Investimentos em estudos clínicos custarão 300 milhões para empresas de cannabis medicinal
Em um movimento estratégico para consolidar o mercado regulado de cannabis medicinal no Brasil, a Anvisa aprovou recentemente a Análise de Impacto Regulatório (AIR), essencial para a revisão da RDC 327/19. A medida visa priorizar a comercialização de produtos de cannabis nas farmácias e drogarias sujeitas à vigilância sanitária, em detrimento dos produtos importados pela RDC 660/22 ou manipulados precariapmente por associações de pacientes.
No entanto, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRCANN), como contrapartida as industrias farmacêuticas do setor terão que investir cerca de 300 milhões de reais em estudos clínicos para comprovar a eficácia e segurança dos produtos de cannabis.
“Trata-se de uma exigência regulatória para que sejam qualificados como medicamentos, tenham seus preços regulados pela Câmara de Medicamentos (CMED) e, eventualmente, incluídos na CONITEC”, explica a diretora executiva da entidade, Bruna Rocha.
Até o momento, a Anvisa já emitiu 39 autorizações sanitárias para produtos de cannabis no contexto da RDC 327/19, dos quais 26 estão efetivamente no mercado. No entanto, existem 41 autorizações sanitárias aguardando aprovação da Anvisa para novos produtos de cannabis que serão vendidos nas farmácias.
“Se todas essas autorizações forem concedidas e houver ampliação no número de players no mercado, o valor dos investimentos podem até dobrar”, pontua Rocha.
Nos últimos 12 meses, as vendas de produtos de cannabis movimentaram R$ 170,2 milhões, com 438 mil unidades vendidas e 95 mil pacientes atendidos.
Apenas entre janeiro e abril de 2024, foram comercializados 165,8 mil unidades, um aumento de 96% em relação ao mesmo período do ano anterior. A projeção do faturamento do setor para o ano de 2024 ultrapassa a marca de R$ 250 milhões.
Esses dados, fornecidos pela consultoria IQVIA, especializada em monitoramento de vendas no varejo farmacêutico, sublinham o crescimento acelerado do setor, além de refletirem a crescente aceitação e demanda por produtos regulamentados pela Anvisa em detrimento dos importados.
Um mercado em transformação
O mercado brasileiro de cannabis medicinal vive um momento de transição significativo. Nos últimos dois anos, houve uma desaceleração nas importações, enquanto as vendas nas farmácias mais que dobraram ano a ano.
O crescimento deste mercado regulado impulsionou a concorrência e o consumo local, resultando em uma redução contínua nos preços dos produtos de cannabis disponíveis nas farmácias do país. Ao mesmo tempo, observou-se uma queda histórica de 25% no valor médio dos produtos nos últimos três anos.
“Estes investimentos também são uma estratégia essencial para liderar um mercado em expansão. Isso também proporcionará produtos seguros e eficazes aos pacientes, ao mesmo tempo em que reduzirá a circulação de mecanismos alternativos não regulados no Brasil”, explica.