Navegação de pacientes: um norte para aprimorar os cuidados com o câncer de mama no Brasil
No 10º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), que será realizado de 26 a 28 de setembro, em São Paulo, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) destaca a importância do Programa de Navegação de Pacientes para melhorar o acesso aos cuidados em oncologia no País. “O sucesso no tratamento de um câncer de mama está condicionado a muitos determinantes”, observa a mastologista Sandra Gioia, presidente do Departamento de Políticas Públicas da SBM e movimentadora do congresso TJCC. “Todas as barreiras sociais, políticas e econômicas enfrentadas pelas pacientes menos favorecidas afetam a sobrevida e a mortalidade, razão pela qual a navegação é extremamente importante no contexto brasileiro”, afirma.
A navegação de pacientes passou a ser aplicada como metodologia no Brasil somente na década de 2010. Nos Estados Unidos, foi colocada em prática nos anos 1980, a partir da iniciativa do médico Harold Freeman. Ao tratar mulheres com câncer de mama no Centro Hospitalar do Harlem, em Nova York, o especialista realizou tratamentos idênticos, mas percebeu diferenças significativas nos índices de cura entre brancas e negras. As pacientes negras, constatou Freeman, não conseguiam se tratar da mesma forma que as brancas, pois precisavam vencer inúmeros desafios diários. Receio de perder o emprego, cuidados com os filhos, falta de dinheiro para custear o transporte até o hospital, entre outros fatores, foram apontados como barreiras para realizar os procedimentos oncológicos.
Com o propósito de auxiliar as mulheres a superarem os entraves para o tratamento correto do câncer de mama, Freeman criou a “navegação de pacientes”. “A navegação é um processo proativo e intencional de colaboração com a paciente enquanto se transpõe o labirinto de tratamentos e barreiras quando se tem câncer”, explica a médica Sandra Gioia, da SBM. “O navegador de paciente é um profissional de saúde que trabalha também com os familiares, os cuidadores e demais profissionais para identificar obstáculos ao tratamento e fornecer ajuda e recursos que possam superar ou remover barreiras institucionais, socioeconômicas e pessoais para acesso aos cuidados”, completa.
No Brasil, a Lei nº 14.450, de 22 de setembro de 2022, criou o Programa Nacional de Navegação de Pacientes para Pessoas com Neoplasia Maligna de Mama no SUS (Sistema Único de Saúde). Entre os objetivos da navegação de pacientes estão previstos a viabilização do diagnóstico do câncer de mama no prazo inferior a 30 dias, conforme a Lei nº 13.896/2019, e o início do tratamento em centro especializado em prazo igual ou inferior a 60 dias (Lei nº 12.732/2012).
Para Sandra Gioia, os programas de navegação de pacientes, “com a inclusão do navegador nas equipes de saúde” trazem inúmeros benefícios. “Os navegadores avaliam e compreendem as necessidades físicas, emocionais, informativas e logísticas da paciente”, afirma. Mas, segundo a mastologista, ainda há nestes programas a possibilidade de aprimoramentos importantes para os sistemas de saúde oferecidos no País. “Podemos destacar entre esses aperfeiçoamentos a ampliação do rastreamento na atenção primária de saúde, o diagnóstico precoce da doença, a celeridade para início do tratamento, assim como a melhoria da qualidade dos procedimentos, o letramento (educação) em saúde e, finalmente, a satisfação do paciente a partir da experiência na utilização dos serviços médicos.”
Os dois painéis na 10ª edição do Todos Juntos Contra o Câncer, organizados pela Sociedade Brasileira de Mastologia, estão previstos para o dia 28/09. O primeiro, com início às 9h, é “Navegação de pacientes para melhorar o acesso aos cuidados em oncologia”. O segundo, a partir das 11h, tem como tema “Navegação de pacientes: fazendo a diferença para todos”. O evento será realizado presencialmente no WCT Events Center, e também em formato híbrido e on-line. A programação completa pode ser acessada em congresso.tjcc.com.br.
“A integralidade favorecida pela navegação de pacientes auxilia na articulação de diversos saberes e de níveis de prestadores de saúde”, diz a mastologista Sandra Gioia, da SBM. “Quando isso ocorre no mundo real, enfrentamos os problemas que de fato precisam ser superados com soluções que façam sentido para quem mais importa: a paciente.”