One Health: o conceito e os desafios da implementação

Por Nathan Mendes Souza

Recentemente, o termo One Health vem ganhando espaço maior nas discussões científicas sobre saúde. No português, a Saúde Única representa uma visão integrada, que considera a indissociabilidade entre saúde humana, saúde animal e saúde ambiental. O conceito foi proposto por organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), reconhecendo que existe um vínculo muito estreito entre o ambiente, as doenças em animais e a saúde humana. Mas quais seriam os desafios em promover uma oferta de saúde que contemple todos esses eixos?

Quando pensamos em Saúde Única, referimo-nos à formação de profissionais de diversos eixos além da medicina humana – como enfermagem, biologia, medicina veterinária, farmácia, engenharia ambiental, segurança alimentar, entre outros. Para que esse conceito venha da graduação, passe por uma extensão e deságue na oferta de serviços, toda essa gama de profissões precisa estar devidamente capacitada para prover os elementos imprescindíveis a uma saúde planetária.

Tendo em vista que as ameaças à saúde são impulsionadas por fatores como expansão populacional, urbanização, comércio, transporte, modelos insustentáveis de produção e consumo, mudança no uso da terra, mudanças climáticas, intensificação dos sistemas alimentares e perda de biodiversidade e habitat, a Saúde Única tem como premissa a transdisciplinaridade e a intersetorialidade, conforme prevê o Ministério da Saúde. Assim, todas as atuações profissionais nos setores públicos, privados e no terceiro setor precisam fazer parte de soluções loco-regionais, nacionais e globais.

Hoje, cerca de 60% das doenças humanas e 70% das doenças emergentes e reemergentes têm em seu ciclo a participação de animais, portanto, são zoonóticas. Desta forma, um modelo amplo de entendimento da saúde define políticas, legislação, pesquisa e implementação de programas em que múltiplos setores se comunicam e trabalham em conjunto nas ações para a diminuição de riscos e manutenção da saúde. Essa integração pode contribuir para a eficácia das ações em Saúde Pública, com redução dos riscos para a saúde global.

Ao atuar na implementação de respostas conjuntas aos problemas de saúde, a abordagem possibilita aprimorar ações integradas que, entre outros vieses, contribuem coletivamente para: vigilância, prevenção e controle de zoonoses e doenças tropicais negligenciadas e doenças transmitidas por vetores; qualificação da prevenção, preparação e resposta frente a epidemias e pandemias; promoção da segurança alimentar e transformação dos sistemas agroalimentares; controle de contaminantes químicos, biológicos e físicos; proteção da biodiversidade e melhoria do gerenciamento dos ecossistemas; enfrentamento e adaptação às mudanças climáticas.

Existe, na atenção primária à saúde, o controle de zoonose integrado a equipe de saúde da família, nas unidades básicas de saúde do SUS. No componente suplementar do SUS, ainda não há um modelo que prevê essa interação com as vigilâncias ambiental e de saúde animal, interligando as áreas na prestação do serviço.

Para além dos desafios de gestão, integração e oferta, é importante destacar outro importante fator, que muito tem a ver com os reflexos culturais da forma como a saúde é observada: a conscientização da saúde planetária ainda é um conceito a ser compreendido pela sociedade. Trata-se de um nível de consciência expandido acerca da interdependência entre os fatores que mantém a vida no planeta Terra. Isso é um trabalho que precisa ser feito a curto e longo prazo, em crianças, jovens, adultos, em profissionais, em empresas e ONGs para impedirmos as atuais enchentes trágicas no Rio Grande do Sul e a savanização da Amazônia e, assim, garantirmos a sustentabilidade da vida no planeta Terra.


*Nathan Mendes Souza é Médico da Família e Comunidade, diretor regional da Inspirali e professor dos cursos de Medicina do UniBH e da UFMG.

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