Como empresas podem oferecer benefícios de saúde atraentes?

Por Fabio de Biase

Não nos surpreende que, pelo terceiro ano consecutivo, o plano de saúde desponta como um dos benefícios mais valorizados (para 69,5%) e ainda é o benefício mais ofertado (88%), segundo a Pesquisa de Benefícios de Saúde e Bem-Estar da Pipo Saúde. Entendemos que essa valorização possa estar relacionada a fatores como a pandemia da Covid-19 e epidemias de outras doenças mais recentes, que afetam de forma mais aguda os sistemas de saúde pública. Outro ponto que conta nessa valorização do plano de saúde empresarial é a dificuldade e o alto custo para se contratar um bom plano de saúde individual ou para pequenos grupos. Ou seja: mais pessoas estão dispostas a trabalharem “das 9h às 18h” em uma empresa que oferece plano de saúde.

Mas, não é de hoje que são discutidos vários dos problemas atuais que ameaçam a sustentabilidade da saúde suplementar no Brasil. E, nos últimos três anos, segundo dados levantados pela Pipo com as seguradoras, medicina de grupo e cooperativas médicas, o IVCMH – Índice de Variação dos Custos Médico-Hospitalares, (às vezes referida como “a inflação do plano de saúde”) esteve em ascensão (12.18% em 2021, passando para 14.95% em 2022 até chegar em 15.79% ao final de 2023). Assim, o VCMH contribui para o aumento da sinistralidade dos contratos e provoca um reajuste maior.

Como o mercado se adapta então?

Bem, as empresas, que são quem verdadeiramente pagam esta conta, vem sentindo o aumento dos custos nas propostas de reajuste dos seus planos de saúde. Por isso, são elas as primeiras a promoverem mudanças.

Observamos um aumento expressivo da utilização da coparticipação como uma forma de administrar os custos de saúde no curto-prazo. A maior adoção e aumento da coparticipação no plano de saúde é um movimento importante para o alinhamento de interesses entre quem usa o plano (funcionários e dependentes) e quem paga a conta (as empresas). Quando bem dimensionada, a coparticipação é muito eficaz para moderar utilização excessiva ou desnecessária do plano de saúde, sem inibir o cuidado de saúde adequado.

No final do ano passado participei de um evento muito interessante de líderes do mercado da saúde no Rio de Janeiro. Eu saí de lá com o entendimento de que o alinhamento de interesses é um dos desafios mais relevantes e antigos do nosso mercado. E é fundamental para combater problemas mais recentes, como as frequentes fraudes contra os planos de saúde, e outros menos recentes como a criação (e divulgação adequada) de padrões para avaliar a qualidade dos prestadores de forma técnica. Não há um padrão para avaliar o desfecho clínico de prestadores de forma abrangente, por exemplo.

Na ausência desses padrões, pacientes que não percebem o custo de um tratamento, uma consulta ou uma internação ficam vulneráveis aos incentivos financeiros de prestadores, e ainda aos efeitos negativos que isso pode gerar para o sistema de saúde suplementar como um todo e até ao cuidado da sua própria saúde.

Mas operadoras, prestadores ou órgãos reguladores não devem resolver o problema da sustentabilidade financeira da saúde suplementar no curto prazo e novamente vemos um papel importante das empresas. Para além das alterações de desenho de plano de saúde, a pesquisa também nos indica uma tendência cada vez maior de empresas buscarem benefícios de saúde voltados ao cuidado, à prevenção e à jornada de saúde dos seus funcionários e dependentes.

O plano de saúde é e deve continuar sendo o benefício mais valorizado para a atração e retenção de talentos pelas empresas, mas também deve continuar sendo um dos maiores custos das empresas. Portanto, todo esforço para tornar este custo sustentável a longo prazo para as empresas, é estratégico para toda uma empresa.


*Fabio de Biase é head de Relacionamento com Clientes da Pipo Saúde.

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