70% dos homens não costumam ir ao urologista
Com o objetivo de entender o nível de conhecimento dos homens sobre os tipos de câncer urológicos masculinos e, com isso, contribuir para diminuir a desinformação sobre a doença no Brasil, o Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) aplicou o questionário “O que os homens sabem sobre os tipos de câncer urológicos que são exclusivos ou predominantes ente o público masculino?”. As doenças em questão são os cânceres de próstata, pênis, bexiga e testículo.
O questionário on-line, aplicado junto a uma amostra de conveniência, contou com a adesão de 265 de homens a partir de 18 anos. Mais da metade dos entrevistados (56,6%) tinham mais de 45 anos. No recorte socioeconômico, apenas 16,7% marcaram suas consultas no último ano pelo Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto 69,3% o fizeram pela Saúde Suplementar e 14% afirmaram que não foram ao médico ao longo do último ano.
Em relação ao nível de instrução apresentado na amostra, 64,5% têm ensino superior completo (graduação, pós-graduação, mestrado ou doutorado). A principal ocupação apontada foi profissional liberal (29,4%), seguido por profissional CLT (27,2%). Apenas 5,6% dos participantes da pesquisa estão desempregados.
“Acreditamos que a primeira reflexão que podemos fazer diz respeito ao público que conseguimos atingir com nossas campanhas de conscientização. Avaliar se, de fato, elas estão chegando e impactando, com equidade, todas as camadas da sociedade. Quanto mais informação qualificada nós sejamos capazes de difundir, melhor a população vai prevenir, diagnosticar precocemente e aderir ao tratamento”, explica o cirurgião oncológico, Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Proximidade e sentimentos
Entre os entrevistados, apenas 26,1% disseram não ter ou conhecer alguém que teve câncer de próstata, pênis, testículo ou bexiga. Ao todo, 73,1% disseram conhecer um familiar ou amigo diagnosticado com ao menos um destes tumores e outros 4,9% disseram ter a doença. Ao serem perguntados sobre qual tipo de câncer esses conhecidos ou eles próprios tinham o mais comum foi câncer de próstata (84%).
Ao serem perguntados sobre qual é a primeira palavra que eles pensam quando o tema é câncer a mais assinalada foi tratamento (32,2%), superando termos associados com sentimentos mais tristes como medo (25,4%), sofrimento (24,2%) e morte (10,2%).
Por sua vez, quando questionados se, em caso de diagnóstico de câncer, o que o deixaria mais preocupados, a maioria assinalou medo de morrer pela doença (55%). “Chama a atenção também o fato de 16% terem apontado que o motivo de maior preocupação seria a doença interferir em sua vida sexual e outros 7,3% de ficar com incontinência urinária. São preocupações maiores do que a possibilidade de não poder ter filhos, que foi apontada por apenas 2,3%”, analisa Gustavo Guimarães”.
Quando perguntados sobre o que melhor retrata a forma de se relacionar com a pessoas conhecidas que tiveram câncer a maioria (66,5%) responderam que a relação com a pessoa não mudou após saber da doença. Outros 13,8% disseram que foram muitos presentes durante o tratamento; 6,9% que a doença deixou a relação mais próxima; 5,9% acabaram se afastando por não saber como agir e não queriam ser invasivos; 5,3% queriam ter oferecido mais apoio e 1,6% responderam que ficaram aliviados de não terem sido eles a pessoa diagnosticada.
Mitos e Verdades
No questionário, algumas perguntas trouxeram afirmações para as quais os participantes poderiam responder falso, verdadeiro ou não sei. Em relação ao câncer de próstata, as principais observações são que 93% sabem que o exame de sangue PSA e o exame clínico de toque retal são fundamentais para o diagnóstico precoce e 81% disseram corretamente ser falso que só desenvolve câncer de próstata quem já teve algum caso de câncer na família.
Sobre câncer testículo, destaque para o fato de 86% saberem que os principais sintomas são presença de nódulo ou inchaço. Por sua vez, 44,2% não souberam apontar ao menos uma causa da doença e 25% dos entrevistados afirmaram que esta é uma doença rara, com a qual ninguém precisa se preocupar.
Há dados que também demonstram desconhecimento quanto ao câncer de pênis. Ao todo, 43% responderam que não sabem ou que é mentira que se o câncer de pênis não for tratado logo, há risco de precisar amputar o órgão. Além disso, 47% não sabem ou disseram ser falso que o vírus HPV pode ter relação com a doença.
Mães
Quando perguntados sobre quais são os fatores que podem aumentar o risco para câncer de pênis a maioria (72,1%) responderam corretamente que são os maus hábitos de higiene. Na sequência, 77,2% apontaram que, ao longo da vida, receberam orientação sobre como lavar o pênis. Chama a atenção o fato de as mães serem as que mais ensinaram esse hábito. Elas foram mencionadas por 28,3 dos respondedores. Os pais foram citados como os responsáveis por esse ensinamento por 17,9% dos entrevistados, mesmo percentual em relação aos médicos. Os meios de comunicação foram apontados por 18,4% e os professores por 6,1%.
Cuidados durante a pandemia
A pesquisa também traçou o perfil do cuidado com a saúde em tempos de Covid-19. A boa notícia é que apenas 7,2% disseram que, durante a pandemia, só deve ir ao médico quem já tem um diagnóstico de câncer e está em tratamento e apenas 4,9% afirmaram que o câncer não surge inesperadamente e que é possível esperar passar este momento pandêmico para voltar à rotina de exames. Um ponto negativo é que 13,6% responderam que já não iam ao médico e agora continuam não indo. Positivamente, mais de 60% entendem que é importante manter a rotina de exames preventivos e, todos que apresentam sintomas devem procurar um médico.