Estudo demonstra eficácia da oxigenoterapia nasal de alto fluxo na prevenção de intubação
Um estudo pioneiro comparou duas formas de suporte respiratório para tratar pacientes com insuficiência respiratória aguda (IRA): a oxigenoterapia nasal de alto fluxo (ONAF), administrada por meio de uma cânula nasal, e a ventilação não invasiva (VNI), que utiliza uma máscara cobrindo toda a face. O estudo, intitulado RENOVATE, acompanhou 1.800 pacientes em mais de 30 centros de pesquisa no Brasil, teve o objetivo de avaliar se o tratamento com ONAF seria tão eficaz quanto a VNI na redução das taxas de intubação ou morte nos primeiros sete dias. Realizado por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), uma iniciativa do Ministério da Saúde, o trabalho contou com a participação de pesquisadores de diversas instituições renomadas.
“Atualmente, a VNI é o tratamento padrão para pacientes com dificuldades respiratórias graves, pois reduz a necessidade de intubação e ventilação mecânica. No entanto, a máscara utilizada na VNI é frequentemente desconfortável, dificultando a adesão dos pacientes. A ONAF, por sua vez, é mais confortável, facilitando a aceitação do tratamento”, explica Israel Maia, pesquisador do Hcor.
Para chegar às suas conclusões, o RENOVATE analisou as taxas de intubação ou morte em sete dias em cinco grupos de pacientes com condições respiratórias críticas, incluindo Covid-19, pneumonia e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). “Ambos os dispositivos são eficazes, mas a ONAF se mostrou mais confortável para os pacientes, permitindo maior adesão ao tratamento. Além disso, ela reduz complicações, como úlceras e lesões de pressão na pele, que podem ocorrer pelo uso prolongado da máscara de VNI”, comenta.
Os resultados, publicados na revista da Associação Médica Americana, mostraram que a ONAF tem eficácia equivalente à VNI na prevenção de intubação, além de ser mais bem tolerada pelos pacientes. Entre as vantagens da ONAF, destaca-se o maior conforto, que permite o uso contínuo por várias horas ou dias, possibilitando que o paciente fale, coma e beba normalmente. Já a VNI é frequentemente mal tolerada devido ao desconforto da máscara e à sensação de claustrofobia, limitando o tempo de tratamento aceito pelo paciente, apesar de ser recomendado o uso contínuo por 24 horas.
Outro destaque foi a metodologia inovadora, que permitiu a análise de cinco tipos de pacientes com insuficiência respiratória em um único estudo. Essa abordagem economizou tempo e recursos financeiros, contribuindo para a eficiência do projeto.
Além da publicação na JAMA, os resultados foram apresentados no congresso CCR Down Under, em Melbourne, Austrália. O evento é reconhecido como o maior e mais respeitado fórum científico para a discussão de ensaios clínicos em terapia intensiva, reforçando a relevância e a qualidade da pesquisa conduzida no Brasil e demonstrando a capacidade do país de produzir ciência de alto impacto global e contribuir com a medicina baseada em evidências.
“Com o Renovate, buscamos não apenas melhorar a assistência em saúde pública, mas também destacar a importância da ciência brasileira no cenário internacional”, afirma Maia. O estudo tem potencial para influenciar diretrizes internacionais e práticas clínicas futuras, promovendo o uso da ONAF. “Com os resultados, esperamos melhorar a qualidade assistencial, contribuir para a atualização das diretrizes de tratamento da insuficiência respiratória aguda e ampliar o uso desse dispositivo na rede pública de saúde”, conclui Maia.