Estudo inédito do Einstein revela disparidades em monitoramento glicêmico
O Einstein apresentou o primeiro e maior estudo com dados de mundo real sobre monitoramento glicêmico no Brasil. Publicada na revista científica Diabetology & Metabolic Syndrome, a pesquisa analisou informações de mais de 12 mil usuários da plataforma digital Glic/Afya e revelou que, apesar dos avanços tecnológicos, o método de glicemia capilar (BGM), popularmente conhecido como “ponta de dedo”, ainda é o método mais utilizado por 86,5% dos pacientes. Isso se deve, sobretudo, ao fato de ser o único método oferecido gratuitamente pelo SUS.
Em contraste, o monitoramento contínuo por flash (fCGM), mais preciso e em tempo real, utilizado por apenas 13,5% dos pacientes, ainda que inacessível para grande parte da população, demonstrou uma tendência a melhores resultados no controle glicêmico entre pessoas com diabetes tipo 1 e LADA (Diabetes autoimune latente do adulto). Além disso, o uso mais frequente da plataforma Glic/Afya foi identificado como um dos fatores associados a um melhor controle glicêmico, destacando o papel fundamental da autonomia e da autogestão no sucesso do tratamento.
“Este estudo é fundamental para a população, pois há pouca disponibilidade de dados sobre o uso do sistema de monitoramento flash de glicose (fCGM) em países de baixa e média renda, como o Brasil, assim como sobre as plataformas digitais de saúde mais utilizadas para o cálculo de doses de insulina bolus, ou seja, de ação rápida ou ultrarrápida”, comenta Karla Espirito Santo, médica cardiologista e Head de Estudos Descentralizados e Modelos Inovadores de Trials da Academic Research Organization do Einstein.
A pesquisadora salienta que, no sistema público de saúde (SUS), o método atualmente disponibilizado é a glicemia capilar (BGM), consolidado como uma alternativa economicamente mais acessível para grande parte da população. “Concluímos que o acesso é primordial em um país como o Brasil e, por isso, o método de monitoramento glicêmico tradicional é o mais prevalente. No entanto, observamos também um aumento progressivo da adoção do fCGM, principalmente entre pacientes mais jovens”, explica.
Os resultados revelaram que os indivíduos que utilizam o fCGM apresentaram um perfil distinto em relação às características populacionais e aos padrões de tratamento quando comparados aos que monitoram a glicemia por meio do BGM. Observou-se uma proporção significativamente maior de pessoas com DM1 entre os usuários do sistema de monitoramento flash de glicose (fCGM) – 87,6%, em comparação a 12,4% de outros tipos de diabetes, incluindo diabetes tipo 2, LADA e diabetes gestacional -, enquanto entre os usuários de glicemia capilar (BGM), esse índice foi de 67,8% com DM1, contra 32,2% dos demais tipos.
Pessoas que utilizam o fCGM tendem a ser ligeiramente mais jovens, com média de 31 anos, em comparação aos que recorrem ao BGM, cuja média é de 36 anos. Também há uma maior presença masculina entre os usuários de fCGM (41,9%) em relação ao outro grupo (38,6%). Em termos geográficos, o Sudeste prevalece, tendo o fCGM como mais utilizado por pacientes desta região (59,0%) do que o BGM (56,7%).
Além disso, o tempo médio de diagnóstico entre os que utilizaram o sistema flash foi maior: 10,65 anos contra 8,87 anos no grupo BGM. Os usuários do sistema flash também apresentaram uma maior frequência de uso da plataforma digital Glic/Afya e receberam com mais regularidade prescrições de insulina basal de ação ultralonga e insulina bolus ultrarrápida, enquanto o uso de antidiabéticos orais foi menos comum entre esses pacientes.
Diante do avanço contínuo da diabetes no mundo – que, segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF), pode atingir 783 milhões de pessoas até 2045, o debate sobre equidade no acesso às tecnologias de saúde se torna urgente. Para Ricardo Moraes, diretor médico da Glic/Afya, “a autogestão é essencial para o sucesso do tratamento, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil”.
A pesquisa, conduzida em parceria com a plataforma Glic/Afya, analisou dados de 12.727 pacientes até outubro de 2023, com a maioria dos participantes sendo de diabetes tipo 1 (70,5%). Os demais casos foram de diabetes tipo 2 (20,9%), gestacional (4,5%) e autoimune latente (4,1%). O estudo focou em identificar padrões de autogestão e comparar os principais métodos de monitoramento glicêmico, destacando a necessidade de um acesso mais equitativo às tecnologias de saúde para garantir qualidade de vida e autonomia para todos.