Gigantes da ortopedia global: lições e oportunidades para o Brasil em ascensão
O setor global de dispositivos ortopédicos movimentou US$ 62 bilhões em 2024, sendo que apenas oito empresas concentram mais de dois terços dessa receita. Entre elas, figuram Johnson & Johnson, com faturamento de US$ 8,9 bilhões, Stryker, com US$ 8,7 bilhões, e Zimmer Biomet, com US$ 7,4 bilhões. Companhias de médio porte, com receitas entre US$ 400 e 900 milhões, respondem por 8% do mercado, enquanto as menores, que faturam entre US$ 200 e 399 milhões, representam pouco mais de 4%.
Apesar de ainda não estar entre as gigantes globais, o Brasil começa a ganhar relevância. Startups e empresas de médio porte nacionais estão ampliando investimentos em áreas como implantes, órteses e reabilitação. Esse movimento acompanha o crescimento da demanda interna e a valorização tanto do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto da rede privada.
De acordo com Michel Goya, diretor da Associação Brasileira de Startups de Saúde e Healthtechs (ABSS) e CEO da OPME Log, o Brasil não precisa apenas acompanhar a velocidade dos líderes globais. “O país tem condições únicas para criar soluções próprias, adaptadas à nossa realidade e exportáveis para o mundo”, explica.
O envelhecimento populacional e a maior procura por procedimentos ortopédicos têm impulsionado os grandes players internacionais. Nos Estados Unidos, a Zimmer Biomet elevou suas projeções de lucro para 2025, impulsionada pelo aumento nas vendas de implantes de quadril e joelho e pelo crescimento de tecnologias como os sistemas robóticos cirúrgicos. Já a britânica Smith & Nephew, mesmo sob pressão acionária para reestruturar sua divisão de ortopedia, apresentou recuperação nas vendas de implantes graças a estratégias de produção global e redução de tarifas.
Esses exemplos reforçam como escala, inovação tecnológica e flexibilidade estratégica são essenciais para prosperar nesse segmento. No Brasil, fatores como a diversidade regional, as parcerias público-privadas e a mão de obra qualificada criam um terreno fértil para avançar. “O SUS, pela sua capilaridade, pode ser um campo de testes e validação para novas tecnologias — desde órteses adaptativas até sensores biomecânicos — reduzindo custos e ampliando o acesso da população. Nossa indústria, mesmo com menor escala, tem agilidade para adaptar e customizar tecnologias a um país continental”, reforça Goya.
O fortalecimento das parcerias entre empresas, universidades e centros de pesquisa também pode acelerar a criação de soluções para osteoartrite, reabilitação funcional e capacitação profissional. Um exemplo do avanço nacional é a Víncula, investida do Pátria com foco em ortopedia, coluna, trauma e crânio-maxilofacial. A companhia alia inovação, qualidade e acessibilidade, com produtos como endopróteses e sistemas modulares cirúrgicos adaptados à realidade latino-americana.
De acordo com a ABIMED, que representa cerca de 65% do faturamento do setor de dispositivos médicos no país, políticas públicas que incentivem pesquisa e desenvolvimento, aliadas a parcerias estratégicas, podem transformar o Brasil em um protagonista do mercado de ortopedia na América Latina.
“Se a liderança global já decolou, o desafio brasileiro é acionar também sua turbina nacional e voar com autonomia, inovação e relevância”, conclui Michel. Tal como em um avião bimotor, a turbina global garante o alcance e a força, mas é preciso que a turbina nacional opere em plena potência para que o país decole com segurança e protagonismo.