O papel dos médicos na evolução da medicina digital
Por Allan Conti
Na era da medicina digital, o papel dos profissionais nas mais diversas funções e hierarquias vem sendo redefinido para atender às novas demandas da área. Os médicos, por exemplo, não atuam mais somente no cuidado direto ao paciente, mas tem participação essencial em todos os processos da cadeia de saúde, inclusive na integração de novas tecnologias aos processos clínicos, liderando a exploração do potencial de recursos como a Inteligência Artificial (IA) e soluções de suporte à decisão clínica (SDC).
Isto porque essas ferramentas não promovem mudanças apenas ao aprimoramento dos processos, redução de burocracias e otimização de custos e da mão de obra. A promoção da IA na saúde é responsável por transformações significativas na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, além da qualidade do cuidado ofertado aos pacientes.
A base da prática da medicina, desde seus primórdios, é promover o bem-estar humano. Nesse sentido, o uso adequado da IA na área da saúde tem o poder de reforçar essa premissa, desde que os médicos e demais profissionais sigam no controle das tarefas envolvendo essa tecnologia, e não o inverso.
Atualmente, o uso da Inteligência Artificial já possui aderência considerável por parte das instituições de saúde. Segundo pesquisa desenvolvida pela Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) em conjunto com a Wolters Kluwer, 82,3% das instituições de saúde já disponibilizam algum tipo de recurso ou solução de Inteligência Artificial para práticas ou processos pré-estabelecidos.
Em contraponto, de acordo com a pesquisa, 74,5% dos respondentes apontam que a organização está pouco preparada para aplicar o uso de tecnologias de IA nas áreas clínicas nos próximos 2 anos, o que revela uma lacuna no processo de integração da tecnologia à rotina das instituições de saúde no país.
O papel dos médicos e da BEM
Além do obstáculo mencionado, a confiabilidade dos insights gerados também é um dos fatores decisivos para a adoção da IA na medicina. A confiança dos profissionais na tecnologia depende diretamente de um processo editorial criterioso, que articula ciência, julgamento humano e integridade metodológica a partir da Medicina Baseada em Evidências (MBE).
O envolvimento direto dos médicos na inserção da tecnologia na saúde é essencial para garantir que a digitalização seja mantida centrada no paciente e não focada apenas na eficiência do sistema. Se bem integrada, a IA tem o potencial de ampliar a capacidade de resposta clínica, melhorar a relação médico-paciente e ajudar a criar um sistema de saúde mais eficiente e orientado para o ser humano, mas isso depende substancialmente da inclusão do médico neste processo.
A compreensão da jornada do paciente, combinada com as habilidades e a proficiência em IA, pode definir soluções escaláveis, eficazes, sustentáveis e adaptadas ao mundo real, além de protocolos de uso racional e equilibrado do recurso tecnológico, com base nas evidências médicas mais atualizadas disponíveis.
Diante disso, a Inteligência Artificial, alinhada à utilização de soluções de SDC e da MBE, apresenta um grande potencial para alavancar a prestação de cuidados de saúde, principalmente estando integrada à prática clínica por médicos que entendem por completo as novas demandas da medicina digital, sem deixar de lado o bem-estar e o cuidado prestado aos pacientes.
*Allan Conti é Diretor Comercial da Wolters Kluwer Health no Brasil.
