Os benefícios e os impactos dos medicamentos biossimilares
Por Marcel Zetun
A adoção de medicamentos biossimilares no Brasil representa uma oportunidade significativa para melhorar o acesso da população a tratamentos de saúde mais complexos e com muita inovação a bordo, ao mesmo tempo em que promove a sustentabilidade financeira do Sistema Único de Saúde (SUS) e das operadoras de saúde suplementar. Esses medicamentos, que são versões mais acessíveis de produtos biológicos inovadores, têm o enorme potencial de reduzir custos, ampliar a oferta de terapias avançadas e aliviar a pressão sobre o SUS, beneficiando os seus usuários, e os de planos de saúde privados.
Os medicamentos biossimilares são produtos biológicos desenvolvidos após a expiração da patente de um medicamento biológico inovador, também conhecido como originador. Eles são produzidos a partir de organismos vivos e possuem eficácia, segurança e qualidade comparáveis ao produto original, embora não sejam idênticos. Enquanto o biológico inovador é o primeiro a ser desenvolvido e patenteado, os biossimilares são aprovados com base em estudos que demonstram sua equivalência terapêutica. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamenta e aprova o registro desses medicamentos, garantindo que atendam aos rigorosos padrões de qualidade e segurança necessários para seu uso pela população.
Um dos principais benefícios dos biossimilares é o seu custo significativamente menor em comparação aos medicamentos biológicos inovadores. Estudos publicados no Jornal Brasileiro de Economia da Saúde indicam que programas bem conduzidos de substituição de medicamentos de marca por biossimilares podem gerar economias superiores a 50%. Essa redução de custos é especialmente relevante para o SUS, que enfrenta desafios crônicos de financiamento e demanda crescente por tratamentos de alto custo.
Com a adoção de biossimilares, o SUS pode ampliar o acesso a terapias avançadas para doenças complexas, como câncer, doenças reumatológicas e condições autoimunes, como a doença de Crohn. Um exemplo emblemático é o infliximabe, um biossimilar utilizado no tratamento dessa doença, que afeta entre 6 e 8 milhões de pessoas em todo o mundo. O custo desse medicamento é cerca de 50% menor que o do originador, o que permite que mais pacientes tenham acesso ao tratamento.
Além disso, a redução de custos também beneficia as operadoras de saúde privada, que podem repassar essas economias aos consumidores na forma de mensalidades mais acessíveis. Isso não apenas melhora a competitividade do setor, mas também reduz a pressão sobre o SUS, já que menos pessoas precisariam migrar para o sistema público em busca de tratamento.
A adoção de biossimilares tem um impacto positivo direto na economia brasileira. Ao reduzir os custos com medicamentos, o governo pode realocar recursos para outras áreas prioritárias da saúde, como infraestrutura hospitalar, prevenção de doenças e capacitação de profissionais. Além disso, a maior disponibilidade de tratamentos acessíveis pode melhorar a produtividade da população, já que pacientes com doenças crônicas ou graves terão mais chances de manter uma vida ativa e saudável.
No setor privado, a redução de custos com medicamentos pode estimular a concorrência e a inovação, incentivando o desenvolvimento de novos biossimilares e a expansão do mercado farmacêutico nacional. Isso pode atrair investimentos e gerar empregos em áreas de pesquisa e desenvolvimento, fortalecendo a indústria brasileira de biotecnologia.
Embora a adoção de biossimilares ainda esteja em desenvolvimento no Brasil, o potencial de crescimento é enorme. Nos EUA, na União Europeia e no Japão, a utilização de biossimilares já atinge cerca de 70% no tratamento de câncer e 23% em imunologia. O Brasil ocupa a 4ª posição nesse ranking mundial, reduzindo gastos em saúde, mantendo a qualidade da entrega de tratamento clínico esperada ao paciente e garantindo o aumento de acesso a tratamentos de qualidade. Isso é excelente e tende a se manter nesse patamar, porém com maior impacto pela rápida adoção dos biossimilares pelo SUS, mais veloz até do que no mercado privado.
Para que o Brasil alcance patamares como os de EUA, União Europeia e Japão, é fundamental investir na disseminação de informações sobre a segurança e eficácia dos biossimilares entre médicos e pacientes. A quebra de paradigmas e a confiança na qualidade desses medicamentos são essenciais para que a população brasileira possa usufruir de todos os seus benefícios. Acredito que o Brasil pode avançar ainda mais rapidamente com um processo de aprovação regulatória mais ágil. Médicos e pacientes precisam ser incluídos nessa discussão para criarmos uma consciência coletiva da importância de biossimilares para se aumentar acesso a terapias já existentes e comprovadamente eficazes, e abrir espaço para as novas tecnologias.
Para superar a barreira da desconfiança entre médicos em relação aos biossimilares, é essencial promover campanhas de conscientização e educação junto a esse público, destacando os rigorosos processos de aprovação da Anvisa e os estudos que comprovam a equivalência terapêutica dos biossimilares. Além disso, programas de incentivo à produção nacional de biossimilares também poderiam fortalecer a indústria local e reduzir a dependência de importações, abrindo ainda um grande mercado de trabalho.
Os medicamentos biossimilares representam uma oportunidade única para o Brasil melhorar o acesso a tratamentos de saúde de qualidade, reduzir custos e promover a sustentabilidade financeira do SUS e das operadoras de saúde privada. Com políticas adequadas e um esforço conjunto entre governo, setor privado e profissionais de saúde, o país pode aproveitar ao máximo os benefícios desses medicamentos, garantindo um impacto positivo na economia e na qualidade de vida da população. A adoção de biossimilares não é apenas uma questão de economia, mas também de equidade e justiça social, permitindo que mais brasileiros tenham acesso a terapias avançadas e a um sistema de saúde mais eficiente e inclusivo.
*Marcel Zetun é diretor de biossimilares da Organon.