Medicina nos EUA: o que médicos brasileiros precisam saber?
Por Rafael Duarte
Quando exploramos as oportunidades profissionais envolvendo a área da saúde fora do Brasil, uma conclusão é inegável: os Estados Unidos emergem como um dos destinos mais promissores. Várias razões contribuem para essa notoriedade. Em primeiro lugar, o cenário permanece altamente favorável para médicos. Uma estimativa recente da Associação Americana de Hospitais (AHA) sugere que os EUA podem enfrentar uma escassez de aproximadamente 124 mil profissionais até 2033.
Além disso, a diferença salarial é outro ponto-chave. De acordo com dados da plataforma Glassdoor, norte-americanos desfrutam de uma média salarial de US$ 32.177 por mês, o equivalente a cerca de R$ 160 mil, contrastando com a média salarial de R$ 30 mil dos brasileiros. Esta disparidade se torna ainda mais flagrante quando se leva em consideração o poder aquisitivo do dólar, as taxas de juros mais baixas e a disponibilidade de ensino público integral e de qualidade para os filhos, o que representa um alívio significativo no que tange às elevadas mensalidades cobradas por escolas de excelência no Brasil.
Nos Estados Unidos, um médico integra o estrato dos 5% mais abastados da população, o que lhe confere uma segurança financeira singular, a ponto de torná-lo elegível para financiamentos imobiliários sem necessidade de entrada. Este poder aquisitivo se estende a outros bens, destacando-se que, quanto maior é o Credit Score (pontuação que avalia o histórico de pagamento de um indivíduo) nos EUA, menores se tornam as taxas de juros aplicáveis a diferentes modalidades de financiamento.
Diante do cenário econômico e político conturbado dos últimos anos no Brasil, a procura pela validação do diploma por meio do USMLE (United States Medical Licensing Examination) tem sido cada vez maior. Uma recente transformação legislativa no estado do Tennessee, oficializada em maio deste ano, tem sido motivo de entusiasmo entre especialistas e profissionais da área médica. As mudanças introduzidas prometem facilitar consideravelmente o processo para médicos estrangeiros que desejam exercer sua profissão em território americano. Anteriormente, mesmo com toda a formação e experiência acumuladas, esses profissionais se viam obrigados a cumprir entre três e sete anos de residência médica nos Estados Unidos.
Com a nova legislação, essa exigência foi substituída pela necessidade de aprovação em provas de revalidação, eliminando a obrigatoriedade de refazer a residência médica. Contudo, é importante ressaltar que, apesar da flexibilização, o sistema ainda está se ajustando a essas novidades, e algumas incertezas permanecem quanto à implementação prática dessas regras, que entrarão em vigor a partir de junho de 2024. Sob o novo regime, médicos estrangeiros terão a oportunidade de praticar medicina sem refazer a residência médica nos EUA, mas estarão sujeitos a um período supervisionado de dois anos antes de serem liberados para o exercício pleno da profissão no estado do Tennessee. Para os médicos especializados do Brasil, uma alternativa promissora pode ser a qualificação para o green card, processo que pode ser realizado de forma independente com o suporte de um advogado. Essa nova perspectiva se abre em um momento em que os Estados Unidos enfrentam uma expressiva carência de médicos, criando uma atmosfera otimista quanto à expansão desse modelo para outros estados, caso se comprove eficaz. Este cenário representa uma luz no fim do túnel para os médicos brasileiros, que agora têm à disposição um caminho potencialmente mais acessível para validar seus conhecimentos e habilidades e praticar medicina nos Estados Unidos.
As especialidades mais abertas aos médicos formados fora dos EUA e com maior número de vagas no país são: medicina interna, pediatria, medicina de família, neurologia e patologia. Também costuma ser relativamente comum, embora mais concorrido, brasileiros irem para os Estados Unidos para atuar em cirurgia geral e anestesiologia.
Vale ainda ressaltar que há um caminho para especialistas que pretendem ir para o país para se especializar. Trata-se de um programa chamado Clinical Fellowship. Existem algumas especialidades, como a radiologia, em que o profissional valida o diploma e pode seguir para essa iniciativa, conquistando certificado na área, sem precisar cursar residência mais uma vez.
Entretanto, ingressar em uma carreira médica nos Estados Unidos tem os seus desafios. Além dos requisitos de certificação e licenciamento, os estrangeiros devem enfrentar a adaptação a um ambiente de saúde repleto de diretrizes e regulamentos diferentes. Isso implica a necessidade de proficiência na língua inglesa, com domínio dos termos técnicos.
Considerar a diversidade local e linguística, portanto, torna-se um ponto crucial, uma vez que os Estados Unidos abrigam uma população heterogênea e multicultural.
*Rafael Duarte é CEO da RD Medicine.