Inovação em modelo de negócio, a transformação da saúde brasileira
Por Diana Jardim
Inovação em modelos de negócios envolve a criação ou transformação das maneiras pelas quais uma organização cria, entrega e captura valor. Diferente da inovação de produto ou processo, que se concentra em melhorias específicas ou na eficiência operacional, a inovação em modelo de negócio abrange mudanças fundamentais na operação e geração de receita de uma empresa. Essas mudanças podem impactar todo o ecossistema, sendo disruptivas para setores tradicionais, redefinindo expectativas dos consumidores, transformando relacionamento com parceiros e alterando formas de consumo e concorrência.
Exemplos notáveis incluem o Uber e o Airbnb, que criaram plataformas conectando fornecedores e consumidores diretamente, eliminando intermediário. Netflix e Spotify popularizaram o acesso contínuo a música e vídeos por uma assinatura mensal. Bancos digitais como o Nubank eliminaram agências físicas, oferecendo serviços online para abrir contas, solicitar cartões de crédito e realizar transações, eliminando burocracias, simplificando processos e em alguns casos, zerando tarifas.
A inovação em modelos de negócio, pode ser uma estratégia de competitividade, permitindo que empresas se diferenciem em mercados saturados e se adaptem a mudanças rápidas. Ela também pode abrir novas oportunidades de mercado, ampliar a base de clientes, melhorar a eficiência operacional e a otimizar recursos.
Aplicação na Área de Saúde
Na saúde, a inovação em modelos de negócio pode ser a diferença entre um sistema sobrecarregado e um que oferece cuidado de alta qualidade e acessível. Em um cenário de custos crescente e desafios regulatórios, fraudes e desperdícios, a auditoria, negociação e glosas não alcançam mais os resultados necessários para sustentabilidade do setor, principalmente, se pensarmos que a saúde das pessoas deveria ser o foco.
Estratégias como o Value-Based Health Care (VBHC), coordenação do cuidado, prevenção de doenças e promoção de saúde através do autocuidado apoiado, têm sido testadas, e em algumas empresas, como na Unimed Porto Alegre, já estão em estágio de escalabilidade, entendendo que é apenas o início da mudança na forma de oferecer e consumir saúde suplementar no Brasil.
“Viver Bem Juntos” é o nome da jornada de cuidado do cliente Unimed Porto Alegre, promovendo saúde integral e melhorando a qualidade de vida. Não é “apenas” um programa de promoção de saúde, mas uma aplicação que mapeia perfis e hábitos de vida, utilizando algoritmos de machine learning para sugerir trilhas de cuidado. Isso empodera os clientes com ações e informações para gerenciar sua saúde. Usuários com doenças crônicas são automaticamente convidados linha de Cuidado com planos individualizados à sua condição, assim como idosos, gestantes e mamães de crianças com até 24 meses. A operadora também oferece acompanhamento para clientes com Transtorno do Espectro Autista e pessoas em cuidados continuados, com apoio multidisciplinar em várias fases da vida. É a tecnologia aliada à humanização, para um cuidado assertivo e personalizado.
Evolução e Impacto
Mas tudo isto não surgiu ontem! Assim, como os exemplos de modelo de negócio famosos, a evidência e exponencialidade levou anos, alguns até décadas! É importante contar a história de solidez e crescimento desta solução inovadora da Unimed Porto Alegre. Em 2021 começou-se a desenvolver programas de navegação de alguns clientes em situação crítica de saúde. O modelo foi consolidado e automações testadas, aumentando de 3 mil vidas para 10 mil vidas navegadas em 2023, e este ano, atingindo quase 30 mil vidas. A integração tecnológica permite essa escala, e logo toda a base de mais de 650mil clientes estará embarcada no novo modelo assistencial, transformando a forma de oferecer e consumir saúde suplementar no Brasil, muito além do modelo tradicional baseado em autorizações e tratamentos de doenças!
Em 2023, a Unimed Porto Alegre criou o Escritório de Valor em Saúde, acelerando soluções inovadoras para melhores desfechos, considerando a camada mais profunda na perspectiva da experiência do paciente em sua trajetória e contexto de dor. Liderando a cocriação a cocriação de um ecossistema baseado no VBHC, a operadora engaja diversos profissionais e rede prestadora para promover uma cultura de transparência e confiança, com resultados mensuráveis e excelência no cuidado.
Transformação das Operadoras de Planos de Saúde no Brasil
Obviamente que existem startups e outras operadoras de planos de saúde atuando com lógica similar, alguns exemplos são as plataformas de telemedicina, as clínicas populares, as inteligências artificias para predição de doenças, os wearables que monitoram atividades físicas ou sinais vitais. Entretanto, parecem ações isoladas. Para uma transformação efetiva, é necessária a mudança cultural e estrutural abrangendo operadoras de planos de saúde, empresas, hospitais, clínicas, profissionais de saúde e a população como um todo.
A mudança de mentalidade, saindo do foco exclusivo em custos para resultados e qualidade do cuidado, é crucial. Agir para evitar doenças, traçando estratégias para redução da jornada de diagnóstico e tratamento, é o caminho. Adoção de sistemas de informação robustos e integrados, interoperabilidade de dados, e capacitação dos profissionais de saúde para novas práticas e tecnologias, são fundamentais. Por último, mas não menos importante, é imprescindível fazermos parcerias estratégicas, em uma lógica de inovação aberta, cocriando com provedores de saúde, governos e outras partes interessadas para criar um ecossistema de saúde mais integrado, eficiente e com o paciente no centro.
A inovação em modelo de negócio é uma abordagem poderosa para transformar organizações e setores inteiros, promovendo a criação de valor sustentável e adaptabilidade em um ambiente dinâmico. E apenas desta forma, a tão sonhada transformação disruptiva do setor de saúde brasileiro, resiliente a longo prazo, será alcançada.
*Diana Jardim é Gerente de Inovação da Unimed Porto Alegre.