Para SBM, realização de mamografias ainda “patina” no Brasil
Há décadas a realização da mamografia é motivo de preocupação dos mastologistas e pesquisadores da Sociedade Brasileira de Mastologista (SBM), pois se trata do exame mais eficaz para o diagnóstico precoce do câncer de mama. Historicamente, o Brasil se mantém abaixo dos 70% de cobertura populacional, preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Durante a pandemia o índice tem sido ainda menor e continua aquém do recomendado.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, em 2021 foram realizadas pouco mais de 1,675 milhão de mamografias no Brasil, na faixa etária de 50 a 69 anos, no sistema público. Estes números ainda são 15% abaixo do habitual, mas mostram alguma recuperação em relação a 2020, quando foi registrada uma queda de mais de 40% na realização do exame.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Vilmar Marques, o levantamento, coordenado por Jordana Bessa, reforça a legitimidade do sinal de alerta sobre o impacto da pandemia no rastreamento periódico das mulheres bem como no tratamento das pacientes de câncer de mama, pois a doença não espera e em muitos casos se apresenta em estágio avançado. “A mamografia é primordial e, infelizmente o acesso ainda é um gargalo no Brasil, tendo obstáculos diversos de acordo com a região do país”, afirma o presidente, acrescentando que há locais que tem mamógrafos inoperantes, em outros tem mamógrafos, mas não tem quem os opere, em outros a distância entre pacientes e onde eles estão é um fator complexo, entre outras dificuldades.
Além dos números totais, o estudo identificou ainda aumento da proporção de pacientes com exames atrasados em 2021, com quase um terço tendo realizado sua última mamografia há mais de três anos. Como no ano anterior (2020), repetiu-se o aumento no número de pacientes com nódulos palpáveis ao exame físico. O levantamento mostrou também que há uma tendência notável para o aumento da triagem para pacientes de alto risco, com história familiar ou pessoal de mama. Para a entidade, priorizar os indivíduos de alto risco é uma estratégia para diminuir o impacto da pandemia, já que a maioria dos resultados anormais de mamografia são encontrados neste grupo.
Para a entidade, uma das prioridades (se não a maior) para o Brasil é um atendimento rápido, de forma que pacientes com nódulos palpáveis ou resultados anormais de mamografia possam ter acesso fácil à biópsia e ao início do tratamento. Por isso, a SBM acaba de apoiar, junto com outras entidades, o lançamento de um Guia de boas práticas em navegação de pacientes com câncer de mama no Brasil, orientando a população e até autoridades sobre os melhores caminhos para o tratamento da doença no país. “Proporcionar um caminho adequado para a paciente em tratamento é fundamental”, afirma Vilmar, que também reforça que a Sociedade Brasileira de Mastologia preconiza a realização da mamografia anual em todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade, pois esse é o melhor caminho para identificar a doença e o diagnóstico precoce salva vidas.
O levantamento teve como base o número de mamografias realizadas pelos serviços públicos de saúde em todo o Brasil, disponibilizados pelo DATASUS, banco de dados de acesso aberto. O levantamento comparou o número de mamografias realizadas entre 2019 e 2021, em mulheres com idade entre 50-69 anos. Mamografias de instituições privadas não foram incluídas.