Inovações na saúde que prometem resolver as ineficiências do setor

Por Mariana Paixão

No último ano, a população brasileira ultrapassou a marca de 203 milhões de pessoas que, infelizmente, vivem em um cenário no qual a espera por atendimentos médicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser longa, conforme o censo do IBGE de 2022. A média do tempo de espera para se consultar com um especialista é de seis meses. E esse não é apenas um problema para quem depende do sistema público. Segundo um levantamento feito pelo Ipec, para 44% dos entrevistados que possuem um plano particular, o tempo de um mês de espera por consultas do convênio é o principal motivo de reclamação dos usuários. Uma possível solução para esses casos que exigem agilidade é o Pronto Atendimento dos hospitais, o que, normalmente, é sinônimo de um dia perdido para os pacientes, que, muitas vezes, saem da consulta sem um diagnóstico preciso.

Os altos preços ou a cobertura restrita de alguns planos privados também se tornam uma barreira para o cuidado com a saúde. De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), somente 50,2 milhões de pessoas tinham plano de saúde até março de 2023, sendo que cerca de 82% delas estavam vinculadas a planos coletivos, que tiveram aumentos duas vezes maiores que os individuais nos últimos cinco anos.

Após a pandemia de Covid-19, o conceito da cultura da prevenção ganhou destaque, representando um conjunto de ações e comportamentos a fim de evitar complicações futuras, dentre elas, a realização de exames médicos periódicos. No entanto, o brasileiro ainda carrega o perfil de postergar ao máximo o cuidado com sua saúde e, normalmente, isso acarreta o surgimento de mais demandas urgentes de atendimento. Esse fator impacta não só nas longas filas, mas também na sustentabilidade dos planos de saúde.

Então, como resolver essa lacuna que ilustra a realidade da área médica brasileira? Na minha visão, a solução está nas novas alternativas de cuidado da saúde, que utilizam a integração da tecnologia no dia a dia de trabalho de todos os profissionais do campo. Seja para acompanhar indicadores de monitoramento ou auxiliar na gestão de agendamentos, oferecendo ferramentas que encurtem a distância entre paciente e médico, consequentemente, melhorando a ineficiência da esfera.

Se olharmos do ponto de vista científico, a medicina já inova há muito tempo, com pesquisas e novas descobertas, porém, quando falamos em operação, isso ainda é muito engessado. Logo, a expansão tecnológica se torna promissora, como, por exemplo, o uso de inteligência artificial (IA) e machine learning, que podem ser preditivos a partir da análise de dados. Número de pacientes, horários de picos, recorrência… todas essas informações são importantes para determinar o fluxo da agenda do profissional, para que tanto a clínica quanto o especialista possam estar focados na qualidade do atendimento, algo primordial quando falamos de saúde.

Fora isso, as inovações propostas nestas novas alternativas também se concentram na personalização dos cuidados, que tem um futuro próspero. Para ilustrar, a jornada de quem procura assistência para o tratamento de um quadro infeccioso agudo deve ser diferente de quem busca orientação nutricional. Na primeira condição, a pessoa pode estar em crise, ocasionando em um atendimento urgente. Já no segundo, é o começo de uma jornada preventiva, isto é, precisa ter uma atenção contínua.

No geral, esse panorama busca resolver o alto tempo de espera de consultas de especialidades, além de diminuir a desigualdade da qualidade do cuidado, garantindo mais acesso à saúde, de forma eficiente e inclusiva. Vejo que, ao removermos essas barreiras, buscar atendimento médico deixa de ser uma dor de cabeça, estimulando o cuidado preventivo.

Para finalizar, trago um estudo, de 2020, conduzido pela Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), nos Estados Unidos, que mostra que pacientes que recebem um atendimento de alto padrão têm mais probabilidade de seguir as recomendações médicas e de relatar experiências positivas com o sistema de saúde. Ou seja, há mais chances da pessoa aderir ao tratamento quando ela se sente ouvida e compreendida pelo especialista. Isso mostra que uma boa experiência, atrelada ao dinamismo e qualidade, impacta o mercado não apenas do âmbito social (os usuários), mas para os profissionais, que colaboram para um fluxo diferente de atendimento, atingindo positivamente o sistema.

Acredito que os próximos anos serão muito animadores e, finalmente, veremos o sistema de saúde brasileiro, tanto público quanto privado, entrar em uma onda de evolução que outros setores — como o financeiro, com as fintechs — já protagonizaram. Sinto que esse é o primeiro passo para transformar a jornada de cuidados com o bem-estar no Brasil.


*Mariana Paixão é cofundadora e CEO da Melvi.

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