Medicina do espetáculo coloca em xeque a ética médica
A medicina do espetáculo ganhou mais um capítulo polêmico. Na semana passada, duas médicas viralizaram no TikTok após postarem um vídeo ironizando o caso de uma paciente que passou por três transplantes de coração. O conteúdo, que alcançou milhares de visualizações em poucas horas, foi amplamente criticado por especialistas e usuários nas redes sociais, e levantou o debate sobre a exposição do paciente e a ética profissional.
De acordo com o advogado Rafael Robba, sócio do escritório Vilhena Silva Advogados, especializado em direito à saúde, a forma como o vídeo foi produzido e compartilhado escancarou uma prática cada vez mais comum entre médicos nas redes sociais. Para ele, a cena acendeu alertas sobre o desrespeito ao sigilo profissional, à dignidade do paciente e à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
“Um paciente vulnerável, em situação crítica de saúde, não está em plena capacidade de consentir com algo que pode ser explorado publicamente e fora de contexto”, afirma Robba. Ele ressalta que a LGPD protege não apenas a imagem, mas também qualquer informação que possa identificar o paciente, como foi o caso.
A busca por likes, seguidores e prestígio digital tem transformado médicos em influenciadores. “Mas nem todos estão preparados para lidar com essa visibilidade sem ultrapassar os limites éticos. É uma nova geração de profissionais que, ao mesmo tempo em que tem facilidade com as redes, ainda precisa entender a profundidade da responsabilidade médica. Quando o entretenimento passa a ditar a conduta clínica, há um grave problema de valores”, analisa Robba.