Desafios da evolução da medicina oncológica e personalizada
A ideia de que o câncer já não pode ser tratado como uma só doença é um entendimento comum dentro da medicina oncológica. As últimas décadas aceleraram o ritmo das investigações na área e mostraram que uma abordagem mais centralizada na genética do paciente e do seu câncer, como parte fundamental do diagnóstico, é crítica para potencializar a resposta ao tratamento, aumentar a sobrevida em todos os estágios da doença e otimizar os resultados de saúde e custos, oferecendo o tratamento certo para cada paciente.
A medicina personalizada ou de precisão é uma abordagem que permite compreender geneticamente quais terapias têm mais probabilidade de ajudar o paciente, além de possibilitar a adaptação de tratamentos para alcançar alterações genéticas específicas na doença do indivíduo e minimizar as chances de manifestarem efeitos adversos ou toxicidade.
Dois pacientes que recebem o mesmo diagnóstico não terão o mesmo prognóstico, já que a genética, o ambiente e o histórico de saúde, tratamentos e procedimentos impactam a natureza e o desenvolvimento do câncer. Diante disso, é fato que uma abordagem “receita de bolo” não é suficiente.
Apesar de assertiva, a abordagem da medicina personalizada pode ser ambígua: à medida que mostra um caminho objetivo a ser seguido no manejo do câncer, também revela barreiras para a democratização do tratamento. Os avanços tecnológicos seguem, mas a disparidade socioeconômica torna o cenário mais complexo.
Lidar com as complexidades impostas pelas barreiras técnicas e financeiras exige uma abordagem ampla e colaborativa. Como resposta ao problema, é necessário apostar na união de expertises e setores, tanto para o desenvolvimento de novas terapias quanto para a implementação de projetos que tenham potencial de viabilizar o acesso dos pacientes às inovações.
Guiada por esse pilar, a Merck realiza globalmente parcerias que exploram a capacidade de novas ferramentas e mecanismos para redefinir o cuidado com o paciente e gerar novas soluções em saúde. Exemplos dessa atuação são as alianças anunciadas recentemente com a BenevolentAI e a Exscientia, empresas especializadas na utilização de inteligência artificial para a descoberta e produção de novos medicamentos em oncologia, imunologia e neurologia.
Outra linha de trabalho têm sido o fomento de procedimentos menos invasivos, como a biópsia líquida, método que analisa a presença de biomarcadores tumorais por meio de uma simples amostra de sangue, garantindo mais conforto e praticidade do que uma amostra tecidual.
A maximização do acesso de pacientes a tratamentos – principalmente para mulheres, crianças e aqueles que possuem necessidades ainda não atendidas –, é um compromisso que guia nossa atuação diariamente, mas é fundamental que a criação de políticas públicas, protocolos e diretrizes acompanhem o avanço científico e viabilizem a disponibilização de tais inovações.
O avanço biotecnológico e abordagens como a medicina personalizada representam uma fase nova e promissora para o tratamento oncológico. Apesar de nos depararmos com algumas barreiras no caminho, é inegável que estamos construindo uma era transformadora e de esperança tangível para o manejo do paciente com câncer.
*Maria Augusta Bernardini é Diretora Médica da Merck Brasil.