Medicina sob um olhar integrativo. Conheça o projeto-piloto do HC

Por Haino Burmester

A preocupação com a saúde física e mental, o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas e dos profissionais de saúde cresceu muito desde a pandemia da Covid-19, que expôs vulnerabilidades da população com o impacto de demandas físicas e emocionais que se mantêm até hoje, mesmo tendo passado o período crítico da doença. Especialmente, a saúde mental passou a chamar ainda mais a atenção da comunidade médica para os indícios preocupantes do aumento do sofrimento psicológico, dos sintomas psíquicos e transtornos mentais.

No Brasil, cinco em cada dez brasileiros (52%) acreditam que a saúde mental é o principal problema do país em termos de bem-estar da população. Os dados foram apurados pela pesquisa “Global Health Service Monitor 2023”, realizada pela Ipsos. Comparativamente, a média global de preocupação com a saúde mental está em 44%, 17 pontos percentuais a mais do que o observado em 2018.

Tendo em vista esse cenário, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) vem priorizando um olhar integrativo para a saúde das pessoas a partir da implantação de um projeto-piloto – o Projeto Ser Integral – visando o bem-estar e a promoção da saúde para seus funcionários por meio da atuação de uma equipe interdisciplinar que reúne habilidades e atua sinergicamente.

A proposta segue a tendência de focar “menos na doença e mais na prevenção, promoção da saúde e bem-estar”. Isso significa manter as pessoas fora do hospital pelo maior tempo possível. Para tanto, é preciso que a comunidade médica atue para ajudar a população assim como os profissionais de saúde a administrar ativamente sua saúde fornecendo-lhes os recursos adequados para isso.

A pesquisa Vigitel 2021 do Ministério da Saúde feita, por telefone, com 27.093 pessoas com 18 anos ou mais, de todas as capitais brasileiras e do Distrito Federal, entre os meses de setembro de 2021 e fevereiro de 2022, apontou que 9,1% das pessoas no país têm diabetes enquanto cerca de 11,3% dos brasileiros relatam um diagnóstico médico de depressão, sendo maior entre as mulheres (14,7%) do que entre os homens (7,3%). Como se trata de uma doença “silenciosa” e cercada de tabus, os casos ainda tendem a ser subnotificados, segundo os pesquisadores.

Os dados reforçam a importância da alfabetização em saúde mental, a fim de extinguir o estigma que essas doenças ainda carregam para que, assim, pessoas afetadas sintam-se confortáveis em buscar tratamento adequado e possam se recuperar.

Neste contexto, o Projeto Ser Integral vai criar no HCFMUSP um centro de bem-estar hospitalar e promotor de saúde oferecendo uma ampla variedade de serviços, no próprio complexo do Hospital desde consultas médicas, aulas, palestras, massagens, psicoterapia, acupuntura, exercícios físicos orientados, meditação, ioga terapia, aurículo terapia, cromoterapia e outras práticas integrativas para seus servidores, assegurando o bem-estar e o seu comprometimento com a própria saúde.

A experiência vivenciada pelo projeto piloto realizado pela equipe do HC já sinaliza o engajamento positivo dos participantes. Dos 50 servidores que se inscreveram no Projeto Piloto, trinta e quatro, 65%, completaram todas as fases. 60% por cento destes disseram que sua qualidade de vida melhorou e 13% afirmaram que sua qualidade de vida melhorou muito, após a participação no Projeto. No total, 66% dos participantes disseram que sua saúde está boa ou muito boa, após participar do Projeto Piloto. Cinquenta e sete por cento dos participantes disseram que o número de dias que faltou ao trabalho diminuiu após participar do Projeto. Em relação à prática de yoga, 60%, em relação à meditação, 27% e à prática de exercício físico, 47%, disseram que, após o Projeto, o faz regularmente.

Coordenado pelo HCX da FMUSP, o projeto Ser integral oferece trilhas de conhecimento para melhorar o bem-estar físico, mental, social e espiritual de indivíduos e populações. O objetivo é ter uma população feliz e comprometida com sua própria saúde e, futuramente, expandir o projeto também para a população.

A ideia é expandir o projeto beneficiando diretamente cinco mil e indiretamente os vinte mil servidores do HCFMUSP, uma vez que os participantes diretos servirão como agentes de mudanças extensivas a toda a população do Complexo. O Projeto se desenvolverá ao longo de 5 anos absorvendo a cada ano um quantitativo de, aproximadamente, 1.000 Servidores divididos em quatro grupos que participarão de diversas atividades que incluem os oito componentes do Ser Integral HC.

O complexo HC, tendo como parte de sua missão a pesquisa, além do ensino e atendimento, deverá aproveitar este Projeto como porta de entrada para maior envolvimento científico com práticas integrativas, além de sua preocupação com o bem-estar dos servidores que nele trabalham e demais pessoas que possam ter sido influenciadas, ampliando ainda mais o alcance e êxito do projeto.


*Haino Burmester é professor no HCX FMUSP.

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