A necessidade de mudanças na formação médica

Por Diego Gadelha

No final do ano passado, o Brasil somava a marca de 564.363 médicos diplomados, registrando quase 2,7 profissionais a cada mil habitantes, segundo dados do Conselho Federal de Medicina (CFM). O resultado já coloca o país na frente de nações como Estados Unidos, Japão e China na proporção doutor por habitante. Apesar de preliminarmente o número apresentar um aspecto positivo, na prática, ele abre caminho para algumas preocupações e desafios, sobretudo no que diz respeito à qualidade do ensino e, consequentemente, na assistência à população.

Temos visto nos últimos anos, por exemplo, o aumento de escolas médicas no Brasil sem que haja critérios técnicos tão rigorosos. Isso, certamente, traz um cenário preocupante porque além do crescimento desenfreado do número de profissionais, gera um impacto direto na formação dos futuros médicos, que, muitas vezes, não recebem a preparação adequada para atuar no dia a dia.

E quando falamos sobre a formação médica, entramos em um tema ainda mais espinhoso. Isso porque já passou da hora de ocorrer mudanças substanciais na metodologia de ensino da medicina. Hoje, ainda estamos diante de um sistema educacional enraizado em processos antiquados, em que o aluno é visto somente como um agente passivo, consumindo conhecimento por meio de aulas expositivas e observando procedimentos clínicos sem qualquer participação direta.

Esse tipo de metodologia, sem o vetor experimental da profissão, está longe de ser o ideal para a prática médica. Afinal, mais do que um vasto conhecimento teórico, é necessário contar com habilidades práticas e competências emocionais. Por isso, é de suma importância que o aluno seja colocado cada vez mais no centro de sua formação.

O grande ponto, nesse sentido, é prover aos futuros médicos todas as chamadas “competências” essenciais. Obviamente não podemos negar que a base teórica faz parte dos elementos fundamentais, porém ela não deve se sobressair diante de outros fatores como a tomada de decisão clínica, empatia e comunicação efetiva. Sem o alicerce desses recursos, o conhecimento teórico torna-se insuficiente para prestar um atendimento humanizado e de qualidade.

Outro ponto crucial envolve a necessidade dos médicos buscarem constantemente novos conhecimentos. A formação médica nunca pode se limitar somente ao que é aprendido durante a graduação. Até porque, medicina é uma das áreas que mais se atualiza diante do novo, principalmente no que diz respeito aos avanços da tecnologia, que trazem novas dinâmicas e formas de atuação.

Portanto, a capacitação contínua, seja por meio de cursos ou especializações, transcende o simples aprimoramento profissional. A iniciativa representa uma responsabilidade ética e um requisito fundamental para a excelência no cuidado.

Vale ressaltar ainda que o uso massivo da tecnologia, porém, não quer dizer que o profissional tenha que perder de vista o lado humano de sua profissão. Afinal, o recurso nunca substituirá a empatia e o acolhimento, elementos fundamentalmente humanos e essenciais para o êxito no tratamento de qualquer paciente.

Diante de todo o contexto, o fato é que o modelo educacional precisa adaptar-se à realidade contemporânea. A formação médica precisa priorizar a experiência prática, aproximando o aluno da realidade do exercício da profissão. Só assim os futuros doutores serão capazes de desenvolver habilidades clínicas e emocionais para atuar no dia a dia. Sem essa transformação, a quantidade de médicos formados no Brasil tende a não refletir exatamente em melhorias efetivas para o nosso sistema de saúde. Não podemos esperar muito mais tempo por essa mudança de paradigma.


*Diego Gadelha é diretor do HELP e diretor da Faculdade de Medicina da UNIFACISA.

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