Como definir se um exame é necessário ou não?

Por Osvaldo Landi

De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o número total de exames e procedimentos realizados por beneficiários de planos de saúde alcançou quase 1,1 bilhão no país, apenas em 2022. Em média, cada pessoa fez 22,2 exames, uma quantidade maior que nos anos anteriores e que desperta a atenção do setor sobre a real necessidade dos exames. Nos estabelecimentos de saúde, estes dados são confirmados diariamente, fomentando a discussão entre os profissionais sobre os impactos de exames desnecessários, seja na rede privada, seja na pública, onde nós, da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI), temos forte atuação.

É importante ao setor de saúde encontrar oportunidades de melhorias nesta questão, baseada em avaliação sobre o desperdício de recursos e do tempo do paciente e dos profissionais. Existe um consenso na área médica que aponta que grande parte de exames, testes, tratamentos e procedimentos poderiam ser evitados. Porém, ainda é difícil medir se um procedimento é inapropriado ou não, além de controvérsias sobre metodologias de diagnóstico seguidas por cada médico.

Um aspecto relevante a ser considerado é o impacto da realização excessiva de exames na saúde dos pacientes. Além dos custos financeiros, a exposição repetida a radiações em exames de imagem, como radiografias e tomografias, pode ter efeitos prejudiciais acumulativos.

Estes riscos são frequentemente subestimados, e a falta de uma estratégia de avaliação criteriosa pode levar a um aumento desnecessário da carga de radiação sobre os pacientes. O equilíbrio entre a realização de exames necessários e a prevenção de procedimentos desnecessários é fundamental para a saúde do indivíduo e a eficiência do sistema de saúde.

Algo que se considera fundamental nesta avaliação é que o médico frequentemente não tem acesso ao histórico de saúde do paciente. Muitos pacientes não possuem um registro centralizado e acessível de seus procedimentos anteriores, seja em formato impresso ou digital. A falta de continuidade na documentação do histórico de saúde contribui para a dificuldade de avaliar a real necessidade de novos exames. Estes são somente alguns exemplos da diversidade de condições em que os profissionais da linha de frente enfrentam na hora de decidir pelo exame ou não, pois a sobrecarga de solicitações pode não ser boa para todos os envolvidos: paciente, rede de atendimento e prestadores de serviços em diagnóstico por imagem, um verdadeiro xadrez em 4D.

Associado às demandas dos envolvidos, há uma cultura nacional que valoriza a realização de um maior número de exames como um indicativo de qualidade e assertividade na avaliação médica. Isso pode estar relacionado aos tempos curtos das consultas médicas, frequentemente insuficientes para estabelecer uma relação de confiança entre médico e paciente. Quando um médico solicita poucos exames, pode ser percebido como menos comprometido ou interessado. Em resposta, pacientes podem buscar uma segunda opinião ou optar por realizar exames adicionais em outro profissionais, levando a um ciclo de exames desnecessários e atrasando o início do tratamento.

A recomendação é fortalecer a relação médico-paciente, realizar treinamentos contínuos para as equipes de atendimento nos prestadores de serviços de exames e implementar campanhas de prevenção à saúde para promover mudanças na cultura nacional. Melhoria na comunicação entre médicos e pacientes, bem como o uso de tecnologias para manter registros médicos mais completos e acessíveis, são passos cruciais para reduzir a incidência de exames desnecessários. As campanhas educativas podem esclarecer a importância de realizar exames com base em evidências e promover uma abordagem mais centrada no paciente, resultando em um sistema de saúde mais objetivo.

A partir dos dados sobre exames desnecessários, conseguimos ver apenas a ponta do iceberg dos impactos do volume de exames realizados no país. Contudo, a mitigação dos prejuízos, incluindo os financeiros ao sistema público de saúde, depende da participação ativa de todos os envolvidos. O diagnóstico é um ato médico que deve ser respeitado, e a participação do paciente nesta decisão é fundamental para a definição dos procedimentos mais adequados para cada caso. A colaboração entre médicos, pacientes e o sistema de saúde é essencial para garantir que os exames realizados sejam realmente necessários e benéficos, promovendo um sistema de saúde mais centrado no paciente e mais sustentável a longo prazo.


*Osvaldo Landi é gerente Médico de Inovação & Dados da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI)

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