Dados mostram que mulheres negras morrem mais por câncer

Um estudo apresentado na ASCO 2025, principal congresso mundial de oncologia, trouxe luz a um tema que, embora urgente, ainda é pouco debatido na prática clínica: o impacto da desigualdade racial nos desfechos do câncer. O trabalho, conduzido pela oncologista brasileira Abna Vieira, da Oncoclínicas, visa reduzir a disparidade racial na assistência ao câncer de colo do útero. Através de medidas antiracistas, baseando-se na iniciativa ACCURE, pretende-se aumentar o número de pacientes que completam o tratamento definitivo com quimioradioterapia para câncer de colo de útero.

Análise, publicada na revista Breast Cancer Research and Treatment, analisou as taxas de incidência e mortalidade por câncer de mama entre diferentes grupos raciais nos Estados Unidos. Os resultados mostraram que, apesar da taxa média de incidência ser mais alta entre mulheres brancas, as mulheres negras são diagnosticadas em estágios mais avançados da doença (60,1% versus 50,6%) e enfrentam uma taxa de mortalidade 3,83 vezes maior.

Além disso, aproximadamente 60% das pacientes negras com câncer de colo de útero recebem o diagnóstico em estágios localmente avançados ou avançados, o que compromete a eficácia do tratamento. Curiosamente, a taxa de incidência de cancro de colo de útero entre mulheres negras é quase 50% maior que entre mulheres brancas, evidenciando uma disparidade significativa que não pode ser ignorada.

“Meu trabalho é focado no câncer do colo do útero, mas essa discussão se estende a todas as neoplasias. Nos Estados Unidos, pessoas negras com câncer têm taxas de mortalidade mais altas em comparação com pessoas brancas. Considerando que o Brasil é um país extremamente diverso, com 56% da população negra, é fundamental que a gente assuma o protagonismo nesse diálogo”, destaca Abna Vieira.

A oncologista também chamou atenção para outro dado discutido durante o congresso: um estudo apresentado na sessão de mama revelou que mulheres negras com câncer de mama HER2 positivo, recebendo a terapia padrão, têm maior taxa de mortalidade do que mulheres brancas com o mesmo diagnóstico e recebendo o mesmo tratamento. O dado evidencia que, mesmo em cenários onde há avanços tecnológicos significativos, como terapias-alvo, barreiras sociais e o racismo estrutural seguem impactando a sobrevida.

A pesquisa reforça que a disparidade racial no câncer de colo do útero não se limita a fatores biológicos, mas está diretamente relacionada ao acesso limitado à prevenção, como rastreamento por meio do exame de Papanicolau e vacinação contra o HPV, além de um diagnóstico mais frequente em estágios avançados da doença. Um estudo publicado pela Revista de Saúde Pública mostra que mulheres negras acessam menos os exames preventivos de Papanicolau e demoram mais para receber diagnóstico e início de tratamento.

“Soma-se a isso o menor acesso a terapias de alta complexidade, barreiras econômicas, geográficas e institucionais que dificultam o tratamento, e, sobretudo, o impacto do racismo estrutural presente nos sistemas de saúde.”

Cenário brasileiro exige olhar atento

No Brasil, os dados seguem a mesma tendência. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que o câncer de colo do útero é a quarta causa de morte por câncer entre mulheres, sendo ainda mais prevalente nas regiões Norte e Nordeste, onde há maior concentração de população negra e parda. Segundo um levantamento do Ministério da Saúde, mulheres negras no Brasil têm 1,5 vez mais chances de morrer por câncer de colo do útero do que mulheres brancas.

“Felizmente, esse é um assunto que vem ganhando cada vez mais adeptos e pesquisa envolvida”, destaca a oncologista. “Mas é fundamental que, enquanto sociedade, principalmente em um país tão diverso quanto o Brasil, a gente traga esse debate para a linha de frente, tanto na assistência quanto nas políticas públicas e na pesquisa clínica”, conclui.

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