Covid-19: que memórias ficarão da próxima pandemia?

Por Luiz Antônio Nasi

Cinco anos se passaram desde os primeiros casos de Covid-19 no Brasil. A vida retomou seu curso, mas para nós, profissionais de saúde, a pandemia não ficou no passado. O vírus segue circulando, evoluindo e desafiando nossa capacidade de resposta. Recentemente, uma nova variante foi identificada em Wuhan, na China, demonstrando que a ameaça persiste e pode exigir novas estratégias de contenção. Somente na segunda semana de janeiro de 2025, o Ministério da Saúde registrou 23.512 novos casos — um dos maiores números dos últimos meses. A percepção de normalidade não pode nos iludir: a doença persiste.

A vacinação nos trouxe uma defesa fundamental, mas ainda estamos longe da cobertura ideal. Enquanto 86,42% da população recebeu duas doses, apenas 19,50% completou o esquema com a quarta dose. Além disso, a vacina mais atualizada permanece restrita a grupos prioritários, deixando parte da população vulnerável. A Covid Longa segue como um desafio à medicina e à qualidade de vida de muitos pacientes, evidenciando que o impacto do coronavírus vai além da fase aguda da infecção.

Na linha de frente, vi de perto a dor e a luta de tantos pacientes e famílias. Mais de 700 mil vidas foram perdidas no Brasil, sem contar os casos subnotificados. As UTIs se tornaram cenários de decisões difíceis, em meio a recursos limitados e profissionais exaustos. Para proteger suas famílias, muitos médicos e enfermeiros optaram por se isolar, abrindo mão do convívio com quem mais amavam. Entre tantas imagens que marcaram esse período, uma das mais fortes foi a de filhos e netos abraçando seus pais e avós através de barreiras de plástico. A tecnologia tentou preencher a distância — vídeochamadas substituíram abraços — mas a ausência de um último toque, um último olhar, tornou a despedida ainda mais dura. Nesse período, tivemos a clara percepção da finitude da vida e da fragilidade da existência humana, uma lição que não pode ser esquecida.

No entanto, também testemunhamos o melhor da humanidade. Em tempo recorde, cientistas desenvolveram vacinas e, com um esforço global sem precedentes, bilhões de pessoas foram imunizadas. No Hospital Moinhos de Vento, nos antecipamos: organizamos fluxos, reestruturamos escalas e nos engajamos em pesquisas fundamentais para entender a doença. Fomos parte da Coalizão Covid, um esforço conjunto entre hospitais brasileiros que ajudou a definir diretrizes de tratamento, contribuindo com evidências científicas de impacto internacional.

Agora, olhamos para o futuro. No Hospital Moinhos de Vento, observamos um aumento nos casos desde outubro do ano passado, com mais de 11 variantes circulantes identificadas pelo Serviço de Controle de Infecção. Esse monitoramento contínuo é essencial para anteciparmos medidas de proteção e mitigação. Não sabemos quando a próxima pandemia chegará, mas sabemos que virá. A gripe aviária, por exemplo, exige atenção devido ao risco de mutações que facilitem sua transmissão entre humanos. Doenças emergentes continuarão sendo uma ameaça, impulsionadas pela globalização e pelas mudanças ambientais. A grande questão é: estaremos preparados?

Se aprendemos algo com a Covid-19, é que não podemos baixar a guarda. Precisamos fortalecer a vigilância epidemiológica, investir em ciência e garantir infraestrutura hospitalar adequada. A preparação não pode ser apenas uma reação ao caos, mas um compromisso contínuo. Além disso, combater a desinformação é essencial. A hesitação vacinal e a negação da ciência foram obstáculos reais na pandemia e podem se repetir no futuro.

Que as memórias da próxima pandemia não sejam de improviso, sofrimento e isolamento, mas de uma resposta rápida e coordenada. Que estejamos mais bem preparados, mais unidos e mais conscientes da responsabilidade coletiva na preservação da saúde pública. A ciência e a solidariedade foram nossas maiores aliadas até aqui — e continuarão sendo nossa melhor defesa contra o desconhecido.


*Luiz Antônio Nasi é Superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento.

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