oferece atendimento no conforto de onde o usuário estiver, garantindo segurança ao evitar deslocamentos e economizando tempo tanto dos médicos quanto dos pacientes (em Porto Alegre, devido as enchentes, trajetos que normalmente levavam 30 minutos passaram a levar mais de 4 horas, quando possíveis).

Em resumo, o PAD, que antes era apenas uma ferramenta para reduzir a fila no atendimento presencial, se mostrou eficaz para redução de idas desnecessárias às urgências ou emergências superlotadas e ganhou uma dimensão e protagonismo nunca antes imaginados, nem mesmo durante a pandemia de COVID-19. Tornou-se a única possibilidade para muitas pessoas obterem uma consulta médica imediata, pois mesmo a Unimed Porto Alegre disponibiliza consulta de especialistas online, mas são agendados previamente, o que nem sempre é possível aguardar neste momento tão delicado.


*Diana Jardim é Gerente de Inovação da Unimed Porto Alegre.

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