Fundação Gates seleciona startup brasileira para projeto de IA generativa
A healthtech brasileira Munai foi selecionada pela Fundação Bill & Melinda Gates para desenvolver um projeto de inteligência artificial na área da saúde. A empresa se destacou entre os mais de 1300 projetos submetidos à avaliação da fundação, que estava em busca de iniciativas que pudessem criar soluções de impacto social para questões globais a partir de tecnologia de Large Language Models (LLM), como ChatGPT. O projeto visa atuar em um dos maiores problemas sanitários do mundo que é a resistência antimicrobiana (AMS), o uso desnecessário de antibióticos e a falta de adesão ao Programa de Gestão de Antimicrobianos (ASPs) devido à complexidade desses protocolos.
O projeto selecionado é um assistente virtual que irá automatizar protocolos hospitalares e integrar a tecnologia avançada de conversação por inteligência artificial, especialmente o GPT-4, da OpenAI, e outros modelos de Linguagem de Grande Escala (LLM), à plataforma de Inteligência Clínica da Munai para melhorar a adesão aos ASPs, aprimorando a acessibilidade, interpretação e aplicação dos protocolos institucionais. Na prática, a tecnologia funcionará como uma ferramenta de suporte à decisão clínica, auxiliando médicos e prescritores no uso racional de antibióticos.
De acordo com Hugo Morales, médico infectologista e fundador da Munai, essa é uma preocupação importante para a saúde pública global, especialmente em países de baixa e média renda. “É alarmante pensar que, nos dias de hoje, cerca de metade das prescrições de antibióticos são desnecessárias, o que contribui para o aumento global de resistência antimicrobiana. A falta de acesso a protocolos de antimicrobianos locais atualizados e dificuldades em obter um histórico médico completo dos pacientes no ambiente hospitalar são as principais causas para essas falhas na prescrição”, explica Morales. Além disso, os desafios apresentados pela resistência antimicrobiana (AMR) são agravados pelas limitações na infraestrutura de saúde desses países e pela falta de recursos para uma vigilância e controle eficazes de doenças, o que sinaliza a urgente demanda por soluções para gerir a questão.
No Brasil, a AMR é um problema cada vez mais grave. Em 2020, uma análise realizada pela revista The Lancet mostrou que cerca de 23% das infecções no país são causadas por bactérias resistentes a antibióticos. Além disso, um estudo publicado no Journal of Global Antimicrobial Resistance, em 2021, estimou que infecções multirresistentes a medicamentos causaram cerca de 7.700 mortes em hospitais brasileiros no ano de 2017, com um custo estimado de US$ 72 milhões apenas para estadias hospitalares adicionais. Mas esse cenário não é exclusivo do Brasil, já que países de baixa e média renda frequentemente apresentam altas taxas de uso de antibióticos. Além disso, apenas na América Latina, o prejuízo econômico pode chegar a US$ 100 bilhões até 2050, segundo aponta a Organização Pan-Americana da Saúde.
A solução a ser desenvolvida pela Munai, com apoio da Fundação Bill & Melinda Gates, encontra um campo fértil no atual momento da saúde digital no país. Recentemente, um acordo de cooperação técnica foi assinado entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação com objetivo de unificar e informatizar os serviços hospitalares por meio de um prontuário eletrônico gratuito para o SUS (Sistema Único de Saúde). A decisão representa um incentivo à proposta da Munai, uma vez que sua tecnologia poderá ser totalmente integrada ao prontuário eletrônico.
Como selecionada do programa, a Munai receberá investimento de US$ 85 mil, apoio para o desenvolvimento da tecnologia e todo o suporte em relação às práticas legais, éticas, de segurança e de qualidade. Além disso, criar a solução em parceria com fundação permite uma escala global do projeto, já que eles serão validados para serem aplicados posteriormente em mais de 29 hospitais brasileiros que já fazem parte da rede Munai, hospitais públicos e instituições internacionais de saúde.
“Para a criação de soluções que usam Inteligência Artificial e ChatGPT, a quantidade e a qualidade de dados é fundamental para informações mais precisas. Na Munai, temos mais de 15 milhões de dados e 6 milhões de pacientes únicos, o que nos garante uma das bases de dados de maior valor do setor”, conta Cristian Rocha, fundador e CEO da Munai.
A Munai já está no estágio de coleta de informações para treinar a inteligência artificial para responder todas as questões médicas referentes a protocolos hospitalares e o objetivo é aumentar a adesão ao protocolo clínico e tornar o serviço de saúde mais eficiente. Os primeiros resultados sairão em outubro e a primeira fase já tem capacidade de escala para nível global.